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segunda-feira, 23 de maio de 2011

DANUZA LEÃO, e o Palito de dente e etc.




Por CARLOS SENA (*)

Às vezes a gente está buscando uma “catota” que rola em nossa venta. Digo catota porque poderia dizer “meleca”, mas pra dizer assim teria que me referir a nariz, não a venta. Nesse movimento circular de caça dentro dos nossos septos nasais (eu gosto de misturar o popular com o sofisticado), a gente quase que se esquece do mundo. Outro dia, em pleno Eixo Monumental de Brasília – pra quem não se lembra, é o eixo que conduz as duas grandes pistas de rolamento de automóveis que levam aos conglomerados arquitetônicos que abriga os três poderes do Distrito Federal, presenciei cena hilária: num carro super luxo, uma senhora super produzida, limpava seu “salão” absortamente. Fiquei lhe observando. Ela parecia que estava sonhando de tão aparentemente feliz com aquela “viagem”. Percebendo que foi percebida, discretamente levantou o vidro do seu carrão (parecia ser uma Mercedes Benz) e seguir tão logo o farol ficou verde. Ela, certamente poderá ter ficado vermelha, mas eu fiquei rindo comigo mesmo e meio envergonhado por tê-la feito sair daquele “orgasmo” meio escatológico.  O grande detalhe é que acontece com a catota, o que mais ou menos acontece com o palito de dente (?). Talvez não. Mas Danuza Leão que me desculpe: poucos dizem que usam o palito, muitos dos que isto fazem não tem coragem de confessar. Quem de fato não usa provavelmente o faça no banheiro, como aconselha Danuza, digo, como como não aconselha.

Nesse contexto escatológico, um amigo me contou que, diante de um “pum” involuntário, silencioso, quente, meio úmido, ficou numa verdadeira “sai justa”, quero dizer, calça. Os amigos se retiraram todos pra bem distante vociferando: “vai limpar que cagado você já está”; “quem tem um “C” desse é pobre porque quer”; “o banheiro é mais na frente” e coisas do gênero. Noutra situação idêntica, ele já bem esperto diante do vexame que passou, logo correu para o banheiro. Esperava ele dar o seu “peido” mais tranqüilo. O banheiro estava aparentemente vazio e ele, bem a vontade, deu aquela “bufa” pra luftal nenhum botar defeito.  Não contava ele que num dos Box estava uma pessoa que ao sair foi logo vociferando: “que “C” heim? “Já encomendou a alma”? – Por quê? – Porque o seu corpo já está podre! Coitado. Tenho medo que ele se frustre com suas flatulências exóticas e procure um analista. Imagino como seria uma pessoa com essa “queixa” sendo psicanalisada: será que o diálogo seguiria meio “Doutor meu primeiro peido foi diferente do segundo. O primeiro foi mais uma bufa, já ou outro foi apenas uma flatulência exagerada. Meu maior sofrimento é que minha namorada que presenciou e “tragou” o primeiro “PUM”, me deixou e eu estou sofrendo muito, pois eu a amava “... Se fosse uma novela, o título O PEIDO E A NAMORADA cairia bem.

Bom humor em mim abunda. Gosto de levar a vida na descontração e por isto não julgo certo o primeiro peido, nem o segundo. Da mesma forma que não avalio a atitude da senhora de Brasília se divertindo com sua catota, quero dizer meleca. Quanto ao palito de dente, há controvérsia, mas pondero: acho feio mesmo ver uma pessoa num restaurante, com a mão na boca fingindo que não está palitando os dentes, certamente imaginando que as pessoas estão fingindo que não estão vendo. Eu assumo. Palito meus dentes sem a mão na boca. É o mínimo que posso fazer: assumir que palito os dentes, mesmo sabendo das recomendações da grande dama do jornalismo brasileiro e da etiqueta social. Sou prático para afirmar isto: eu pago a conta do restaurante, pago ao dentista e ainda dou gorjeta ao garçom. Quem me criticar diante do que vê é só deixar de prestar atenção a vida alheia. Certo que tudo não é tão pratico assim, mas há coisas que o são. Nesse conflito de conceitos, me encafifa uma coisa: todos os restaurantes simples ou chiques que eu conheço não tiram os paliteiros da mesa. Convenhamos, há resíduos de alimentação que ficam em nossos dentes e que só o palito remove.

Valores a parte, tudo indica que nós seres humanos somos a nossa grande contradição. Todos tiramos meleca da venta. Todos palitamos os dentes. Todos soltamos peido, pum, flatulência, etc. Todos temos nossas idiossincrasias nem sempre socialmente corretas nem politicamente aprovadas. Convenhamos: há certas escatalogias que nos dão prazer. Muitas delas até são motivo de separação conjugal, embora saibamos que a psicologia tem algumas explicações científicas. Particularmente eu “viajo” mesmo diante de uma catota que desafia minhas narinas. Tenho outras menos ortodoxas, mas que prefiro não falar delas, pois a graça está no fazer, não no relatar. Afinal, tudo se gasta quando se revela. Certamente você tem as suas e sabe muito bem do que estou falando.

A bem da verdade, eu acho as etiquetas sociais muito bem pensadas. A maioria delas prima pelos bons hábitos sociais facilitando a convivência. Do mesmo modo, a bem da verdade, acho que há regras que foram feitas pra gente transgredi-las.

Com licença que preciso ir ao banheiro palitar meus dentes!
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(*) Publicado no Recanto das Letras em 20/04/2011

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