SUDENE |
Por Zé Carlos
Ontem vi uma nota de um jornal perguntando por que aos 100 dias de governo, a presidenta ainda não falou nada sobre a SUDENE. Aí eu me lembrei que esta autarquia ainda existe, embora não sei mais onde funciona. E comecei a refletir, com a cabeça de alguém quem, em certa época, fez dela quase sua casa.
Quando viajei, como tantos outros de minha geração, como um retirante de luxo, pois tinha uma maleta e não um saco para colocar as roupas, e vim de ônibus, ao invés de um pau-de-arara, para Recife, para tentar outra vida, já pensava grande e profundo. Minha intenção era ser geólogo. Chegando aqui, ao tentar obter um lugar no Curso Científico do CEP (Colégio Estadual de Pernambuco), não consegui e fui para o que consegui, o Curso Clássico (gente com menos de 50 anos não deve saber o que é isto, mas algum dia eu conto). Daí, passei a pensar pequeno e raso, fui fazer um curso de Economia.
Até hoje reflito sobre o que me levou a tomar aquela decisão. Nunca havia ouvido falar de Economia, e, como muitos sabem, quando saímos do interior tíamos sempre aquela visão de fazer algo conhecido, que nos compensasse raspar a cabeça quando passasse no vestibular. Refletindo, refletindo, dentre outros muitos fatores, um deles, foi a existência da SUDENE.
Diziam-me os colegas de curso que os únicos profissionais que tinham emprego certo após o curso eram os economistas, pois a autarquia contratava todos. Daí eu passei a ser um “sudenista” praticante e juramentado, e dirigi meus 3 neurônios de potencial intelectual para esta área.
Mesmo durante o curso médio, eu já visitava a SUDENE, em suas múltiplas moradas. Para aqueles que não se lembram, e que um dia já ouviram falar em seu nome, o que é muito difícil encontrar entre os mais jovens, esta autarquia, inicialmente, não tinha sede própria. Sem querer fazer ilações baratas e já fazendo, tenho que concluir que quando não se tem um endereço físico e sabido, o trabalho rende muito mais. Isto sucedia com a SUDENE. Os técnicos se espalhavam por todo o Recife. E minha residência diurna durante um bom período foi na Rua Sete de Setembro, na biblioteca da SUDENE. Foi uma grande fase da vida, como sempre são aquelas onde a esperança supera o medo do futuro. Quando queria frequentar uma biblioteca ruim, era só atravessar a Conde da Boa Vista, e entrar naquela de Ciências Econômicas, onde já estudava.
Depois, já em ritmo de Brasil grande e preso, começaram a juntar a SUDENE num minhocão na Cidade Universitária. Já economista e rodado na vida por este Brasil afora, quis o destino que fosse trabalhar bem pertinho deste minhocão. Continuei então a morar nele por um bom tempo.
Posso dizer que acompanhei sua ascensão e glória, que terminaram depois de um longo e produtivo trabalho pela região, e que foi se esgotando, até sua morte algum tempo atrás. Não é de hoje que a SUDENE morreu. Morreu e foi enterrada no mausoléu que foi criado para seu funcionamento mais eficiente. Sem querer ser o Augusto dos Anjos do Agreste, eu diria que os germes começaram a comer o seu corpo há muito tempo, e hoje não temos mais nem sua múmia.
A última vez que fui ao minhocão da SUDENE, foi para visitar o IBGE. A ideia de desenvolvimento regional, continua em pauta, mas para isto a autarquia não serve mais. É uma pena. Mas, que se há de fazer? Igual as pessoas, certas instituições nascem vivem e morrem. Eu tenho saudade da SUDENE. Entretanto, é aquele tipo de sentimento que temos por uma pessoa querida que já passou desta para melhor. Sei que ela não volta. E é até bom, pois se voltar, voltará como uma farsa maior do que aquela em que ela se transformou no momento. E com os vermes mais gordos, a vida continua.
muito bom!
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