“A verdadeira
batalha
Por Zeina Latif
Passados pouco
mais de três meses desde a vitória nas urnas, a agenda econômica do governo vai
ganhando contornos, com o que será e o que não será feito. Uma reforma da
Previdência que impacta a todos, sim; uma reforma tributária ampla consolidando
os impostos indiretos, não. Haverá algumas privatizações de empresas “não
estratégicas” (a da Eletrobrás não está clara), sendo maior a ênfase na venda
de ativos de empresas e bancos estatais, conforme as recomendações do time
econômico anterior.
O mais recente
capítulo foi o vazamento da minuta da reforma da Previdência. A Secretaria da
Previdência trabalhou bem, fazendo jus à elevada reputação do time. A proposta
é muito boa e mais ambiciosa do que a de Michel Temer, como na introdução da
idade mínima e na regra de transição. Ela inclui temas novos, como a mudança
das regras de abono salarial e de pensão por morte, além da criação do regime
de capitalização. Para Estados e municípios, é considerado um prazo de dois
anos (parece muito tempo) para a mudança das regras de aposentadoria. Não
ocorrendo, valeria a nova regra dos servidores federais.
Já discuti em
artigos anteriores que o desafio maior não é o de desenhar as reformas
econômicas, mas sim aprová-las. Não que se possa minimizar o desafio técnico.
Afinal, defender ideias gerais é fácil. Difícil é detalhar as medidas, com base
em diagnósticos corretos e levando em consideração o arcabouço legal vigente. O
desafio maior, no entanto, é o da política.
Para começar,
não sabemos qual será a decisão final de Jair Bolsonaro, um político sensível à
opinião pública, conforme aponta Christopher Garman. A proposta vazada ainda
não passou pela chancela do presidente, sendo que membros do governo apontaram
que ela será desidratada.
O episódio
também reforça a visão de que o governo não constitui ainda um time coeso. A
vida de Paulo Guedes da porta para fora do Ministério da Economia não é fácil.
Mal o documento circulou, e o vice Hamilton Mourão afirmou que nem ele nem
Bolsonaro concordam com a idade mínima de 65 anos para homens e mulheres.
Também se manifestou o chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni, afirmando que “a
proposta será bem diferente do texto vazado”. Não teria sido mais adequado o
próprio ministro da Economia, e apenas ele, se manifestar?
A dificuldade
política é inevitável e ainda desconhecida. Afinal, somos um país tomado por
grupos organizados que bloqueiam reformas liberais. Talvez por isso mesmo
Guedes busque o diálogo com os demais poderes da República, para acelerar a
tramitação da reforma e evitar grandes mudanças no seu teor, e reduzir o risco
de judicialização.
Possivelmente a
batalha no Congresso será menos dura do que no governo anterior. O debate sobre
a Previdência está mais maduro e Bolsonaro conta com elevado capital político.
Em compensação, se para Temer esta reforma era uma opção, uma vez que a
proximidade das eleições trazia alguma perspectiva aos agentes econômicos, para
Bolsonaro ela é a condição de sua sobrevivência política; e ele sabe disso.
Para muitos
analistas, a renovação no Congresso é um facilitador. Isso tampouco está claro.
O novo Congresso está repleto de políticos que representam corporações e que se
elegeram por conta das redes sociais. Os eleitores não reelegeram os
parlamentares reformistas que relataram as principais reformas aprovadas por
Temer, incluindo o secretário da Previdência Rogério Marinho, relator da
reforma trabalhista na Câmara.
Como os
políticos irão reagir quando seus eleitores começarem a atacar a reforma?
Ao contrário do
que se imagina, o resultado da pressão social nem sempre é positivo. Não à toa
cientistas políticos alertam para o risco da consulta direta à sociedade sobre
políticas públicas. As escolhas da sociedade, com frequência, não são aquelas
que privilegiam o bem comum, desta e das próximas gerações.
A batalha
começou.”
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AGD
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