Por Carlos Sena (*)
O mundo nem precisa se acabar.
Pra que esse trabalho “Senhor Mundo”? Precisa não. A gente mesma tá cuidando
disso, não vê o que fazemos com a natureza? Não vê o que fazemos com os nossos
irmãos a quem tanto discriminamos e a quem tanto fazemos sofrer? Olha seu
“Mundo” viver por aqui tá difícil demais. Só tem valia por aqui quem tem
dinheiro. É um tal dum capital pra lá, capital pra cá que a gente fica sem
“interior”, literalmente. Pro Senhor vê “seu Mundo”, a gente vê o povo todo se
preocupando com quem os outros dormem. Perdão, com quem os outros ficam
acordados e além: preocupados com que tipo de sexo eles se envolvem. Por aqui,
seu Mundo, os pastorecos pentecostais e alguns padres da igreja caótica, digo,
católica, ficam perseguindo os gays o tempo todo, deixando de ir pra rua gritar
contra a corrupção que vem dizimando o país. Deixam, também, de ir pra rua para
que o SUS tenha mais verba federal e para que a Educação seja de qualidade e
para que não se troque apoio politico por liberação de faculdades
“pés-de-escada”.
O mundo, meu Senhor Mundo, já
está se acabando e o que é pior: aos poucos. Em cada pessoa que não perdoa o
semelhante, o mundo morre um pouco; em cada politico que rouba verba da
educação e da saúde o mundo morre um pouco; em cada pessoa que chora porque seu
time foi campeão, mas não chora quando os pais morrem, o mundo morre um pouco;
em cada pessoa que ignora o outro, que só vive pra levar vantagem em tudo, que
não tem ética no que faz e no que diz, o mundo morre um pouco; em cada jovem
que não respeita os pais, que segue a risca o que a mídia manda, o mundo morre
um pouco; em cada plantinha que não consegue nascer, em tantas outras que são
obrigadas a morrer em um milhão de outras que não conseguem frutificar,
purificar o ar, melhorar o planeta, o mundo morre um pouco.
Assim, Senhor Mundo, não gaste
“vela boa com defunto ruim”. Isso aqui já virou uma bandalheira que a gente nem
sabe se tem mais jeito. Certamente que a gente nem tem certeza que o Senhor
queira mesmo acabar com essa “carcaça”, com essa “joça”. Às vezes, Senhor
Mundo, penso que esse boato que o mundo vai se acabar no dia 21 de dezembro de
12, é invenção do CUPIM. Dele mesmo, o cupim. Por quê? Explico: quando o mundo
se acabou pela primeira vez, Noé juntou em sua arca todos os seres vivos, menos
o cupim. Ele não tava doido de levar o cupim, pois a Arca logo estaria diluída
por eles. Pois bem: eles, Seu Mundo, não morreram, mesmo ficando fora da Arca.
Abrigaram-se nas árvores e estão aí até hoje em todos os lugares. No Brasil,
ficam preferencialmente no Distrito Federal e fazem estragos horrorosos. Só que
ficaram (os cupins de verdade) de se vingar de nós e essa vingança é baseada no
tal calendário dos Maias que, encerrando seu ciclo nessa data, estaria em tese
se acabando o mundo. Como nós humanos somos frouxos e bestas, acreditamos até
em Papai Noel e conto de carochinha, estamos aí, imaginando esse “acabar de
mundo” alardeado por todos.
Mas, encurtando nossa prosa,
Senhor Mundo, não precisa se preocupar. Como já lhe disse, a gente está se
encarregando de acabar o planeta. Pergunte primeiro aos políticos. Depois aos
rios, aos mares, à natureza e terá a certeza disso, se é que já não a tens.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 17/12/2012
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