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quarta-feira, 6 de abril de 2011

HOMOFOBIA: É DANDO QUE SE RECEBE?




Por Carlos Sena (*)

Essa coisa de homofobia é mesmo complexa e simples ao mesmo tempo. Complexa no sentido de que muita gente gosta mesmo de tornar coisas simples mais complexas; simples porque se trata de um ato sexual milenar praticado por tantos, mas negado pela quase totalidade dos usuários dessa prática de prazer anal REVEZADA, em sua execução, nas diversas formas: uns “dão” por convicção; outros por prazer, mas sem muita convicção; outros “dão” por uma bolacha quando são pequenos, mas não “dão” por uma padaria quando ficam adultos. Alguns outros preferem não “dar” pela posição incômoda da “passividade”, mas na “atividade” se esbaldam calcados na ilusão de que não “são do babado”; outros mais temerosos, mas admiradores da “atividade” preferem a execução desse ato com as mulheres. Já algumas mulheres quando “dão” demais ficam pensando que os parceiros podem ser “do babado” e começam a pensar coisas. Da mesma forma que alguns outros homens preferem ser “ativos” em frequência “homo” desde que o “passivo” seja mais parecido com uma mulher talvez imaginando que isto mascare um pouco sua preferencia pelo mesmo sexo. Mas o contrario nos parece verdadeiro: alguns homens preferem “dar ou receber” de outro homem que não tenha “pinta”. Talvez no imaginário deles figure a possibilidade de não se instalar a dúvida imanente, pelo fato de que dois homens discretos sendo vistos juntos não desperte maiores curiosidades. Se aposta talvez na lógica de que “não basta não ser, mas parecer”. Ou “Quando os olhos não vem o coração não sente”... Nessas questões do mercado do “dar e receber”, da “atividade e passividade” vai ficando cada vez mais inflacionado pelo ingrediente perigoso do falso moralismo. Sendo prático: alguém gosta de “dar e alguém gosta de receber”. Que mal há nisto? Alguém gosta de dar e receber e vice-versa, que mal há nisto? Alguém estaria dando o que não lhe pertence ou recebendo o que é de terceiro? Que mal há nisto? Alguém estaria “dando” de má vontade? Até poderia, mas não estamos falando disto. Como o ato de DAR E RECEBER na ATIVIDADE OU NA PASSIVIDADE é milenar, tem a idade do próprio homem na terra, como compreender que alguém goste de matar quem dá o que tem?

Como sempre, perguntar não ofende:

1 - Quem é homofóbico não estará querendo matar no outro um sentimento que também é dele?

2 – Por que um homofóbico não se convence que quanto mais gays houver mais mulher sobrar pra ele?

3 – Por que as mulheres são bem menos homofóbicas do que os homens, considerando que quanto mais gays houver, mais homens faltariam no “mercado” pra elas?

4 – Será que o homofóbico não é aquele que um dia “deu”, mas não soube dar ou na hora de ser ativo teve vergonha do pinto pequeno ou se grande, brocha?

5 – Será que a grande maioria de homofóbicos casados com mulheres não se esconde debaixo da saia delas como base de sustentação dos seus “babados”?

6 – Por que alguns homofóbicos que tem filhos gays não os matam? (Língua falou, cu pagou)

7 – Por que os homófobos preferem expor seus “armários” a se cuidarem com um bom psicanalista?

9 – Por que algumas mulheres tem medo de se separarem de maridos homófobos, ruins de cama, brochas e de comportamentos arredios?

10 – Por que a homofobia feminina quase que não chega ao nosso conhecimento na mesma intensidade da masculina?

Esse “decálogo” não esgota o tema, nem tem a pretensão. O que nos encafifa neste encarte de sexualidade humana é contradição dos tempos. Parece que o homem não evoluiu neste sentido e continua agindo como se ainda estivesse nos primórdios da civilização. Sem abdicar do meu bom humor e sendo prático, imagino: se DAR fosse ruim ninguém dava. Se RECEBER fosse ruim ninguém receberia. Se a natureza não fosse perfeita teria dado alguma alternativa em que a gente fizesse xixi por um canto e tivesse prazer por outro. Mas não. Do alto da sua perfeição, Dona Natureza fez tudo certinho. Tudo em nós é meio que DOIS EM UM, principalmente na sexualidade. O prazer está bem juntinho da nossa escatologia natural, como que nos dando lições. Por exemplo, pelo mesmo conduto que sai o xixi sai o esperma, advindos, naturalmente de locais diferenciados. A boca que nos dá prazer gastronômico também nos garante prazeres sexuais que levam a nós e quem estiver conosco aos céus. Como se percebe o “PARQUE DE DIVERSÕES” está muito perto da “ÁREA DE SERVIÇO”. O pior é que a lição sabemos de cor, ou não?

Cada um que seja feliz como puder. Quem quiser dar que dê. Ninguém poderá dar o que é meu da mesma forma que eu não posso dar o que é dos outros. Mas se do meu lado alguém estiver dando e sendo feliz, a gente se beneficia também: pessoas felizes não são violentas, não criam problemas além da conta. Agora quem vive querendo saber QUEM DEU A QUEM deve procurar um Psicólogo num primeiro momento, um Psicanalista num segundo e um Psiquiatra num terceiro, não necessariamente nesta mesma ordem.

PARA ILUSTRAR, UM BELA LETRA DE MUSICA DE CAETANO VELOSO:

Uns

Composição: Caetano Veloso

Uns vão
Uns tão
Uns são
Uns dão
Uns não
Uns hão de
Uns pés
Uns mãos
Uns cabeça
Uns só coração
Uns amam
Uns andam
Uns avançam
Uns também
Uns cem
Uns sem
Uns vêm
Uns têm
Uns nada têm
Uns mal
Uns bem
Uns nada além
Nunca estão todos
Uns bichos
Uns deuses
Uns azuis
Uns quase iguais
Uns menos
Uns mais
Uns médios
Uns por demais
Uns masculinos
Uns femininos
Uns assim
Uns meus
Uns teus
Uns ateus
Uns filhos de Deus
Uns dizem fim
Uns dizem sim
E não há outros
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(*) Publicado no Recanto das Letras em 09/03/2011

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