Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
No Diário de Pernambuco, edição de 17 de abril de 2011, circulou o suplemento “Aurora” sobre aquelas pessoas que vivem em pensionatos no bairro da Boa Vista.
Sob o título “Aluga-se” a jornalista Isabelle Barros, foi hospede de uma destas pensões, por 24 horas, avaliando a vida destes pensionistas involuntários.
A maioria das pessoas que habitam nestes alojamentos ou quartos é oriunda do interior, estudantes, vendedores, balconistas, e tantos outros que necessitam de um cômodo para se abrigar e encontra nos casarões da Rua Velha, Glória, Barão de São Borja e adjacências.
Ao ler a reportagem, senti-me saudoso do tempo que vivi neste ambiente de pensionato no Bairro da Boa Vista, na metade da década dos anos 60 do século passado Saindo de Garanhuns, para estudar na capital, encontrei-me morando em um pensionato na Rua Velha, casarão vizinha a Matriz de Santa Cruz, no Largo do mesmo nome.
Durante, seis anos e meio, percorri aqueles pensionatos existentes na Rua Velha, Glória, Barão de Borja, Gervasio Pires, Leão Coroado, Aragão e o Cais José Mariano. Neste ambiente, vivido de mudança constante encontrei vários amigos estudantes e de outras profissões de quem fizemos amizade e que algumas ainda perduram até a data presente. Durante este tempo, sem freio e de rédeas soltas, vivi imensamente este tempo de boemia, de estudos, e trabalho junto com os amigos que se dispunham a participar, e que hoje ainda recordo estes momentos de alegria e de ressacas. Encontrei neste período toda espécie de pessoas, boas e más, gente de baixo astral, e pessoas de boa índole. Invejosos e trapaceiros. Pessoas esquisitas e outras escandalosas. Uma das brincadeiras existente nas pensões neste tempo, era do apelido. Se você se incomodava, se você ficasse trombudo e calado e às vezes partindo para briga, era uma constante nesta época. Quanto mais você se incomodasse com apelidos, a turma chamava, rindo e se escondendo. Lembro de alguns apelidos de estudantes e de pessoas que viviam nas pensões do Bairro da Boa Vista. Eram chamados “Vaquinha Mococa”, “Urso Branco”, “Cebolinha”, “Sarará”, “Soró”, “Cabeleira”, “Vinagre”, “Bode Rouco”, “Brucutu”, e tantos outros se fazia presente na vida do pensionato. E assim era vida dos moradores de pensões por onde passei. O que a Isbelle, relatou na reportagem nesta pequena estada em pensionato, eu passei estes anos. A lei de alguns pensionatos era rigorosa. Mudei-me por varias vezes de “casa”, por me incomodar com o barulho infernal, principalmente nos finais de semanas e outras vezes por melhores acomodações, quarto arejados, banheiros limpos, espaço para descanso e bate papo, terraço para o jogo de baralho o “relancinho”, “damas”, “firo” e dominó. Outras brincadeiras, até de mau gosto, era esconder os pertences dos vizinhos de quarto, como meia, sapatos, camisas, cuecas, lenços, estojos de barbear, sabonetes, canetas e tantos outros objetos que levavam às vezes discussões acirradas na pensão. Quem escondia, muitas vezes se escondia, deixando a confusão e saindo de “fininho”. Depois de certo tempo era descoberto e, aí sim a confusão começava de novo, ficando muitas vezes intrigados, por certo período. Presenciei muitas discussões entre a dona da pensão e os inquilinos, por causa do pagamento atrasado na mensalidade. Muitos fugiam durante a noite deixando a dona de pensão “a ver navios”. Outros procuravam amenizar a reclamação prometendo pagamento nos próximos dias, ou mesmo fazendo um acordo pagando a metade, o que deixava a dona da pensão insatisfeita e avisando que se continuasse desta forma atrasando a mensalidade fosse procurar outra pensão. E assim foi a minha convivência nas pensões do querido bairro da Boa Vista, o casarão na Rua Velha, ainda existente, o meu primeiro pensionato e ainda hoje curto o Mercado da Boa Vista, na Rua Santa Cruz, reduto deste tempo memorial que as saudades não deixam esquecer. Quando quero relembrar, percorro estas ruas passo a passo... E aí bate a saudade...
Nenhum comentário:
Postar um comentário