Em manutenção!!!

domingo, 3 de abril de 2011

Vendedor de Cuscuz




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Diariamente passa pela nossa rua o Genésio vendendo aos moradores o cuscuz ao leite de coco. Passa geralmente no final da tarde inicio da noite, com o seu tabuleiro equilibrado em cima de uma rodilha na cabeça e com seu apito estridente com o som de um realejo parando nas residências que o chama e com o seu sorriso estampado no rosto atende com simplicidade colocando o tabuleiro no tripé no meio da rua e apanhando a guloseima com uma espátula de metal. Este é o retrato de muitos trabalhadores que vem do interior tentarem a sorte nas grandes cidades e procura viver honestamente para sobreviver com a família.

O seu Genésio é o típico trabalhador formal. Veio ainda, na mocidade para Recife, da cidade de Vertentes na zona da Mata Sul tentar melhoria de vida. Achegou-se na Capital sem estudo deixando a família para trás, em busca de dias melhores. Chegando a Recife, começou a trabalhar na construção civil, como ajudante de pedreiro. Era um trabalho braçal que requeria muito esforço, mesmo assim, como dizia ele, gostava do trabalho e era melhor do que trabalhar na roça. Aqui, na capital tinha divertimento. As praças para passear e namorar. O cinema para ver os filmes que somente ouvira falar, pois, na sua cidade não tinha cinema. Tinha o mar, onde gostava de se banhar aos domingos, que se estendia até o final da tarde quando retornava para a pensão no bairro de São José. A praia que mais gostava era Boa Viagem. Ali via as meninas, de maiôs a desfilarem pela areia branca e o sol alto bronzeando a pele daquelas moças tão bonitas. Ficava encantado. Tomava alguns aperitivos com o tira gosto de camarão e adorava ostra com azeite e pimenta do reino embaixo de um guarda sol de listras azuis e brancas. Para ele tudo era uma maravilha. Comprara um belo calção azul em uma loja na Rua Nova. Comprou um óculo escuro para proteger a vista da claridade. De vez em quando dava um mergulho e deitava-se em uma cadeira para se bronzear, ficar na moda. E assim o Seu Genésio, vivia sua vida ricamente em divertimento. A noite dava um pulo no baixo meretrício, desfilando pelas ruas Vigário Tenório, Mariz de Barros, Cais da Alfândega, Av. Rio Branco e Av. Marques de Olinda, nunca a Rua da Guia, pois, ali os colegas diziam era uma fabrica de doença venérea, até pelo o ar se contaminava. Não ia aos bordeis da Rua Rangel, pois, ali eram para gente rica, pois, tinha até elevador para levar os clientes. Num certo dia sofreu um acidente no trabalho, quando um tijolo caiu de certa altura em seu ombro e machucou deixando-o por mais de três meses sem trabalhar, recebendo benefício. Após esse tempo, voltou ao INPS para avaliação e o médico dispensou e ele voltou ao trabalho e por falta de uma mobilidade mais rápida que o serviço requeria, a empresa o dispensou. Daí para frente à coisa engrossou, pois, já estava casado morando no Bairro de Cavalheiro em uma casa humilde com Dona Isaura. Ele, contou, rindo e fazendo gesto com as mãos, e a rodilha na cabeça, como fisgou esta bela mulher, para ele. Foi em uma tarde no bairro de São Jose, quando fora dançar no Clube Vassourinha. Sentou-se em uma mesa, com dois amigos que moravam na pensão, pediram um litro de Rum Montilla com Coca Cola. Lá pra tantas horas encontrou Isaura sentada com algumas amigas. Tirou-a para dançar e ali mesmo começou um namoro que já duram quarenta anos. Tem dois filhos que moram em São Paulo, e são metalúrgicos em São Bernardo do Campo. Ele entrou nesta vida de vender cuscuz, pelas ruas, quando a mulher muito sabida, começou este trabalho em casa vendendo aos vizinhos no bairro do Rio Doce, quando se mudou há mais de vinte anos. Mora na quinta etapa da COHAB. Muitas pessoas começaram a propagar a delicia que era o cuscuz com leite de coco de Dona Isaura e pedia que levasse na suas casas. Aproveitando este movimento, ele, começou a levar as encomendas e mais alguns cuscuzes no tabuleiro, pois, quando entregava outras pessoas compravam e, assim foi levando a vida que lhe deu uma maior estabilidade, apesar de ser pobre de Jô, como ele dizia.  Ainda, conversando, o Seu Genésio, diz que caminha muito, pois abrange dez a doze quilômetros diariamente e, que as pernas não estão boas para esta caminhada, pois, quando chega por volta das oito horas da noite, senta-se em um sofá pequeno que se encontra na sala, coloca as pernas para cima para desinchar. A vida é dura, mas dou graças a Deus, hoje com os meus cinqüenta e quatro anos de idade ainda nesta atividade de correria. Olhando para o relógio, disse tenho que ir, pois tem fregueses que estão me esperando, até amanha!

Saiu com o seu tabuleiro na cabeça e apitando no seu apito realejo, sorrindo parando na esquina onde um freguês comprava o cuscuz encharcado com o leite de coco.

2 comentários:

  1. SEGUIR E USUFRUIR DAS BELAS PÁGINAS DESSE BLOG É CONFORTADOR E UM ETERNO APREDIZADO. NÃO É À TOA QUE, APESAR DE SER UM PAPA CUSCUZ, JAMAIS TIVE A CURIOSIDADE DE SABER COMO SE PLURALIZAVA ESSE ALIMENTO, E NÃO É QUE APRENDI AQUI: CUSCUZES!!! BONITINHO, NÃO!!! É VIVENDO E APRENDENDO...

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