Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Eram mais ou menos vinte e duas horas. Silencio da noite é quebrado por vários tiros. O ranger do pneu de moto ecoa no ar. Estou sentado no terraço e me assusto com este barulho. Saio do local e encontro a mulher na cozinha, e disse assustada e tremula, ouviste é tiro! E é aqui perto! Passos e correrias ecoam na rua alguns minutos depois. O vozerio começa a soar e a curiosidade popular começa a se mexer até o local do crime. Soa a sirene dos carros da policia civil e militar cortando o silêncio da noite. Chega a SAMU para prestar socorro o que já era inútil. O vozerio aumenta a cada instante. A curiosidade fez com que eu saísse de casa e fosse até o local em frente à Galeria Santo André. Muitos curiosos já estavam presentes, andando de um lado para outro e, outros estacionados na calçada conversando, enquanto o trafego de veículos começa a engarrafar, apesar de ser à noite. Algum motorista irritado buzina, outros param para matar a curiosidade e chegar a casa com mais uma noticia de crime perpetuado na rua. Um zunzum danado. A Policia Militar já tinha isolado o local onde o corpo jazia inerte e o sangue escorrendo pela valeta da rua. A moto estava esparramada na calçada vertendo gasolina. E o povo querendo chegar mais de perto do cadáver e a policia pedindo que os curiosos se afastassem empurrando alguns impertinentes. A Policia começou a interrogar e colher informações com as pessoas ali presentes se tinha visto o tiroteio. E se alguém sabia alguma coisa sobre a vitima? Se o conhecia, onde morava? Trabalhava aonde? Qual a empresa? Ninguém ousava falar. A Policia queria testemunha a fim de facilitar o seu trabalho em esclarecer o motivo deste crime. Ninguém sabia de nada, é aquela velha historia, “boca fechada não entra mosquito”. Ninguém ousa falar, pois a “lei do silencio” impera. Ai daquele quer der alguma pista. Pouco instante chegou a Folha de Pernambuco, tirando fotografia e querendo saber tudo que a policia desejava saber para noticiar no jornal. Ninguém disse nada. Todo mundo “mudo” somente observava a movimentação.
Dentro de pouco tempo, duas senhoras, uma moça e a outra mais velha, esposa e mãe, chegam à desabalada carreira e se jogam sobre o corpo inerte e estendido no asfalto daquele que fora seu marido e seu filho, ignorando e rompendo o cordão de isolamento. Foi aquele desespero, choros e convulsões, sendo atendidas pelo SAMU que ainda se encontrava no local. Os comentários foram a mais variada nas rodas que formavam nas calçadas, na noite quente e estrelada olindense, uns diziam e afirmavam ser um rapaz “bondoso” na comunidade, principalmente, com os seus familiares, que não merecia um fim trágico; outros diziam e riam “bem feito, menos uma alma sebosa na área”, pois, o “bicho” já tinha sido jurado de morte por tráfico de drogas na região. Quanto os assassinos ninguém sabia o destino eu eles tomaram, pois, era noite e quase ninguém andava pela avenida. E assim se multiplicavam as noticias e há todos os instantes mais curiosos chegavam para saber do acontecido e se juntar aos outros para matar a curiosidade.
Aos poucos foi se esvaziando o local, os curiosos foram retornando para suas casas em grupo conversando sobre o crime, ficando apenas os mais achegados a vitima que se encontravam sentados no meio fio aguardando somente o camburão do Instituto de Medicina Legal – IML, que chegou por volta das duas horas da madrugada.
Este é preço de quem negocia com o trafico de drogas: a morte. Na região Metropolitana do Recife, isto acontece a cada momento, jovens perdendo a vida, trazendo intranqüilidade e deixando um vazio no seio da família, enchendo os cemitérios e enterrados em covas rasas sob o olhar consternado da família e dos amigos.
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