“Olha a Lava
Jato aí, gente!
Por José
Nêumanne
A notícia de que
o responsável pelas finanças da campanha vitoriosa da então presidente Dilma
Rousseff, do PT, à reeleição, em 2014, Antônio Palocci, confirmou delação
premiada anterior, feita pelo marchante Joesley Batista, de que o dono da JBS
teria aberto uma conta no exterior em nome dela para depositar propinas animou
todos quantos não aceitam sua impunidade, até agora mantida. Mas o caso é muito
mais complexo do que aparenta e não deverá ter como desfecho tão cedo a prisão
da ex-presidente, que muitos de seus correligionários petistas passaram a
temer.
Há muitas
dúvidas ainda a serem dirimidas em relação aos dois delatores citados no
parágrafo anterior. Qualquer brasileiro dotado de um mínimo de bom senso deve
estar alerta para muitas complicações em relação à primeira delação que citou
Dilma, que, por enquanto, continua livre, leve e solta. Refiro-me
especificamente ao que se arvora em pagador das propinas depositadas na conta
aberta no nome dela no exterior. É evidente para muitos brasileiros que o
prêmio dado pelos procuradores da República, sob a égide do ex-procurador-geral
Rodrigo Janot, a Joesley Batista foi claramente exagerado. O colega Marcelo
Godoy, repórter da área policial no Estado, publicou reportagem em que fez um
cálculo de mais de 200 anos de pena para o goiano. E este se deu ao luxo de
bancar o espertinho, poupando quem quis na própria delação. Certamente instruído
por seus advogados, entre os quais o então procurador da República Marcello Miller,
que bancou o quinta-coluna, entregou mesmo, como o faria depois Palocci, a
existência de contas correntes no exterior, abastecidas pela JBS e usufruídas
pelos dois ex-presidentes petistas. Mas se deu ao desplante de não indicar o
caminho das pedras, como se diz na gíria, sem o que não há como obter provas
dessa movimentação financeira pra lá de atípica. Nenhum brasileiro decente e
minimamente inteligente engoliu essa troca e até hoje ninguém deu explicações
satisfatórias para ela. Nem o delator, que nunca contou como ascendeu de
herdeiro de um açougue de duas portas em Anápolis (GO) para maior produtor e
comercializador de proteína animal, com o controle de 80% do mercado mundial. A
Batista cabe outorgar o galardão de primeira “omissão premiada” do Brasil.
Até hoje o
acordo da delação de Joesley e Wesley Batista está suspenso, à espera da
definição do Supremo Tribunal Federal (STF). Desde a época em que começou a ficar
claro que a gravação de sua conversa com o então presidente Michel Temer na
garagem do Palácio do Jaburu tinha sido uma armação do petista Janot para
comprometer o ex-vice, ficou a suspeita de que o traidor da titular da chapa
vencedora em 2014 foi traído.
Sabe-se ainda
que o também delator premiado Ricardo Saud, da J&F, percorreu os corredores
do Senado em busca de votos favoráveis ao professor Luiz Edson Fachin. Relator
da Lava Jato, este manteve seu estilo discreto de sempre e nunca deu
explicações “plausíveis” (como diria o senador Flávio Bolsonaro) desse fato
corriqueiro na busca de sua aprovação pelos senadores quando foi submetido à
sabatina de praxe.
Enquanto isso,
Palocci vendeu seu peixe e conseguiu fechar delações com a Polícia Federal e
equipes do Ministério Público Federal das Operações Greenfield e Bullish, em
Brasília, bem distante de Curitiba, onde mora na cadeia, nas proximidades do
ex-chefe Lula, embora sem o mesmo conforto. Nas três delações, o ex-prefeito
petista de Ribeirão Preto segue o mesmo estilo de vendedor de terrenos no fundo
do mar. A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba sempre duvidou de sua intenção
honesta de colaborar com a Justiça, desconfiando que ele poderia ter vendido um
silêncio seletivo. Na audiência em que se ofereceu ao chefe da operação, o
ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, este expôs francamente a
desconfiança de que o ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe da Casa Civil
de Dilma poderia estar usando a promessa de revelações importantes como ameaça
a grandes empresários, políticos, burocratas da alta aristocracia republicana e
executivos das estatais das quais eram originadas as propinas pagas com
dinheiro público. Resulta que nunca os procuradores liderados por Carlos
Fernando de Souza e Deltan Dallagnol aceitaram fazer um acordo em que a delação
do figurão do PT o favorecesse com redução de pena. Até hoje ele não cumpriu
nenhuma das ameaças, percebidas por Moro, de denunciar maganões da alta
burguesia nacional. Nem apresentou documentos que comprovassem a denúncia das
contas de Lula e Dilma no exterior. Embora o vazamento de seu depoimento tenha
posto muitos petistas em polvorosa com o temor de iminente e súbita prisão de
madama.
O ex-governador
do Rio Sérgio Cabral, condenado a penas que já somam 198 anos de prisão, quer
delatar o Judiciário para tentar diminuí-las e proteger sua “riqueza”, a
mulher, Adriana Ancelmo, mas não consegue advogado que tope a parada. A exemplo
do antigo aliado Palocci, ele tem feito um périplo em busca de um profissional
que aceite patrocinar sua causa, que inclui promessa de delação premiada das
altas cúpulas estadual do Rio e federal do Judiciário. Está ficando claro que
os habilitados para essa tarefa não se dispõem a pôr em risco suas bancas e sua
carreira à vingança eventual dos maiorais de nossa injustiça togada.
Esperava-se que, já que patrocina causas com delação premiada dos doleiros Juca
Bala e Tony, o doutor Márcio Delambert se dispusesse a fazer o que outros não
tentaram. Mas ele próprio fez questão de garantir a O Globo que esse passo não
estava nos planos dele nem nos do cliente. Antes do atual advogado, Luciano
Saldanha, Fernando Fragoso, Ary Bergher e Rodrigo Roca haviam abandonado
Cabral, preso desde novembro de 2016, réu em 26 processos e condenado em nove
deles. João Bernardo Kappen pulou fora antes de participar da defesa.
O último passo
atrás nas tentativas de investigar ministros dos tribunais superiores foi dado
pelo senador Delegado Alessandro Vieira ao tentar recriar a CPI da Lava Jato no
Senado, mas este caiu por falta de assinaturas, depois de Tasso Jereissati,
Kátia Abreu e Eduardo Gomes desistirem e Flávio Bolsonaro desaparecer do Brasil
e do noticiário.
Agora surgiu uma
novidade. No domingo 17, Lauro Jardim, colunista de O Globo, publicou a
seguinte nota: “A volta a campo anteontem da Lava Jato fluminense, prendendo
Régis Fichtner, ex-secretário de governo de Sérgio Cabral, foi só um aperitivo
do arrastão previsto para as próximas semanas”. Secretário da Casa Civil de
2007 a 2014, no governo de Sérgio Cabral, o citado Fichtner já tinha sido preso
antes pela Lava Jato do Rio de Janeiro. Na ocasião, em novembro de 2017,
Fichtner anunciou que pretendia fazer
uma delação premiada e “contar casos sobre o Judiciário”. Foi solto num piscar
de olhos pelo desembargador Paulo Espírito Santo, do Tribunal Regional Federal
da 2.ª Região, na ex-Cidade Maravilhosa.
Foi Fichtner
quem provocou a separação de Sérgio Cabral de Adriana Ancelmo. Ela queria
indicar para ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) seu sócio Rodrigo
Cândido de Oliveira. Dilma Rousseff havia prometido essa indicação ao aliado
Sérgio Cabral, mas, no fim, Regis Fichtner venceu a parada, indicando para o
STJ o cunhado Marco Aurélio Bellize. Desde então, Adriana Ancelmo e Regis Fichtner
são inimigos.
Foram os pés de
Adriana Ancelmo que o ministro do STF Luiz Fux beijou agradecendo o apoio de
Sérgio Cabral à candidatura dele à Suprema Corte. A ex-primeira-dama foi
condenada a 18 anos de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e participação
em organização criminosa. Mas vive soltinha da Silva, ostentando uma
tornozeleira eletrônica.
O motivo da
recente prisão do mesmo Regis Fichtner pela Lava Jato do Rio de Janeiro foi ter
ele movimentado muito mais dinheiro do que o R$ 1,6 milhão descoberto pela
operação, motivo da primeira. Essa novidade deixa o Judiciário em pânico. Se o cunhado
do preso, Bellize, com sua influência já comprovada, não mandar soltá-lo
novamente, será iniciada uma corrida entre Sérgio Cabral e seu ex-chefe da Casa
Civil para ver quem delatará a cúpula do Judiciário primeiro.
Em nome do
Regis, do Bellize e do Espírito Santo, amém. Olha a Lava Toga aí, gente!.”
------------------
AGD
comenta:
Sem
comentário
Nenhum comentário:
Postar um comentário