Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Todos os dias as cadeiras dos ônibus Metropolitano do Recife são ocupadas por pessoas que vão direto para
uma alguma ocupação. Entram nos coletivos, pessoas, perfumadas, mal cheirosas,
suadas, abusadas, risonhas entre tantos outros perfis que assumem durante o
trajeto. Neste espaço de tempo muitas coisas acontecem. São fofocas, risadas
estridentes, radio ligados, dorminhocos, empurrões, leitor de jornais,
discursão sobre o futebol numa gritaria infernal, mulheres com o terço na mão rezando,
evangélicos com a sua Bíblia suada e amassada fazendo as suas pregações,
rapazes contando sua estória dos vícios das drogas, outros vendendo chicletes
oferecendo e entregando cada um ocupando os ouvidos dos passageiros. Tudo que
se possa imaginar acontece nos coletivos das grandes cidades. Quando vou à cidade/Recife assento nos bancos
de frente, pois, sou um velho com mais de 65 anos, e nesta condição vou de
graça, não de graça, não, pois deste dos meus quatorze anos que pago passagem,
e desta forma mereço uma recompensa. Durante a viagem duas senhoras começaram a
conversar sem se conhecerem. Uma
comentou – veja que desgraceira este homem dormindo no banco da praça. É falta
de governo, não acha? A outra disse – deve ser malandro, pois quem quer trabalhar,
trabalha. Mas, muitos querem ser doutores sentados em gabinetes com ar
condicionado, cafezinho e secretaria bonita ao seu lado. Olhe – disse – isto é para
este pessoal do governo, que nada fazem e vive roubando o nosso dinheiro. Não
vê estes corruptos que roubaram milhões e ai estão zombando de todos. Veja
quantos presos, neste momento, estão precisando de apoio medico nos presídios?
Centenas! Morrem sem assistência, enquanto um destes corruptos tem junta
medica, por que sofre do coração. Sofre sim, porque não esta usufruindo e isto
da dor no coração. A senhora sabe – disse – estas rebeliões que acontecem nos
presídios é uma revolta dos sentenciados que são vistos como “bichos” enquanto
estes são eleitos como “cordeirinhos”. A senhora sabe – continuou – que a Lei é
para ser observada para todos, todos somos iguais perante a Lei e, porque
alguns tem mais regalias? Onde a senhora mora? Eu moro no Ibura de Baixo! Eu
aqui em Rio Doce! Pois é como eu estava dizendo. Outro dia um rapaz entrou num
mercadinho e apanhou um pacote leite Itambé, na prateleira e saiu de fininho.
Foi visto pelo segurança do mercado, que o agarrou e o levou lá para trás
dando-lhe uns safanões e chamando a policia que ia passando na ocasião. Preso
levado para a Delegacia onde foi autuado por furto. Alegou na frente do
Delegado que levava aquele pacotinho para o leite de sua filha. Errou! Errou e
muito, era melhor ter pedido do que se apoderar indevidamente, não é verdade?
Errou, mas não precisava ir para o Cotel. Deveria ter levado um carrão ou uma advertência
e ser solto, mas não prenderam por este furto. É minha senhora, as coisas só
pendem para os mais pobres e negros que hoje são rejeitados pela sociedade. Hoje
o mundo é cheio de injustiça. Justiça só existe para os ricos e poderosos.
Chegava ao Parque Treze de Maio e a conversa continuava entre elas, uma dizendo
para outra - Tu vai ver a safadeza deste ano com as eleições. Eu mesmo não vou
votar em nenhum politico todos eles se aproveitam da besteira do povo, com abraços,
caminhadas, ofertas de objeto a fim de angariar simpatia e depois mandam todos para “aquele lugar”! Foi bom este papo. Conversando a
viagem encurta e agente desabafa as nossas frustações com este pessoal que
colocamos no poder, para rir de nós. Vou descer aqui e tu? No terminal
respondeu a outra.
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