“O Brasil muito
doente e mal cuidado
Por Roberto
Macedo
Nosso país está
numa situação crítica, marcada por vários sintomas. Entre eles, o mau
desempenho da economia, na qual concentro meu interesse, por vocação e
profissão. E também porque sem funcionar bem ela leva a outros problemas, como
o alto desemprego e suas graves implicações sociais. Fica assim prejudicada a
geração de mais recursos para necessidades mal atendidas, como as da população
em geral, das empresas e do governo, neste caso via menos impostos, o que
prejudica sua prestação de serviços.
A própria saúde
da população vai mal, gerando manchetes do tipo Brasil está prestes a perder
status de livre do sarampo. Deu até num navio de cruzeiro. Pernilongos e
assemelhados frequentam o noticiário das TVs com a assiduidade de celebridades.
O atendimento pelo SUS é em geral de má qualidade e agrava a desigualdade
social também na doença e na morte.
Na educação
destacam-se as carências na pré-escola e no ensino básico, que não resolvidas
prejudicam o futuro de crianças e jovens. Venho de família com orçamento
estressado por muitos filhos, mas tive acesso à educação pública de boa
qualidade e a emprego formal ainda adolescente. Não vejo futuro para jovens que
nem estudam nem trabalham.
A frágil
infraestrutura urbana vez por outra sucumbe à natureza, como nos deslizamentos
de terra e alagamentos, e ao trânsito, como os viadutos e pontes em São Paulo.
A criminalidade é altíssima e a segurança pública não dá conta dela. O desastre
de Mariana repetiu-se com muito maior gravidade em Brumadinho; do primeiro ainda
se discutem indenizações e no segundo a última contagem registrava 169 mortes e
141 desaparecidos. Há outras barragens sob risco.
Nossa tradição é
recorrer ao governo para resolver tudo, o que é impossível, e ele está
prejudicado também pela má gestão dos recursos, incluídos os humanos, em que a
hierarquia às vezes se inverte, com corporações de funcionários a comandar
governantes. Em tese, estes seriam representantes do povo, do qual emanaria o
poder político, que em nome dele e para ele seria exercido.
Tudo conversa.
Os políticos estão distantes do povo, em particular no Legislativo, e não atuam
visando o bem comum, nem são cobrados pelos eleitores. Reformas deveriam
incluir a eleição distrital de parlamentares, para aproximar cidadãos de seus
representantes.
Poderia
prosseguir listando mais calamidades, mas ficarei no que possa pelo menos
iniciar o tratamento das muitas que nos assolam. A prioridade deve ser a
economia, pelo que já disse acima. Ela esgotou o modelo de crescimento seguido
após a 2.ª Guerra, baseado na substituição de importações e na transferência de
grandes segmentos populacionais do campo para as cidades, onde passaram a
trabalhar com maior produtividade, ampliando assim o produto interno bruto
(PIB) por habitante. Mais à frente, o Estado cresceu mais que o PIB total,
exageradamente absorvendo recursos que famílias e empresários aplicariam com
maior eficácia e eficiência. Num aspecto grave desse quadro, o Estado se
financia com poupança de entes privados e deixa de investi-la produtivamente,
fazendo assim uma “despoupança” que compromete o crescimento econômico.
Nas contas
públicas os governos petistas acabaram produzindo déficits enormes, que
ampliaram fortemente a dívida governamental. O temor de um calote provocou
enorme incerteza entre agentes econômicos, que por isso retraíram os seus
investimentos e impulsionaram para baixo as taxas de crescimento do PIB.
Depois de o PIB
crescer 3% em 2013, em 2014 essa taxa caiu para 0,5% e em 2015 e 2016 passou a
valores negativos, -3,5% e -3,3%. Em 2017 e 2018 voltaram a positivos, mas de
apenas 1,1% e 1,3% (previsão). Assim, estes dois resultados foram claramente
insuficientes para superar o desastre do biênio anterior.
Entre
economistas e outros analistas da economia predomina a crença de que para
alcançar crescimento bem mais forte é fundamental encontrar solução para as
contas públicas, de modo a começar a dissipar incertezas quanto ao futuro do
País. E aí o problema maior é o da Previdência Social.
Ele se agravou
por um comportamento típico de nossos governantes, o de não cuidar de problemas
importantes, mas vistos como não urgentes na visão deles e a seu tempo. Ora,
essa atitude faz os problemas continuarem se agravando até emergirem como
críticos, como o da Previdência. Ou seja, o pior que está não fica, do
Tiririca, foi desmentido, pois pior do que estava ficou e continuará piorando
se não resolvido.
Sendo um tema
impopular, como aprovar uma eficaz reforma previdenciária num Congresso avesso
a temas desse tipo? Até aqui ele só postergou o problema, mas este acabou por
prostrar o doente. Fugirá novamente da sua responsabilidade por resolvê-lo?
De sua parte,
Bolsonaro, chefe do Executivo, é também o chefe da família brasileira e
cabe-lhe o papel de levar a ela a enorme gravidade do problema previdenciário,
no esforço de convencê-la da necessidade de tratamento eficaz. Este, como em
muitas doenças, será doloroso para segmentos da família, cabendo assim
distribuir o ônus, concentrando-o nos mais capazes de suportá-lo.
Nesse apelo ao
povo poderia usar trecho do discurso de posse, em 1961, do presidente John
Kennedy, dos EUA: “Não pergunte ao país o que ele pode fazer por você, pergunte
o que você pode fazer pelo país”. E já adiantando a resposta: apoie a reforma
da Previdência! E advertindo a turma do contra de que ela está sendo egoísta e
aética ao não pensar no País e no bem comum.
Aliás, não pensa
nem mesmo nos seus filhos, netos e gerações seguintes. Sem solução para o
problema previdenciário terão dificuldades ainda maiores de encontrar trabalho
e outras formas de desenvolvimento pessoal.”
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AGD
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