POR CARLOS SENA (*)
Procurado por uma jovem, ouvi dela essa
confissão: “estou muito decepcionada com os homens, pois só querem se
aproveitar da gente”! Respondi que não achava isso, mas ela se espantou. Tentei
lhe explicar, colocando que ela invertesse parte do seu depoimento, ou seja,
que ela também se aproveitasse dos homens; que ela tentasse não se deixar levar
demais por um romantismo inexistente. Ela insistiu: “mas, eu não consigo ser
diferente!”. Retruquei: pois você vai ter que ser diferente sem deixar de ser
igual. Por que você não faz uma “produção independente”, pois quem sabe assim
você cumpre o seu desejo de ser mãe e se exercita no aproveitamento dos homens,
utilizando eles para “fazer um filho em você”? Afe Maria, não consigo nem
pensar nisso, respondeu a jovem! Como se vê você está em uma encruzilhada meio
sem sentido pra quem tá de fora, mas com todo sentido pra quem tá de dentro
como você. E prossegui a prosa, mostrando que a gente tem que ver a vida no seu
sentido mais prático e tentar, na medida do possível, quebrar certos paradigmas
machistas ou feministas acerca das relações. Porque tudo se passa, entre dois
amantes, na forma como se pactua, mesmo considerando que os pactos poderão ser
rompidos. Porque o ritmo das relações é dinâmico e tudo pode acontecer,
inclusive nada. Pode acontecer um grande amor entre duas pessoas que se
conheceram e pactuaram apenas “ficar” e o contrário, não necessariamente nessa
ordem.
Perguntei se “por que não matas
tua mãe”? A jovem quase pirou. “Tá doido, como vou fazer isso com minha mãe?”
Expliquei: segundo um renomado psicanalista, “a maioria das mães é mais
perigosa do que um arsenal de armas atômicas” – algo mais ou menos assim. No
contexto afetivo em questão, a mãe da moça era mesmo isso, ou seja, um arsenal
de armas atômicas que explodia todo instante naquela moça sob forma de
cobranças anacrônicas acerca de um homem perfeito para a filha e coisas do
gênero. Depois da explicação as coisas ficaram melhor na cabecinha dela, mas
não o suficiente para que essas questões fossem melhor assimiladas. Mesmo
porque isso não acontece de um minuto para o outro. No final da prosa, a jovem
e bela garota foi embora, certamente com o juízo a mil. E eu, por minha vez,
fiquei matutando na questão dos valores e dos conceitos que, mesmo destes
tempos tão frouxos ainda continuam mexendo com várias pessoas. Mas, o que mais
me deixou pensativo foi a questão do uso ou do não uso pelos homens. Porque
muitas mulheres assim também pensam, ou seja, acham que quando os homens ficam
com ela e no outro dia não dá “liga”, ele é safado e aproveitador. Penso
diferente: quem não quer se molhar não vai pra chuva. No dia em que as mulheres
começarem a “usar” os homens, certamente serão eles que se sentirão com vontade
de coisa séria com elas. Ou não? Porque do mesmo jeito que a “abelha sente
prazer em sugar o mel da flor a flor sente prazer em ser sugada pela abelha”...
Ah, mulheres abelhudas, melhor aprender com elas, as abelhas..
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 29/12/2013
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