Por Zezinho de Caetés
Recentemente, a nossa presidenta voltou a torrar nosso
dinheiro para fazer um pronunciamento na TV. Para aqueles que não sabem, isto
custa uma fortuna e as emissoras embolsam o nosso dinheiro em forma de renúncia
fiscal. Inicialmente, o objetivo do pronunciamento seria para dizer que a conta
de luz vai baixar para consumidores e produtores que usam energia elétrica. Quem
poderia ser contra algo assim?
O surpreendente é que isto só possa ter sido feito agora de
uma forma tão atabalhoada e em forma de campanha petista à presidência.
Ora, a grande gerente
do planalto deveria saber que o Brasil é um país de economia mista (infelizmente,
tendendo agora para um capitalismo de estado tosco) onde as empresas precisam
de lucros para sobreviver, e que é a concorrência, ou a regulação independente
que faz levar os preços a seus níveis mais baixos possíveis, num setor como o
energético, que até já foi monopólio pela dificuldade de se ofertar
infraestrutura em geral num regime de mercado (diga-se, obstáculos já superados
nas economias maduras).
Não bastassem estas dificuldades da própria economia, vem a
presidenta fazer campanha política, para contrabalançar as caminhadas do Lula
pelo país, e divide o país entre os “contras”
e os “não contras” à queda das
tarifas de energia elétrica. E logo, num momento em que nem São Pedro está
cooperando muito com o setor, não mandando chuva nem mesmo para o sul
maravilha. Então, o que temos? Por um lado se baixam as tarifas, usando
dinheiro nosso (do Tesouro, é nosso) e diminuindo a rentabilidade das empresas numa
época onde o país recorre às termo elétricas (feitas ainda no governo anterior
ao petismo), que são mais caras e mais poluentes, elevando a carga de subsídios
que serão necessários para que a presidenta não passe tanta vergonha como já passou
com outras promessas feitas (cadê as creches? E os 4 milhões de casas? E as
UPAs?.....).
E brevemente, para mostrar a capacidade gerencial do PT,
teremos aumento da gasolina. Imperativo, pois se não houver a PETROBRÁS vai à
falência. Será que a presidente virá, em cadeia nacional, anunciar o aumento? E
é com estas barbeiragens que vem por aí a inflação, e a desorganização da
economia, e começaremos tudo de novo.
Mas, fiquem com texto lúcido e esclarecedor da jornalista
Miriam Leitão do O Globo da semana passada, e que mostra como temos falta de
estadistas neste país. E não estou falando de quem existem homens estadistas e
outros não. O que há são homens que sabem ser estadistas quando devem ser e
pensar nas próximas eleições quando devem pensar. Hoje há apenas quem pense nas
próximas eleições. Que pena!
“A mensagem da parte final da fala da presidente Dilma Rousseff lembrou
o princípio usado na propaganda oficial do governo Médici. Confundiu crítica,
ou análise que contrarie o discurso oficial, com falta de amor à pátria.
Misturou governo e nação.
Como sabem os que combateram o regime, entre eles a própria presidente,
governos são sempre temporários e não são a encarnação da país.
Discordar de uma decisão governamental, apontar riscos, não é torcer
contra. Só governos de índole autoritária fazem esse tipo de interpretação. Se
esse for o tom da campanha da presidente por mais um mandato será lamentável.
Convocar rede nacional de TV e rádio para o início extemporâneo de
campanha eleitoral é irregular. A rede está à disposição do governante para
assuntos de interesse coletivo e para informações úteis para a população.
Convocá-la para anunciar a queda do preço da energia faz sentido, o que
transformou a natureza do pronunciamento foi o tom escolhido pelo marqueteiro
da presidente, na segunda metade do texto lido por ela, de ataque a todos os
que não cultuam o governo. Seria, segundo diz a peça publicitária, coisa de
gente sem fé no Brasil.
A primeira parte foi apresentação entusiasmada da sua visão da
conjuntura, o que é normal. Depois, virou palanque fora de época. Mas, por uma
questão de método, nenhum gestor, público ou privado, deve acreditar na
inexistência de risco de curto, médio e longo prazos em qualquer projeto.
A queda do preço da energia tem o benéfico efeito de reduzir o custo
das empresas, aumentando a competitividade do país, e de diminuir o peso da luz
no orçamento das famílias. Ótimo.
O problema é que a medida teria que vir com uma campanha de redução do
consumo, porque neste exato momento o baixo nível dos reservatórios está
exigindo o uso das térmicas que encarecem a energia. Portanto, quanto maior for
a demanda, mais alta fica a conta a ser paga mais tarde.
Se a redução do preço for entendido como um estímulo ao consumo, num
momento de escassez, o resultado será o oposto do que busca o programa.
Parte da redução do preço será coberta por recursos do Tesouro, o que,
no final das contas, é dinheiro de todos nós. Parte é resultado da antecipação
do fim dos contratos com as empresas. A elas foi dado um prazo exíguo e duas
opções: permanecer com o mesmo contrato até a sua expiração ou renová-lo por 30
anos com uma indenização pelo investimento ainda não amortizado. Os cálculos do
que seria pago às empresas foram abaixo do que se esperava.
Algumas recusaram e isso não as faz inimigas do país, integrantes do
pessoal “do contra”. Foi uma decisão gerencial. Se o próprio governo ofereceu
dois caminhos é porque ambos eram possíveis e tinham perdas e ganhos. A maioria
das que aceitaram a fórmula do governo é de estatais federais.
Há vários fios desencapados no setor de energia e seria bom se o
governo tivesse uma atitude mais sóbria em relação ao tema.
O atraso nas linhas de transmissão, principalmente as que estão sob a
responsabilidade da Chesf, é uma das inúmeras frentes de trabalho. O setor de
transmissão precisa de muito mais investimento para renovação das linhas e
modernização de sistemas obsoletos. As empresas têm que investir mais, e a
maneira como foi conduzido esse programa as descapitalizou.
A queda das ações torna difícil buscar recursos no mercado de capitais
e limita o endividamento.
As hidrelétricas construídas muito longe dos centros de consumo
exigirão um enorme esforço para não se reproduzir, em grande escala, o que está
acontecendo com os parques eólicos: começarem a gerar antes de estarem prontas
as linhas de transmissão. O custo total para o país de não usar os parques
eólicos pode chegar a R$ 1 bilhão.
Há dentro do governo relatórios alertando para vários desses riscos. De
vez em quando a imprensa consegue capturar um. Ou há gente “do contra”
infiltrada ou o governo deveria avaliar esses alertas internos com mais
atenção.
Há fatos intrigando especialistas ouvidos pelo governo que podem
indicar que há sistemas de previsão internos que precisam ser aperfeiçoados.
Tudo isso deveria estar sendo analisado com cuidado. Mas o governo preferiu
transformar a energia em bandeira política e entregou o tema ao maniqueísmo
próprio dos marqueteiros das campanhas eleitorais.”
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