Igreja Matriz de Bom Conselho - PE |
Por Zé Carlos
Depois de um ano de ausência física de minha terrinha,
embora de permanente presença virtual e espiritual, resolvi bordejar por Bom
Conselho neste final de ano. Foram apenas dois dias, mas, de intensas
atividades sociais. Numa delas resolvi, além de visitar os patrocinadores desta
AGD em sua morada secular, aproveitei um horário que antigamente era nobre nesta morada: A Igreja Matriz de Bom
Conselho em sua missa das 9 horas.
Como as coisas estão muito mudadas, tanto nas noites de São
João como em outras épocas, perguntei antes, se ainda havia a santa missa no
referido horário. Com a resposta afirmativa, partir para assisti-la, tendo que
passar antes pela nossa Praça Pedro II, cuja ornamentação natalina já teve
melhores tempos. Tendo visto os anjos barrigudos subi as escadarias da Igreja,
que foi o templo visto por mim pela primeira vez em minha vida.
Eu nasci em frente de um dos seus oitões, na Praça Lívio
Machado, onde jazia inerte aquele busto preto que eu chamava de “a peste preta”. Já pesquisei qual
destino foi dado àquele busto e não me lembro se tive sucesso na pesquisa ou se
a memória já me falha qual foi o seu resultado. Para mim “a peste preta” continua desaparecida.
Chegando lá, até me emocionei com a presença de tanta gente,
mas ao mesmo tempo senti muito por conhecer tão poucas pessoas entre eles. Caí
em mim ao lembrar que não sou mais aquele menino que ia, naquela mesma hora e
local, quase todos os domingos, embora quase sempre obrigado pelas diretrizes
familiares. A missa das nove era um compromisso de toda a sociedade
bom-conselhense, tanto em seu aspecto puramente religioso quanto em outros
aspectos como o social e o político. No aspecto social porque era ali onde as
mulheres de nossa sociedade mostravam a moda da temporada e que se mostravam
como responsáveis donas de casa ou como moças casadoiras. No aspecto político
porque sem a frequência entre o povo de Deus, na missa das nove, os votos
escasseavam nas eleições.
Fora as mudanças normais da liturgia e da linguagem do padre
celebrante (um exemplo que reproduzo aqui de sua fala: “Ah! Tem gente que não
acredita em Deus, mas, quando vem “o pega
prá capar”, num instante acredita. Não sei se foi bem assim a frase toda,
mas “o pega prá capar” eu ouvi
claramente, e cheguei a pensar: se alguém dissesse isto no tempo do Padre
Alfredo ele botava prá fora pela orelha), eu presenciei a mudança de hábitos na
imposição dos sacramentos, no local onde eu recebi os meus. Eu fui batizado,
fiz primeira comunhão, fui crismado e casei em uma de suas filiais (a Igreja de
Santa Terezinha).
Eu sabia que no domingo, e depois da misssa, era o dia onde
aconteciam batizados, casamentos e primeiras comunhões (em datas festivas) e
crismas (quando bispo dava o ar de sua graça), então vi chegar muitos carros,
vindo neles rapazinhos e mocinhas. Os rapazes de terno branco e as moças de
vestido de noivas. De quase todas as idades. Fiquei confuso sobre o que eles
iriam fazer com aquelas vestes, em relação ao sacramento que ali receberiam.
Foi uma surpresa para mim, que estava pensando serem pessoas que iriam fazer
primeira comunhão, embora tenha estranhado a ausência da vela, que aqueles
pessoas iriam ser batizadas.
Para mim o batismo ainda era apenas para criancinhas com
timão branco. Agora não, são pequenos noivos que (não esperei para ver)
receberão água gelada na cabeça, como Jesus recebeu um dia do João Batista. Fiquei
pensando no motivo que levaria ao aumento da idade para o batismo e apenas
posso conjecturar. Naquela época, com a mortalidade infantil muito maior do que
a de hoje e com a crença de que se um menino morresse pagão (sem ser batizado)
não iria para o céu, deveria levar a que os batismos fossem realizados em tenra
idade. Hoje, com o avanço dos serviços de saúde e cuidados estamos morrendo
cada dia mais tarde. Se a tendência for mantida, brevemente, só nos batizaremos
na terceira idade.
Entretanto, o fato que mais marcou minha passagem pela nossa
Igreja Matriz foi a entrada em sua sacristia, onde vivi momentos de intensa
atividade religiosa, em minha tentativa frustrada de um dia ser coroinha.
Penso, que pelo menos 50 anos se passaram depois de minha última visita àquele
santo chão.
Ao chegar lá, vi o Padre Nelson tirando suas vestes de
celebrante. Não o conheço mas poderia me apresentar como sendo uma das ovelhas
desgarrada do povo de Deus voltando ao seu aprisco. E iria fazê-lo até que
avistei outra pessoa, para mim muito mais importante: o Zé Basílio. Eu até
parecia estar vendo alguém que teve o corpo preservado em formol mas que se
mexia como qualquer pessoa viva, como num milagre de Deus. Mas, não era. Era
apenas o próprio Zé a quem conheci um dia ainda trabalhando com o meu pai de
quem era amigo.
O Zé Basílio, para mim é um instituição viva da religião em
Bom Conselho. Não se pode contar a história da cidade, nos seus aspectos
religiosos católicos, sem escrever sobre Zé Basílio, Gabriel, Dona Lourdes
Cardoso, que estariam no mesmo patamar do Padre Alfredo. Eu não sei, e nem
perguntei a idade do Zé, que me recebeu com um certo ceticismo até quando eu
disse quem era e de quem era filho e neto, mas, se tivesse feito, e ele me
dissesse que tinha 50 anos eu só não acreditaria porque eu já tenho mais do que
isto e quando o conheci parece até que ela já tinha os 50. Agora, que parece,
parece.
Da mesma forma que Bom Conselho é uma cidade com uma grande
vocação turística e que pessoas e eventos teimam em fazer com que ela não
exerça esta vocação, o Zé Basília é a maior vocação religiosa que já vi e que
nunca conseguiu ser um padre. Mas, quem sou eu para julgar o que é melhor para
nossa cidade ou para o Zé Basílio. Talvez seja melhor esquecer a vocação de
ambos, para o bem deles próprios.
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