“Momento de
definição
Por Affonso
Celso Pastore
Há dois pilares
de sustentação do governo Bolsonaro. Um deles é o programa de aperfeiçoamento
institucional que começa a ser executado pelo ministro Sérgio Moro, buscando o
combate à corrupção sistêmica e ao crime organizado. O outro é o programa
econômico do ministro Paulo Guedes que, com o saneamento das contas públicas,
busca incentivar o aumento da produtividade através de reformas que exponham as
empresas privadas a uma maior competição. Embora talvez enfrente alguma
oposição no Congresso, a tarefa de Moro aparenta ser mais fácil. Afinal, as
reformas por ele propostas contam com amplo apoio da sociedade. Já Paulo Guedes
terá de superar a fortíssima articulação vinda de grupos de interesse e de
corporações que se opõem à sua agenda de reformas, e em particular à reforma da
Previdência.
Os dois
ministros têm tarefas fundamentais. Como nos ensinam Acemoglu e Robinson,
nações não fracassam porque seus políticos e economistas desconhecem a
“fórmula” para levar ao crescimento econômico, e sim porque suas instituições
favorecem as decisões extrativistas, e não as inclusivas. O capitalismo de
cooptação que conduziu o Brasil ao mais longo ciclo depressivo de sua história
– do qual ainda somos prisioneiros – não teria existido se não fossem
favorecidas as instituições políticas e econômicas extrativistas que levaram à
explosão da corrupção sistêmica. Nem teríamos o crescimento medíocre da
produtividade dos trabalhadores ocorrido nos últimos anos caso, em lugar dos
incentivos dados aos “politicamente conectados”, os tivéssemos direcionado aos
mais eficientes, e perseguido os princípios do equilíbrio fiscal.
“Per fortuna o per virtù”, o presidente
Bolsonaro tomou a decisão correta de convidar Moro e Guedes para os
ministérios. O Brasil agradece por isso. Como a agenda de Moro é popular e tem
grande apoio da sociedade, não precisa de um suporte contínuo do presidente,
podendo manter um voo “solo”. Mas este não é o caso de Guedes, que para ter
sucesso precisa do suporte corajoso e proativo do presidente, ao qual cabe
convencer a sociedade da necessidade e da urgência da reforma da Previdência.
O que se busca
com essa reforma é uma consolidação fiscal que crie as condições para a
aceleração da recuperação cíclica e para a retomada do crescimento econômico
sustentado. Acelerar a recuperação cíclica é sinônimo de elevação forte da
demanda agregada, mas com o crescimento mundial em desaceleração e com os
preços da grande maioria das commodities em queda não podemos contar com um impulso
vindo das exportações. Nem poderemos, diante da necessidade da consolidação
fiscal, contar com a expansão da demanda vinda dos gastos públicos. Ao
contrário, a política fiscal executada pelo governo central e pelos Estados
terá de ser fortemente contracionista. A única fonte de expansão da demanda
agregada capaz de ser eficazmente mobilizada são os investimentos em capital
fixo, cuja retomada depende da remoção do risco fiscal, que somente ocorrerá
com a aprovação de uma particular reforma da Previdência, que leve a uma
economia superior a R$ 1 trilhão em 10 anos.
Esta é “a mãe de
todas as reformas”, sem a qual nenhuma outra, dentre as inúmeras propostas por
Guedes, terá eficácia. Ela requer que seja aprovada uma idade mínima compatível
com a realidade demográfica do País, com uma transição rápida para o novo
regime e não pode deixar de fora nenhum segmento da sociedade, buscando a
equalização entre o regime geral e o regime próprio da União e dos Estados.
Diante de mudanças tão profundas, é natural que grupos pressionem os
congressistas na defesa dos seus privilégios, o que dificulta a aprovação da
proposta. Ao presidente da República, contudo, cabe distanciar-se do
comportamento típico de um congressista, cujo objetivo é garantir votos na
próxima eleição, defendendo exclusivamente os interesses do País. Para tanto,
terá de ter sempre em mente que não há possibilidade de elevar os investimentos
e o crescimento econômico sem eliminar os riscos vindos do desequilíbrio
fiscal, o que exige que a reforma da Previdência não se preocupe com as perdas
de alguns, e sim com os ganhos de todos.
O que está em
jogo é o sucesso de seu governo. Vivemos um momento de definição, e cabe ao
presidente dar todo o suporte à corajosa proposta de Guedes. “
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AGD
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