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quinta-feira, 28 de abril de 2011

UM ASSALTO - ACONTECEU COMIGO EM RECIFE




Por CARLOS SENA (*)

De repente uma voz assustada  gritando em nossa direção. De repente um revólver aparece na mão de um assaltante, gesticulando para que abríssemos a porta que “era um assalto”! Tão logo percebi que se tratava de um assalto a mão armada, congelei, literalmente. A primeira alternativa que me veio a mente foi não reagir, lembrando das orientações das autoridades policiais. Contudo, o motorista do carro, ao perceber o assaltante, arrancou o carro e, neste momento, confesso, entreguei a alma DEUS! De repente, não mais que de repente, um PIPOUCO! Um tiro de 38 irrompera pelo vidro lateral do veículo onde eu me encontrava. Reclinei a cabeça como que querendo me livrar de mais prováveis tiros, mas felizmente só ocorreu o primeiro. Dentro do carro, instalara-se um “inferno” entre o que de fato aconteceu e o que nossas cabeças poderiam imaginar que acontecera. Imaginei que estivesse sido alcançado pelo projétil, bem como o motorista também tinha essa impressão. Concomitante, a loucura do transito, a vontade de sair voando, as buzinas do trânsito engarrafado da Avenida Domingos Ferreira. Estilhaços de vidros se misturavam ao sangue que aos poucos fomos vendo e, desta forma, aumentando a suspeita de que poderíamos estar baleados. O motorista entrou em pânico. Eu já tinha certeza de que não tinha sido baleado, mas ele não. Partia-se do princípio de que onde “há fumaça há fogo”; se tinha sangue poderia haver baleado – afinal, segundo dizem, quando a bala entra a gente nem sente! Mas o clima de angustia persistia, pois afinal uma coisa é a gente ouvir dizer de um assalto, outra é por ele passar, sofrer tudo que não tem direito e, graças dos Deuses, sair ileso. Milagre? É a expressão que os policiais usaram diante do que viram. Eu já tinha pensado nisto, mas não podia verbalizar para o motorista diante do estado dele de total descontrole emocional.

Finalmente fomos atendidos na UPA da Imbiribeira – bairro importante da capital pernambucana. O motorista foi atendido, fez RX do cotovelo, mas o projétil não alcançou além da superfície. Enquanto Belém – este é o nome do motorista, estava sendo atendido pelo médico, chamei um policial para me ajudar a interpretar a cena do carro. A bala estava no meu banco (passageiro), bem comprimida, provavelmente porque o vidro lateral do carro e a película ajudaram a diminuir o impacto. Certamente isto nos livrou do pior. Os policiais interpretaram o que viram como “milagre”.

De repente como num passe de mágica lembrei-me de GIL VICENTE, um poeta português: “A vida é um “ai” que mal soa “... Portanto, só nos resta agradecer como sempre o fizemos: pelo dia, pela noite, pelo ar. Pelo gesto simples do amor de quem estiver perto de nós, pelo perdão, pelo afago, pelo bem que possamos fazer sem olhar a quem... Pelo desejo de um dia vermos um país mais decente em que as autoridades não se vendam pelos fabricantes de armas e de munições; pelo não menos desejo de que as nossas prisões não sejam para pobres e pretos, mas acima de tudo para esses marginais que a custa da compra do voto, alcançam os poderes da nação e se esquecem que tem filhos e família... Pela certeza (não o desejo) de que, no momento, só temos mesmo que recorrer a DEUS – seja ele de que forma for, senão a gente perde a esperança.
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(*) Publicado no Recanto das Letras em 12/04/2011

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