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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

OSCAR NIEMEYER, RECIFE E DONA LINDU.





Por Carlos Sena (**)


Recife não só tem briga politica e de politicagem. A briga politica é briga boa, só desonera quando as vaidades pessoais a transformam em politiqueiras. Recife é também assim. Só que ultimamente tem ocorrido mais politicagem do que politica e o detalhe: dentro do partido que, briga após briga com a oposição, presenteou a cidade com uma obra de Niemayer.  Ainda bem. O Parque Dona Lindu que tanta polêmica causou está firme, pujante, lindo, forte. Melhor: a associação dos moradores de Boa Viagem que na época vociferou contra, entrou na justiça, fez manifesto no calçadão, ficou calada diante das evidências do parque que hoje faz de Boa Viagem, uma selva de pedra menor. A paisagem ficou mais leve por conta dos traços do gênio da sensibilidade arquitetônica. Niemeyer não é mais um arquiteto – é uma marca que quem olha já sabe e logo diz (mesmo os menos perspicazes) “essa obra é a cara de Niemeyer”. E é mesmo, como no caso do Parque Dona Lindu, no Recife.

Hoje, quando o mundo todo fala da genialidade dele e da sua sensibilidade, fica provado que genialidade e sensibilidade não são incompatíveis com a simplicidade. Essa mesma simplicidade que alguns “Zés Ruelas” da política não exercitam. Constroem uma escola mais preocupados com o nome deles aposto na placa do que com a educação que uma escola vai proporcionar. Niemayer era a antítese disso. Como se diz no popular tinha “panos pras mangas” e não questionava se a mangas eram curtas ou compridas, ou mesmo se os panos eram de linho ou de chita. Pra ele, esse arquiteto atemporal, a beleza só tinha sentido em sua obra se fosse bela pra todos. Num prédio publico ela caprichava ainda mais. Ele pensava que os pobres poderiam observá-lo com o sentimento de pertencimento dele. Esse era o viés mais importante do seu trabalho, ou seja, o humano e a sua decência – coisa que o “povinho” que hoje habita a capital do país por ele construída nunca aprendeu em forma de lição acoplada ao poder politico que lá desempenham em nome do povo.

Recife hoje deve estar feliz mais ainda. Porque foi no governo popular que a obra de Niemeyer (talvez uma das suas últimas) foi construída a duras penas. Os socialites de Boa Viagem devem estar com o “rabinho entre as pernas” – não só porque o “gênio da arquitetura mundial” deixou uma obra sua na cidade, mas, e acima de tudo, porque, diferente do que eles diziam Boa Viagem ficou um bairro mais feliz. E a felicidade era o foco de Oscar.

No rumo desta prosa saudosa, certa feita na Avenida Atlântica em Copacabana, certo Senhor sentou-se num dos tantos quiosques que ocupam aquela orla marítima. Olhamos em volta e vimos que poderia ser ele. Mas será ele, perguntei a um amigo. Parece, respondeu. De repente veio o garçom e ele fez um pedido. O garçom retorna com o pedido atendido: uma cachacinha branquinha, naquele copo fininho apropriado. Ele tomou de um gole só! Ao se levantar e quando começou a caminhar, a gente não tinha dúvidas: era ele, o grande Oscar Niemeyer! A nossa dificuldade no reconhecimento não foi por outra coisa, senão pela simplicidade dele caminhando como um simples mortal. Lembram lá em cima da citação aos “Zés Ruelas”? (*)

Hoje, dia 6 de dezembro de 2012, seu corpo vem para ser velado no Palácio do Planalto – a sede do governo federal em Brasília. Algo como “a obra de arte reverenciando o artista morto; o artista "se vai" e a obra vira porto”. Como agora estou passando uma “chuva em Brasília”, da janela da minha sala vejo o Palácio se engalanando para esperar o corpo do gênio da arquitetura mundial.

(*) Zé Ruela é uma expressão muito utilizada aqui em Brasília. É como se fosse o nosso “Zé ninguém”, “Zé Povinho”... Também se utiliza para chamar um politico ruim de “Zé Ruela” ou assemelhado.

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(**) Publicado no Recanto de Letras em 06/12/2012

Um comentário:

  1. José Fernandes Costa8 de janeiro de 2013 às 17:25

    O Parque Dona Lindu foi feito graças à tenacidade de um prefeito. Todas as vezes que aquela obra foi embargada, o prefeito obedeceu à Sua Excelência, o juiz que decretara o embargo. E o então prefeito recorria dos embargos. E outro juiz mandava que a construção do parque continuasse. - E quem era que requeri os embargos? - A Associação dos IDIOTAS de Boa Viagem. Aliás, os IDIOTAS de Boa Viagem têm horror a povo. Para aqueles IDIOTAS que puseram a cauda entre as pernas, povo é Zé-ninguém ou Zé-ruela ou Zé-povinho. - Mas o parque está lá, com mil e uma utilidades. E os IDIOTAS de Boa Viagem e arredores continuam com a viola no saco. - E esse povo de quem os IDIOTAS se servem, tem acesso às mil e uma utilidades que acontecem nas dependências do Parque Dona Lindu. - Para desespero dos IDIOTAS, que pensam que mandam na consciência do povo trabalhador. - 2. Quanto a Oscar Niemeyer, eu sou muito miudinho para comentar a GRANDEZA DAQUELE MESTRE HUMILDE E GÊNIO. - Contudo, lembro-me de que um IDIOTA MAIOR, de nome Reinaldo Azevedo, um ente insignificante, teve a petulância de dizer alto e bom som que OSCAR NIEMEIER foi "metade gênio e metade idiota". - Só um quadrúpede como esse cafajeste Reinaldo Azevedo poderia dizer tamanha asnice. Pior é que há muita gente transcrevendo os coices desse PATIFE Reinaldo Azevedo. - Assim como os de outros PATIFES IGUAIS ao traste Reinaldo Azevedo./.

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