“O inimigo à
solta
Por J.R. Guzzo
Daqui a cinco
meses o Brasil vai ter eleições para escolher o novo presidente da República. O
número de candidatos é quase tão grande quanto o de eleitores – fora um ou
outro especialista muito atento, ninguém sabe dizer os nomes de todos, e menos
ainda qual poderia ser a utilidade que qualquer deles teria para o país. O que
se sabe, com certeza, é que nenhum está minimamente disposto a fazer o que
seria a sua obrigação mais elementar – combater com clareza e sinceridade o
mais infame inimigo que o povo brasileiro tem hoje em dia. Esse inimigo, um
fato provado e sabido há muito tempo, é o estatismo. Não é a corrupção. Não é a
extrema direita nem a extrema esquerda, nem qualquer outra força que está no
meio do caminho entre as duas. Não é a incompetência terminal da administração
pública, nem a burocracia que exige o CPF de Brahms para dar andamento a um
processo envolvendo questões obscuras de direitos autorais na área da música
clássica. Não é nem mesmo o crime sem controle ou os criminosos sem punição –
ou a figura individual de Lula e de seus parceiros no Complexo PT-PSOL-etc. O
inimigo mais nefasto do Brasil e dos brasileiros, cada vez mais, é o poder do
“Estado”. É isso que oprime a população, explora o seu trabalho, talento e
energia, mantém o país no subdesenvolvimento e torna a nossa democracia um
número de circo de terceira categoria.
O estatismo,
para simplificar a discussão, é a soma das regras que submetem o povo
brasileiro ao alto funcionalismo público, às empresas do Estado e ao oceano de
interesses materiais de tudo aquilo que se chama “corporações”. É essa multidão
de procuradores, promotores, ouvidores, desembargadores, auditores, coletores,
juízes, ministros – com todos os seus privilégios, os seus “auxílios-moradia”,
os seus custos, o seu direito de viver fora do alcance das leis penais. São os
sindicatos. São as federações e as confederações. São as “ordens” de advogados
e demais ofícios que criam direitos para seus “inscritos”. São as centenas de
repartições públicas que não produzem um único parafuso, mas têm o poder de
proibir que os cidadãos produzam. São esses círculos do inferno que dão ou
negam licenças, certidões, alvarás, atestados, registros, “habite-ses” e
autorizações para praticamente todas as atividades conhecidas do ser humano. O
Brasil só existe para servir essa gente – os cidadãos pagam em impostos entre
40% e metade do que ganhem, e o grosso do dinheiro arrecadado vai para o bolso
destes senhores de engenho do século XXI, na forma de salários, benefícios,
aposentadorias e o mais que conseguem arrancar do Erário.
Esse conjunto
de inimigos do Brasil não vacila em desrespeitar as regras mais básicas da
democracia para proteger os seus interesses. Não poderiam provar isso de forma
mais clara do que as dezenas de juízes que têm tomado decisões a favor dos
sindicatos e contra os trabalhadores na questão do imposto sindical. Esse
imposto, considerado pela esquerda e pelas corporações como um “direito” – um
caso único no mundo de tratar uma obrigação como benefício – foi, como se sabe,
suprimido pelo Congresso Nacional na recente reforma trabalhista. Os sindicatos,
depois disso, têm entrado na justiça pedindo que a lei, aprovada na Câmara e
Senado, não seja cumprida – e que todos os trabalhadores brasileiros,
sindicalizados ou não, continuem a pagar um dia de salário por ano para o cofre
dos sindicatos. Juízes de vários lugares do Brasil acham que os sindicatos
estão certos, e mandam as empresas desobedecerem a lei – e continuarem a
descontar em folha o imposto sindical dos seus empregados. É um ato de promoção
direta da desordem. Tira dinheiro de milhões para doá-lo aos donos dos
sindicatos, espalha a incerteza sobre o que é ou não é legal, e desrespeita uma
lei aprovada de forma absolutamente legítima pelo Congresso. Quem representa os
cidadãos, bem ou mal, é o Congresso – esse aí mesmo, que é o único disponível.
Não são os juízes. O fato de terem sido aprovados em concurso público não lhes
dá o direito de aplicarem as leis que aprovam e anularem as que desaprovam. Mas
é exatamente esse disparate que estão tentando colocar em pé.
Os juízes que
agem dessa maneira atendem unicamente ao interesse das corporações. No caso,
agem como parceiros dos sindicatos — e, tanto quanto isso, em defesa da
“justiça do trabalho”, a máquina de empregos e privilégios que consideram
ameaçada pela reforma trabalhista. Desde que a reforma entrou em vigor, no
final do ano passado, o número de ações trabalhistas caiu em 50% — um imenso
avanço para o progresso do Brasil, mas um horror para os “juízes”,
“procuradores”, “vogais”, advogados e toda a imensa árvore de interesses
diretamente enraizada nessa situação de absurdo que começa a tornar-se mais
racional. Se as causas caíram pela metade, fica demonstrado que a outra metade
era desnecessária – e a ideia de que um mandarim do serviço público possa, em
consequência disso, tornar-se ainda mais inútil do que já é, parece
simplesmente inaceitável para o mundo estatal. E quem defende a população nesta
briga, em pleno ano de eleição presidencial? Até agora, ninguém.”
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AGD
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