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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Os vários tipos de homem dentro do preconceito.




Por Carlos Sena (*)

O politicamente correto, nem sempre correto é. Muitas vezes se transforma em "curreto". Porque várias pessoas adoram estar na onda, ser moderninha. Mesmo em questões em que o mais importante não é o "da boca parara dentro, mas o da boca pra fora" -  quando pessoas por dentro são preconceituosas, mas por fora se traem no verbo contraditado pela falta de sentimento legitimo. É o caso específico da questão homossexual, gay como se costuma dizer na prática. Todo mundo diz aceitar os gays e até há os que aceitam, principalmente se for na família dos outros. Com ranço, mas aceitam, porque o processo de depuração do preconceito é secular. Aqueles cujo ranço é maior, certamente entornam o "caldo" quando se encontram com um familiar assumidamente gay, ou ainda dentro do armário. Há intelectuais à beça nesse rol. Porque fica claro que boa parte deles não avançou no quesito "compreender os comportamentos diferenciados". Pelo contrário. Utilizam de campos teóricos perfeitos para enquadrar gays em parâmetros que ajudam aos leigos piorarem suas convicções homofóbicas. Menos mal é quando muitos gays não se deixam levar por essas intimidações. No geral eles (os gays) buscam compreender seus comportamentos diferenciados talvez para se proteger e ajudar aos de boa vontade a não dissimular ainda mais o preconceito.

Parece que a lógica do politicamente correto leva muitos ao deboche disfarçado. Atrelar os gays a sentimentos  "afrescurados" certamente é um desses momentos. Subestimar a "classe" enquadrando-a em clichês preconceituosos, como se corretos fossem é, sobremaneira mais um preconceito. Algo como dizer de um negro ser ele "negro de alma branca" imaginando estar dentro do politicamente correto e tendo a pachorra de achar que o negro não vai se doer.

Dito diferente: Gays tem trejeitos e não gays também. Gays se divertem dos seus jeitos e não gays também. Gays trabalham, amam, se emocionam. São frágeis, mas há os qua são fortes iguaizinhos aos não gays. Porque no fundo, mesmo no fundo independente do fiofó, todos são seres. São gentes de cara coração e dentes.

Muitos dos que se dizem heteros instigam os gays com alfinetadas debochantes  imaginando que não ofendem porque os gays a quem alfinetam são assumidos. Engano. Os assumidos se ofendem mais porque tiveram a coragem de ser homem em seu sentido maior. E, em sendo assim, não se permitem a certas alfinetadas em nome de que nada lhes afeta mais. Eles, os não gays que usam e abusam dessas artimanhas muitas vezes se encobrem dentro delas. Ou não? Porque senão que sentido teriam eles, os não gays, em fazer esse tipo de preleção? Sendo prático: quanto mais gays houver mais mulher sobrará para os não gays. Então por que tanto preconceito da machadada? Talvez se trate mesmo de questões entre os que estão dentro do armário e os que dele já saíram. Porque os não gays de verdade jamais se sentem ameaçados pelos gays. Eles se garantem e convivem muito bem com os gays. Tenho usado as expressões "gays e não gays" simplesmente porque se trata de homens. Na minha concepção há vários tipos de homens: os que gostam de mulheres (90%); os que gostam de outros homens (10%); os total flex; os que dizem isso ou aquilo para não revelar suas reais preferências, como se por dentro isso estivesse resolvido. Questões de somenos importância, diante da vida tão passageira e de preconceitos tão secularizados em função do que os seres humanos fazem ou deixam de fazer quando, acordados, ficam despidos de preconceitos acerca dos seus conceitos.

No fundo, o ultimo pingo cai sempre na cueca. E não devemos esquecer que a própria verdade não se permite ao absolutismo. Vejam que até um relógio parado duas vezes por dia ele marca hora certa. Por que os humanos insistem nesse desconhecimento?

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(*) Publicado no Rccanto de Letras em 06/01/2014

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