Por Carlos Sena (*)
A solidão que já se coloca como
um dos piores males do século adora o Natal. Se perguntarmos a ela qual é seu
período de “safra” certamente nos dirá “O NATAL”. Vejo esse tipo de solidão,
como observo os meninos de rua se “amorcegando” nos ônibus nas grandes cidades.
Como nos diz Alceu em uma das suas canções: “A solidão é fera, a solidão
devora”. Completo que ela mais devora do que fere, mas quando fere também nos
dizima porque resvala na alma.
Conta-se que um poeta atrevido,
na tentativa de desmistificar a solidão teria escrito: “tão doce
passageiramente doce é a solidão/Mas, deem-me um amigo em seu retiro a quem eu
possa sussurrar: a solidão é doce”... De fato a solidão é acre, qual um limão.
Com uma diferença a favor do limão: a gente pode fazer uma limonada dele, da
solidão não. Elas, a Dona Solidão parece ser construída com a fuga dos
conceitos; parece ser mantida com a retirada da autoestima; parece ser nutrida
pelo silêncio das sombras que acompanham os solitários no alto das suas
solidões.
Contudo, a solidão, melhor que o
limão, tem jeito. Mesmo que falte jeito, ao ser humano é dada a capacidade de
se repaginar, de se refazer, de se sentir parte do todo, tendo dentro de si o
todo e as partes. O limão, não. O Natal é neutro. Ele entra nessa prosa como
Pilatos entrou no credo. Credo em cruz Ave Maria mãe de Deus e Nossa Senhora.
Um credo bem rezado dizem fazer a diferença no trajeto do rompimento da
solidão, principalmente nas épocas natalinas. Na verdade, a solidão é ela
independente de tempo ou de festa. O Natal é “prato cheio” hospedeiro dela pela
sensibilidade que aflora nos humanos. De fato, solidão é um estado de espírito
como sempre foi. Há quem se sinta sozinho na multidão e acompanhado estando
apenas consigo mesmo.
Solidão é conceito. Diferente de
conceito de bom ou ruim. Porque a solidão de um é diferente da do outro e,
muitas vezes uma coisa ruim o é pra todos. Por isto, no natal é bom exercitar,
por exemplo, que tudo passa inclusive nós. Até a uva passa, passa. Que diremos
nós. Fico pensando na cidade de SOLIDÃO em Pernambuco, criado em meados do
século XIX e com um pouco mais de cinco mil habitantes. Imagino a solidão por
lá, mas dizem que o nome não se prende ao sentimento em si que a solidão
provoca, mas por conta do isolamento geográfico em que se encontrava quando foi
“construída”... Independente, solidão é um estado de espírito que pode se
transformar até em patologias. Afinal, há quem se acostume sozinho. Afinal, há
quem goste dos olhos e quem goste da ramela. É isso. Nada de solidão nesse
natal. Isso pode representar falta de amor próprio e sem ela a gente não
sobreviverá nessa sociedade tão marcada pelo individualismo.
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(*)Publicado no Recanto de Letras
em 14/12/2012
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