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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Testemunhos do Vovô Zé - Sangue com biscoito e dançar casamento


Miguel e Davi na diversão moderna: um tablet.


Por Zé Carlos

No último final de semana fomos para a casa de Davi e Miguel, nossos netos e alvos destes escritos, lá no futuro; eu e a Vovó Marli. Como sempre, antes de ir, além da preparação psicológica e física para aguentar o futebol com o Davi, há a feitura dos tradicionais bolos da Vovó Marli que o Miguel adora.

Desta vez, houve ainda um fato que marcou nossa visita, e que posso dizer, a tornou um tanto diferente. Dias atrás, soubemos que um primo do Davi e do Miguel havia adoecido. Como era da mesma idade deles e a doença envolvia exames para encontrá-la, o que infelizmente aconteceu, houve uma reação natural dos seus pais para fazer exames também, igual a nós velhos, para quem já é um rotina, de quando em vez, procurar doenças.

Além da desagradável notícia de que acharam uma doença em seu primo, houve a ansiedade natural da espera do resultado dos exames, além de eu só imaginar o Miguel, com seus 2 aninhos completos, tirando sangue daquele pequenino braço. Se eu, com toda uma estrada de tiradas de sangue, que se fosse calcular o que já tirei para fazer exames, daria para encher outro corpo, olho para o outro lado quando vejo uma seringa, eu imagino o Miguel.

Bem, passado todo o transtorno do exame, e já sabendo que não foram encontradas doenças complicadas, tudo ficou mais tranquilo, apenas com um porém. Minha filha nos falou por telefone que o Miguel estava com uma alta taxa de triglicerídeo, que é uma espécie de gordura no sangue. Como também sou chegado a uma taxa alta disto, e já tenho alguma informação sobre a influência da atividade física sobre ela, comecei a pensar.

Será que eu, aos 2 anos já tinha muita desta gordura no sangue? Será que passei este mal para o Miguel através do meu um quarto do DNA que ele carrega? Ou, será que isto é fruto das condições de vida do Miguel hoje em termos de exercício físico?

Voltei, no meio de transporte no qual eu adora viajar, minha mente, ao passado e tentei me lembrar, em Bom Conselho, de minha vida. Primeiro, jamais me lembraria se tinha taxa alta de gordura no sangue, porque não poderia nem ter feito exames para isto na época, e mesmo pela idade, seria impossível a lembrança. Adiantei um pouco o relógio do tempo, embora ficando lá pela minha infância e vi quanto era diferente minha vida daquela das crianças de hoje, em termos de exercícios físicos.

Hoje, meus netos, além de não terem à disposição a rua para jogar bola, pois ela pertence aos automóveis, o estilo das diversões favorece o sedentarismo (vejam a foto que ilustra esta postagem, juro, eles estão se divertindo a valer). Eu fico até receoso de suas reações se eu dissesse: Hoje vamos para a escola a pé! Só ouviria reclamações, por certo. Enquanto, para mim, ir para a escola a pé era uma imposição do nosso tempo.

Desde a escola de Dona Aurinha, lá por trás do açougue, até o Ginásio São Geraldo, passando pelo Posta da Higiene, onde ia levar bolos de Dona Lourdes e receber preciosos ensinamentos, tudo era feito a pé. E não quero nem falar das idas desde a Rua da Cadeia até o campo de futebol lá onde hoje é o Centro Social, das peladas no meio na rua e na hora do recreio e das caminhadas para ir tomar banho de lama no Açude de Seu Lírio.

Atualmente, meus netos vão para a escola de carro, e tem escola de natação e futebol, mas vão para lá de carro. Será que o estilo de vida moderno leva ao aumento da gordura no sangue? Espero que quando eles lerem este escrito já saibam a resposta e já estejam andando a pé, e não nas esteiras das academias.

Mas, chega de elucubrar sobre isto tudo, que é um pouco triste, embora não possa deixar de dizer o que o ouvi do Miguel, quando veio me mostrar o braço de onde tirou sangue, e eu perguntei: O que era que tinha em teu sangue, Miguel? E ele: Biscoito! E comecei a rir de uma coisa séria, como devemos fazer quase sempre para aguentar a dureza da vida.

De alegria mesmo foi ver a expressão do Davi, quando cheguei, pelo novo álbum que comprei do Brasileirão 2013. Eu senti a alegria porque já passei pela mesma quando gastava o pouco dinheiro que tinha lá na barraca de Seu Belon comprando figurinhas para meus álbuns. E hoje os álbuns estão cada vez mais sofisticados, principalmente este, que talvez seja o último (pelo menos com o que vejo até agora) que terá o Náutico na série A.

E foi com o Davi que rimos mais desta vez, quando ele foi avisado pela mãe de que iria ser pajem no casamento de sua prima:

- Mamãe, eu não vou não! Eu não sei dançar casamento!

Mesmo assim fomos, junto com os pais, procurar ternos para crianças de 2 e 4 anos, o que eu nem pensei que existissem, prontos. O único que tive como criança foi para a primeira comunhão e foi encomendado a Antônio da Tupi, um alfaiate que de quem era quase vizinho em Bom Conselho. No entanto, hoje, já há ternos de todas as cores e tecidos, prontinhos.


Eu adorei as provas nas lojas, com eles vestidos de terno e gravata, parecendo bonequinhos de bolos. Uma graça. Espero que aprendam a dançar casamento até a hora do enlace, que façam bonito, e tragam felicidade para os noivos.

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