“Por que o
Brasil não muda?
POR FERNÃO LARA
MESQUITA
Antes de mais
nada, porque nunca nos propusemos a isso. Nem antes nem depois do início do
presente tiroteio condenou-se “o sistema”. Condena-se apenas quem está em
posição operá-lo hoje. Disputa-se apenas que “lado” será o próximo a ter a
primazia de geri-lo.
O “empréstimo”
de Joesley está para os crimes atribuídos a Aécio como o triplex do Guarujá
para os de Lula e a sonegação de impostos para os de Al Capone, menos pelo
pormenor de que nos Estados Unidos pode-se passar a vida inteira na cadeia por
deixar de pagar o imposto devido ao povo, enquanto aqui o melhor com que se
pode sonhar para os culpados por roubar o imposto efetivamente pago pelo povo é
que levem alguma canseira passageira, mas preservem-se incólumes, como
eternamente “deles”, a espoliada Eletrobrás, dona de Furnas, a Petrobrás,
coletivamente estuprada, e a JBS, para onde foi transferida a montanha de ouro
surrupiada pelo PT, as nomeações para “empregos” eternos nas encruzilhadas por
onde fluem os dinheiros mais grossos da República, os “auxílios”
auto-outorgaveis, as aposentadorias 36 por 1 e o resto dos privilégios que
ampliam em metástase o favelão nacional e definem a nossa medieval sociedade de
castas.
Caça às bruxas?
De maneira nenhuma, porque as nossas, provada e comprovadamente, “las hay”.
Está tudo certo no pouco que faz quem realmente tem tentado honestamente fazer
por dentro do sistema, menos pelo fato de, no final das contas, a reserva ser
privativa de 6 entre 11 “egrégios”, “excelentes”, “magníficos” caçadores que
mantêm a proibição do tiro ao Judiciário por tudo menos porque não exista caça
grossa por lá, e mais o bloqueio de qualquer reforma que atinja mais que
indivíduos selecionados para aplacar a fome ancestral de punibilidade do povo
brasileiro. Sendo tão poucos os caçadores licenciados é impossível que esse
poder não se transforme em corrupção, se não a boa e velha pelo dinheiro,
certamente a corrupção pelo poder. E assim permanecemos paralisados para que o
tiroteio possa prosseguir sem que haja qualquer esperança real de que se mate
“o bicho” no final.
Ficaria tudo
perfeitamente bem se quem decidisse quem vai ou não para a fogueira fosse o
eleitor na sua sempre exata sabedoria média, não apenas de quatro em quatro
anos, mas antes, durante e sobretudo depois de depositar o seu voto na urna. Os
direitos de retomada de mandatos e de referendo e iniciativa legislativas a
qualquer momento, mais o de reconfirmação periódica de juízes para que não se
deem dois passos atrás a cada um dado para adiante, são as formas consagradas
nas democracias que vão além da mentira para armar o poder que a Constituição
atribui ao povo de única fonte de legitimação do processo republicano. É o
único remédio que cura o estado de falsificação e descrédito geral de todas
essas nossas instituições e “instâncias de representação” que se autoatribuíram
um “direito legal” à autonomia em relação aos seus representados e põe as
coisas andando na direção e na velocidade certas.
O que nos cansa
a beleza a todos é que o caso do Brasil é absolutamente translúcido. Trata-se
da opressão e da exploração vil de uma nação inteira por uma antielite
numericamente insignificante que vive do expediente de controlar as ferramentas
de amplificação de som do País para soterrar todo e qualquer argumento racional
que se aplique para descrevê-la como o que é com a repetição à exaustão do
mantra de que as vítimas é que são os culpados e os culpados, as vítimas. E
quando até isso falha, jogar no fogueira mais um culpado – que todos são, basta
escolher – para dissolver em emocionados “contras” e “a favores” qualquer
esperança de dar tratamento às causas de que essas culpas individuais são mera
consequência.
Cinco Estados
brasileiros, o Rio de Janeiro acima e à frente de todos clamando aos céus onde
é que tudo isso vai parar, já têm mais funcionários aposentados que
funcionários ativos em numero de “cabeças”. Outros nove estão empatados: têm
tantos aposentados quanto ativos. E todos os outros, sem exceção, estão presos
na espiral geométrica dos aumentos dos proventos “deles” à custa da redução dos
nossos que condenam à míngua acelerada serviços essenciais como os de educação,
saúde e segurança pública dos quais dependem não só o futuro imediato de cada
um de nós individualmente como também a sobrevivência da nossa quase
democracia.
O governo
federal sozinho tem um rombo projetado de 250 bilhões por ano. Somados os
Estados, em cálculos hipotéticos, porque a realidade muda em velocidade maior
que o tempo que leva para se levantarem os dados da conta inteira, o rombo vai
a mais de 400 bilhões. Mas apenas uma das “pautas-bomba” armadas no Congresso
poderia levar essa cifra para 660 bilhões até 2020, isto é, 55% a mais em um
ano e meio. E, no entanto, tudo isso se dá às vésperas de uma eleição
presidencial onde todos os lados evitam sequer mencionar esse probleminha
“impopular” para quem tem, como todos eles têm, os ouvidos colados em Brasília,
a pátria da privilegiatura, ou incuravelmente entupidos pelo lodo da censura
instalada na academia e em parte da mídia.
Não é à toa que
o “involucionário” José Dirceu, mais um dos condenados por corrupção em
liberdade condicional com “claque” da tragicomédia nacional, incitava a
esquerda roubona pela internet, esta semana, a “não deixar o governo funcionar”
(este que propôs e quase conseguiu fazer as reformas de que foi demovido a
socos e pontapés ou qualquer outro menos os dela). Está pra lá de claro que a
situação presente do Estado brasileiro é insustentável e basta não agir para
que caiamos numa ditadura armada, a única forma de manter de pé a equação venezuelana
que se vai configurando nos nossos rios de janeiros. O difícil é saber para
onde fugiremos todos, nós e os fugitivos da Venezuela, se “o sonho” de fato
recomeçar.”
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AGD
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