Por Zé Carlos
Correndo o risco da A Gazeta Digital passar a se chamar de Blog do Vovô Zé , e, ao mesmo tempo, doido para que isto acontecesse, pois alguns parariam de pensar que roubei a marca do Luiz Clério, quando nem ele mesmo acredita nisto, volto como avô. No fundo, como sempre digo, minhas atividades atualmente são três, que, como o mistério da Santíssima Trindade se transformam em uma. Leio blogs, escrevo para um blog e corujo meu neto. Elas agoram se transformam em uma que é a de corujar o Davi.
Neste último fim de semana, já com uma saudade danada, inventei um pretexto para ir a Caruaru, vê-lo. Num dos supermercados da cidade vi uma sandália do seu tamanho e não resisti, comprei, pois a promoção estava ótima. Depois foi que vi que era uma sandália do Ben 10. Quem não souber o que é o Ben 10, pare por aqui. Não leia mais o texto, pois sei que não é pai de filho pequeno nem de neto idem. Quando minhas filhas eram da idade do meu neto elas preferiam a botinha da Xuxa. Meu neto, machão que só ele, prefere as sandálias do Ben 10.
Sua mãe, minha filha, parece até que leu também um artigo de um psicoterapeuta (Meraldo Zisma), em que ele dizia, falando sobre a tragédia no Rio, e do comportamento violento, e franziu o cenho, na hora da entrega. Depois aceitou. Leiam o doutor:
“Com os recentes e lamentáveis acontecimentos em Realengo, no Rio de Janeiro, evoco artigo que publiquei neste jornal em agosto de 2008, em que demonstrava que existe uma grande preocupação com a incidência de comportamentos violentos entre as crianças e os adolescentes. Esta questão, que é bastante complexa, tem de ser cuidadosamente compreendida por pais, professores e responsáveis. Todas aquelas pessoas que, desde o tempo da pré-escola, apresentem comportamentos agressivos - seja em relação aos professores, pessoal auxiliar da instituição de ensino e/ou seus colegas - deverão ser bem observadas.”
E continua seu artigo falando sobre como é possível coibir, a partir do comportamento infantil, certos atos de violência que só aflorarão na idade adulta. Citei este trecho só para me justificar de ter levado uma sandália para o meu neto, patrocinado por uma destas entidades de desenho animado (o Ben 10), que para minha filha, e prá mim também tem muitas cenas de violência, o que poderia influenciar o Davi no futuro.
E realmente eu tive minhas dúvidas antes de levar as sandálias, principalmente, com minhas ideias sobre a função do avô na vida das crianças, distinguindo-a daquelas dos pais. Perguntava com muita angústia: “Será que estou me tornando um corruptor de netos?”. Como avô extremoso, mesmo depois do impulso da compra, fui ver alguns desenhos do Ben 10, que confesso, irresponsavelmente, ainda não tinha visto.
Então fiquei sabendo que o Ben 10 é sobre um garoto que encontra um “alien” chamado Omnitrix, e o transforma em 10 “aliens” diferentes. Então ele passa a proteger o mundo de uma invasa de “aliens” e de outras estranhas criaturas. Tem algumas cenas de violência, mas muito menos do que em certas histórias bíblicas. Fiquei mais tranquilo, entretanto, reforço aos pais o que diz o psicoterapeuta acima ao terminar seu texto:
“Sempre que pais ou adultos (da equipe da escola) presenciarem comportamentos violentos, deverão providenciar, imediatamente, uma avaliação exaustiva dessa criança ou adolescente e dos seus familiares, por profissionais qualificados em saúde mental. Isto se afigura de fundamental importância, se desejamos viver em uma sociedade menos violenta.”
Tenho só um “porém” em relação a estas recomendações, muito corretas por sinal, da classe dos psicoterapeutas. Ele fala em seu artigo das causas deste possível comportamento violento, colocando entre eles, casos de abusos sexuais, exposição à violência ou na comunidade, exposição à violência nos meios de comunicação, uso de drogas, e que todos estes fatores se tornam mais graves, quando vêm combinados com outros de natureza socioeconômica, tais como a pobreza, privações graves, desavenças conjugais, separação, divórcio, desemprego, falta de apoio familiar, que ele chama de “sinais de alarme” para o comportamento violento. O meu “porém” é que se estes sinais de alarmes fossem sonoros, em nosso país não se dormiria mais. Aqui só é o que vemos.
Eu também sou contra a que se dê aos filhos armas de brinquedo sem as devidas orientações e conversas necessária, ou os propiciem outras atividades violentas como meio de diversão, mas tenhamos a prudência, do lado oposto, de não criarmos seres angelicais para viverem num mundo que não é de anjos.
No caso do meu neto eu apenas, ao entregar a sandália e ver sua carinha de felicidade, disse que a usasse com moderação, isto é, só a usasse para violência se fosse para chutar na bunda dos políticos que ao invés de proteger o mundo contra os “aliens”, se juntam a eles para nos explorar ainda mais.
Será que agi como um reles “corruptor de neto?”. Acho que enquanto for só o Ben 10, não. E se o meu neto usar suas sandálias novas seguindo o conselho acima, breve teremos o desenho com Davi 10. Só para terminar, durante todo o fim de semana o Davi estava constipado, já há uns três dias. Logo após chegar ao Recife, curado da saudade velha e já começando uma nova, minha filha telefonou e disse, “papai o Davi quer falar com você”. Do outro lado da linha agora já com mais fluência verbal ouço sua voz, mais alegre do que quando o deixei:
- Vovô Zé! Eu fiz cocô!
Quem sabe se não foi o Ben 10 que combateu os “aliens” da constipação. Me lembrei da Lucinha Peixoto, que um dia disse que até merda pode nos trazer muita alegria. E isto foi, neste caso, a pura verdade. Graças ao Ben 10.
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