Por Carlos Sena (*)
Conheci Santa Maria. Pensem numa
terra linda e cheia de vida por todos os lados. É uma cidade das mais
importantes do Rio Grande do Sul. As relações INTERPESSOAIS por lá, como de
resto em todo o sul e sudeste, são muito eivadas a conservadorismo. Isso fica
claro sempre que o assunto "xenofobia" volta a tona no que toca a
nós, nordestinos. Certamente não é todo mundo do sul e sudeste que trata com
preconceito os nordestinos, mas fica para toda a nação nordestina esse cisma
com isso que é condenável sob todos os pontos de vista: o preconceito - seja ele
de que natureza for. O que meu comentário tem a ver com Santa Maria e essa
tragédia? Aparentemente nada, mas tudo se quisermos entender coisas simples de
quem é conservador sendo pessoa ou sendo estado, região, etc. A tragédia,
certamente, poderia ser evitada! Todos verão no decorrer das notícias. Os
jovens mortos são vítimas, pois ser jovem é querer ir pra balada, ir pra
noitada, paquerar, namorar, ficar, etc... Nesse etc... é que fica o
questionamento. É de se esperar que um estado tão conservador como o Rio Grande
do Sul no geral e Santa Maria no particular, tenham maior rigor nas liberações
dos espaços públicos e mais: o rigor deve sê-lo na vigilância sanitária e na
segurança e manutenção dos espaços públicos e, principalmente, privados.
Complexo? Certamente. Mas tudo nesse país parece muito parecido quando o
assunto é a pouca responsabilidade com a população e com sua segurança. As
casas noturnas deitam e rolam de acordo com o que acham certo e, dessa forma,
burlam impostos, não seguem recomendações de segurança especialmente dos
bombeiros, etc. Muitas vezes uma casa noturna não tem sequer alvará de
funcionamento mas funciona. Ou seja, não funciona. No geral subornam maus
funcionários da prefeitura e outros atores importantes dessa situação, pois o
importante é ganhar dinheiro. Isso ficou claro com a tragédia de Santa Maria
quando os seguranças travaram as portas, mesmo sabendo que se tratava de
incêndio. Eles queriam que ninguém saísse sem pagar a comanda. Muitos não
saíram também porque perderam a vida.
Prato cheio pra imprensa, como
foi com o ”bateau mouche”, lembram? Lá morreram gente graúda inclusive Iara
Amaral, atriz da Globo. Sabem em que deu aquela tragédia? Acertaram: NADA. Como
em nada vai dar essa até que uma outra aconteça para a imprensa dizer que foi
maior ou menos do que a anterior.
Onde ficam os pais desses jovens?
Certamente que não podem ser culpados, mas devem começar a entender que num
país escroto como o nosso, não é seguro seus filhos ficarem, sequer, na rua
além da madrugada.
Desse episódio fica para nós,
nordestinos, a compaixão. Diferente de muitos sulistas que nos trucidam, nos
diferenciam, nos chamam por adjetivos desqualificadores da nossa inteligência e
da nossa cultura. Trucidam os Gays e por aí vão. Essa é a grande contradição de
quem se diz conservador. Conservem os patrimônios públicos e privados, pois se
essa tragédia fosse no Recife, por exemplo, seria vista como um desleixo de
cidade "tupiniquin" que não tem conhecimento ou de quem não leva nada
a sério por conta, talvez, do suposto subdesenvolvimento que eles nos atribuem
pela pecha de sermos nordestinos. As exceções são muitas, mas não é pra elas
que me dirijo. Lamentamos a morte de tanta gente jovem e bonita daquela cidade
linda que um dia eu fui lá fazer uma palestra.
E as autoridades? Ah, os
conservadores sudestinos não ligam muito pra isso. Agora se fosse questão
moral, o mundo desabaria...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 28/01/2013
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