Por Carlos Sena (*)
Pobreza é mesmo uma desgraça. Em
todos os sentidos, mas, principalmente, neste caso, a pobreza material. Aquela
que leva as pessoas a passar fome, a viver sem perspectiva de melhora. Porque a
fome deteriora a inteligência e dificulta a capacidade de raciocínio das
crianças. Inteligência limitada e raciocínio atrofiado são pratos cheios para um futuro onde as crianças
não saberão pensar. Acostumadas com a miséria também não saberão entender que
são vitimas dos sistemas perverso que lhes nega educação de qualidade. Sem
educação, continuarão a vender o voto ou trocá-lo por dentaduras ou por
qualquer trocado para fazer a feira. Mesmo por um caixão de defunto para
enterrar um ente querido que não tenha condição, sequer, de morrer com
dignidade. Quem pensar que essa realidade é passado engana-se. Nos grotões do
Brasil e nas periferias das grandes cidades isso é mais real do que imaginamos.
Porque as grandes cidades com toda sua pompa de luzes e cores e shoppings e
arranha céus e carros entupindo as ruas não inclui a pobreza no seu contexto,
exceto quando ela serve para nortear os noticiários de violência e de miséria.
E para posar nas fotos junto aos políticos em épocas de eleições. Essa é a
pobreza que permite, por exemplo, a prevalência das doenças próprias dela como
diarreia, verminose, escabiose, hanseníase (lepra), tuberculose, lombriga,
desnutrição, etc. É culpa dos governos, ora direis! Certamente, porque os
governos não se interessam em “criar sarna pra se coçarem”. No caso a “sarna”
seria a educação. Porque no fundo os governos sabem que a educação proporciona
ao ser humano promover sua própria revolução. Revolução que o levará a não mais
vender o voto, a não mais aceitar humilhação de certos médicos no postinho da
sua comunidade; revolução que o levará a diferenciar água limpa de água suja; a
diferenciar o que seja saúde preventiva da curativa; a diferenciar, finalmente,
uma o sentimento de mundo do sentimento de fundo. Se essa “revolução” já
tivesse se instalada no Brasil, certamente nós não estaríamos “paparicando”
médicos para trabalhar onde não tem shopping, nem carrões de luxo, nem cinema,
nem praia, nem. Mas, tem muita miséria e gente passando fome e morrendo de
caganeira e desnutrição. Porque chegará o tempo em que aqueles que conseguirem
fazer sua própria revolução pelo estudo, não precisarão mais choramingar por um
atendimento médico na atenção básica da sua periferia. Certamente, sabendo ler
e escrever, saberão se informar melhor acerca de hábitos saudáveis de vida e de
saúde, inclusive vendo TV ou lendo Jornais e livros que ajudam a consolidar hábitos
de higiene e saúde. Certamente esse tempo chegará. Mais por conta do povo que
um dia se libertará. Menos por indulgência dos políticos que detestam pobres,
mas não desgrudam deles na hora das eleições. Mais pelo processo maior de
globalização que um dia obrigará o mundo a reverter a miséria dos países que
dela se alimentam.
Como vemos, a pobreza é mesma uma
desgraça. Principalmente porque leva o povo a acreditar que ser pobre e
miserável é natural. Algo como, inconscientemente, achar normal mundo cheio de
pobre, de rico e de miserável. Não tratamos aqui de ideologia comunista, mas de
sentimento cidadão que leve os seres humanos a se indignar com a convivência de
irmãos passando fome e morrendo com lombriga na barriga e se acabando pelo
fundo com caganeira. Pior: sem médicos para, sequer, olhar nas suas fuças.
Porque pobre tem de sobra no “estoque” e morrer um ou cem não faz falta, exceto
na época das eleições em que eles (os pobres) viram “papagaio de piratas” nas
fotos dos candidatos.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 01/08/2013
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