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domingo, 1 de maio de 2011

SEXTA FEIRA SANTA

MATRACA



Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

O sol em Olinda amanheceu colorindo as arvores cobertas de orvalhos pela madrugada cintilando ao vento brando com um céu lindo e azul com poucas nuvens brancas. Abri a janela e aspirei o ar puro trazido pela brisa da praia nesta manhã. Tomei o café e arranquei a folha do calendário do Coração de Jesus na parede da cozinha. Tirei os pratos da mesa, guardei a manteiga, um pedaço de queijo o leite e algumas frutas no refrigerador.

 Sexta feira Santa, nem parecia ser Santa.  Musica alta de um brega cansativa explodia no lava a jato na avenida, tirando o silencio da manhã e dos moradores. Abri o portão e lancei um olhar na redondeza e nem uma alma viva circulava pelo pedaço. Apenas, um velho magro, moreno com um boné do Santa Cruz sob uns cabelos grisalhos, mais bastante forte tirando areia do canal com uma pá jogando na rua para venda posterior. É o seu sustento, já que o conheço por anos a fio neste trabalho penoso e cansativo
.
Como é um dia santo, dirigi-me para Capela do Espírito Santo, para a Vigília Pascal ás dez e meia da manhã. Alguns pagodeiros de improviso já se preparavam para tocar na Barraca do Tarzan, no terminal de ônibus de Jardim Atlântico, um pandeiro, um bombo, cavaquinho, violão, triangulo e ganzá, tudo nos trinques. A camisa do Sport, Náutico, Santa Cruz se misturam com uma única camisa do America.  Vários copos na mesa cheios de vinho, pois, dizem que cerveja neste dia não se bebe, mas alguns que ali estavam não seguia este conselho, já tinha três garrafas da Skol. Chamaram-me para tomar um copo de vinho que rejeitei. Alguns amigos que ali estavam, disseram, ele agora virou Padre, todos riram e eu também. Já na Capela, tinham duas pessoas, que logo ao chegar saíram e eu lá fiquei sozinho contemplando o sacrário com o Santíssimo Sacramento. O silencio e a pequena escuridão me fez meditar o significado da Paixão de Cristo. Coloquei um CD com músicas gregorianas e assim o ambiente ficou mais propício com a musica cantado pelos monges beneditinos. E, naquele momento de silencio, recordei uma homilia de um Padre Missionário Redentorista, na celebração da Santa Missa na Basílica Nossa Senhora Aparecida, quando fez uma pergunta para toda a assembléia.

O que significa para você e para mim a Semana Santa?

Reflitam!

 Segui o seu conselho, enquanto estava ali, perante o Santíssimo. Para uns, pensei, estes dias é para descanso em lugares distantes de sua residência, levando horas nas estradas, até alcançar o seu destino. Levam na sua bagagem, muitas carnes para churrascos e muitas bebidas, e quando termina o feriado estão mais cansados do que quando chegaram; para outros, esta semana santa é comidas, do bacalhau, o feijão de coco e outras iguarias, além das bebidas alcoólicas exageradas e no final estão doentes e, outros invadem as cidades e se esbaldam na “orgia” e na “dança do ventre” nos palcos em cantorias indecentes. Estes recebem seus cachês milionários pensando que tudo aquilo é valido para sua vida, pensando que serão eternos. Quanta falta de sensibilidade e falta de respeito para a Semana Santa.

Conversando com um ao sair da Capela, o colega me inquiriu: Oh Taveira! Tu fazias uma batucada a cada ano no dia 24 de agosto ou no dia 18 de janeiro, quando teus pais morreram?

Ele mesmo respondeu:

Claro que não, não é verdade?

Assenti balançando a cabeça. Fui paras casa pensando com os meus botões. A sexta feira não é mais como antigamente. Este dia era de penitência e sofrimento, sofrendo com a dor do Cristo crucificado.

Quando criança, em Bom Conselho, a cidade interiorana mais católica, que eu conheci se vivia este dia com muita piedade e consternação. As lojas não abriam os sinos da igreja Matriz da Sagrada Família parava somente se ouvindo em hora apropriada o badalar da “matraca”, as buzinas dos carros não apitavam, as pessoas que se dispunha ir à rua não falavam apenas um simples cumprimento, os homens se recolhiam as suas casas junto com a família, os jejuns acontecia, e em muitas residências somente se fazia uma refeição, as igrejas na penumbra e as imagens cobertas com um pano roxo, de preferência de seda que a loja do Gabriel Vieira Belo, cedia. Os bares não vendiam bebidas. Não se varria a casa, os espelhos da casa eram cobertos, não se cortava o cabelo e nem se fazia a barba, não se batiam nas crianças pelas traquinagens,  não se matava nenhum animal, e toda a comunidade compungida com a morte de Jesus Cristo, se entristecia. A tarde era silenciosa. O tempo parava. Até o sol brilhava menos. A espera pela hora do último suspiro de Jesus na cruz, ás três horas, ficávamos na espera da terra escurecer. Nós crianças ficávamos aflitos, dentro de casa, com o medo de o mundo se acabar como os mais velhos falava não ousava sair à rua. Após passar esta hora nos aprontávamos para seguir a procissão do Senhor Morto, saindo da Matriz, descendo pela Rua Sete de Setembro, circulando a Praça da Bandeira e subindo a Rua das Águas Belas em direção a Matriz, acompanhado pela Banda de Música comandada pelo Mestre José de Puluca, entoando hinos fúnebres em todo percurso da procissão. Padre Alfredo á frente ladeado pelo cordão dos fieis do Apostolado da Oração ostentando a sua fita vermelha, a da Legião da Maria, com a sua fita azul. Dentro da Matriz havia o beijo no Cristo morto pelos fieis em fila indiana com cânticos puxada pelo nosso querido Padre Gabriel Vieira Belo, que ainda neste tempo não era presbítero.

 Eu seguia na procissão, como Apóstolo comum pequeno cajado, e constrangido porque era o Apostolo Judas, aquele traiu Jesus, e somente isto me encabulava, com uma túnica e uma tarja cortando o corpo na cor “Marrom”, e outros meninos, seguiam com faixas vermelha, azul, verde, rosa, amarela e eu naquela cor estranha. O Gabriel dizia não se incomode todos Jesus amam e eu sorria com aquele jeito de criança desconsolada. Era assim há minha Semana Santa.

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