Davi no torneio |
Por Zé Carlos
Quando estou muito triste sempre me travisto de Vovô Zé e
escrevo para os meus netos. Num futuro, nem tão distante, porque o Davi (o mais
velho) já está começando a ler, e, brevemente o Miguel (o mais novo, irá no mesmo
caminho). Portanto, não tardará o Vovô Zé terá leitores e se aproveita para ficar
um pouco mais alegre, neste mar de tristeza.
Esta ano a vida aprontou poucas e boas para mim. Primeiro,
tive a maior gripe, que virou bronquite, dos últimos 50 anos. Segundo, fiz uma
cirurgia, em que foi tudo bem, mas, deixou sequelas do ponto de vista psicológico,
pelo estresse que passei. E quando o Vovô Zé foi se recuperando, alguém o
processa, acusando-o por danos morais, por haver um anônimo publicado aqui no
blog, algo a respeito dele. Logo o Vovô Zé que a última vez que causou danos
morais a alguém foi, talvez, na outra reencarnação. Pelo menos, de forma
consciente ou proposital. Não sei se é o número 13 do ano ou se havia mesmo de
acontecer. Nos últimos tempos eu tenho me tornado quase um místico e
acreditando no azar.
Mas, deixo de lado as agruras, que se vão todas quando vejo
meus netos participando (o mais novo só olhando) de um torneio de futebol em
Caruaru, onde foi tirada a foto que ilustra esta matéria. De início deu vontade
de publicar só a foto, o que já seria uma postagem válida para eles no futuro. No
entanto, como gosto de teclar e ao mesmo tempo tenho histórias para contar, eu
resolvi escrever mais umas mal traçadas linhas.
Eu lembro quando despertei para o futebol. No Brasil, hoje
tanto entre as meninas (embora menos) quanto nos meninos, sempre há um certo
tempo em suas vidas que isto ocorre. Seja rico seja pobre a boa bolinha sempre
vem, como Papai Noel. Comigo, este momento se deu na Copa do Mundo de 1958, na
qual o Brasil ergueu a taça Jules Rimet pela primeira vez, ao sagrar-se campeão
do mundo. Tinha 10 anos, mas, antes já corria atrás da bola de meia de frente
da Maçonaria ou da Cadeia.
Lembro como se fosse hoje, o aumento do interesse da meninada
pelo futebol. Lembro das disputas entre as ruas e até recordo muito bem o time
em que eu joguei, como o Davi hoje, pela primeira vez. Na Rua do Caborje foi
formado um time, se não me engano, o Ateniense, que arranjou um padrão (um
conjunto de camisas de futebol, para os não iniciados ou muito jovens como meus
netos) com um dos candidatos a deputado que apareciam lá pedindo voto e
tentavam conquistar os votos dos pais dando presentes aos filhos.
Na Rua da Cadeia, onde morei uma boa parte de minha vida, os
peladeiros de rua, de bola de meia ou de borracha (as bolas de couro eram uma
raridade nas ruas, enquanto hoje meus netos já têm até a Cafusa e a brevemente
terão a Brazuca, bolas das Copas recentes no Brasil), estavam excitados,
olhando as revistas (O Cruzeiro por exemplo) e cada um querendo ser um dos jogadores
daquela conquista. Eu quis ser o Gilmar, mas, Zezinho de Anália, me convenceu
de que quando fôssemos jogar no campo maior, eu ainda era muito pequeno para
ser goleiro. Então foi aí que o Vovô Zé foi ser o Garrincha, mesmo não tendo as
pernas tortas, porém, com o espírito de que se alguém me prometesse fazer-me
jogar igual a ele, eu até entortaria as pernas.
Foi aí que resolvemos formar um time para competir com o Ateniense.
E formamos o União Futebol Clube. Não me lembro mais quem comprou as camisas
brancas, mas me lembro que Dona Irene, mãe de Carlinhos Mouco (onde estará?), a
pedido do Zé Praxedes, bordou as camisas em azul, com a sigla UFC. Hoje isto é
nome de torneio de luta livre e as comparações com a época de hoje, são quase
impossíveis.
Naquela época aprendíamos o futebol na rua. Quando íamos a
campo, com plateia era uma raridade. Hoje, os meus netos vão para escolinha e
já compram os padrões prontos. E com os meios de comunicação a que eles tem
acesso, meu neto Davi, já não quer ser o Neymar, e sim o Messi, mesmo que eu
tente dizer que seu estilo é igual ao do Newton Santos. Aliás, o Vovô Zé, quando
já um pouco crescido, jogou de lateral-esquerdo, lembrando deste grande jogador.
Hoje, meu neto seria um ala.
Tudo é diferente, menos para mim e para o Davi, a alegria
de participar do primeiro torneio. Não estava lá, e não vi se o time dele
perdeu ou ganhou, só sei que o União quando jogou com o Ateniense, perdeu, e para
mim foi uma tristeza. Não me lembro se chegamos a ganhar deles um dia.
Quando estou com eles, aqui na minha casa ou na casa deles,
a grande brincadeira ainda é o futebol e para o Davi, o da foto, se Vovô Zé
aguentasse, jogaria o dia inteiro. Na minha época pensava já em ser jogador da
seleção brasileira. Não o fui, mas, vendo a ginga do Davi já espero que ele
seja o melhor do mundo na próxima década. Na certa irá jogar na Espanha,
condição sine qua non para que isto
aconteça.
Só escrevendo, o Vovô Zé voltou a sonhar e esqueceu
momentaneamente suas agruras. Não perderei o próximo torneio por nada neste
mundo. Enquanto não chega o dia, continuo, chorando pelo Náutico, e, sendo
educado e alegre com o Sport e com o Santa Cruz, principalmente, pelo Flávio
Caça-Rato.
Caro Zé Carlos: - Você é um vovô feliz. E faz muito bem em louvar seus netos, ao tempo em que continua teclando. - Eu também sou um avô feliz. - Anteontem nasceu a minha quinta neta Lorena. E netos, tenho dois: o João e o Pedro. - O João já está um “molecão” com 13 anos. É sério e estudioso que só! Faz judô e natação. Não sei se joga futebol. - Mas está aprendendo alemão. Deve ser uma homenagem ao outro avô, filho de Alemão com uma estadunidense. - O Pedro ainda é tampinha, com quatro anos. - 2. Não sabemos se o autor do processo, que pretende receber por danos morais que você não causou, vai ter a sorte de contar histórias leves e dignas como as nossas e de muitos (as) outros e outras, que têm histórias feitas de dignidade. - Essa pose do Davi é o retrato da alegria e da grandeza infantil. - Esse é o seu tesouro e tesouro da sua família. O bom dessa vida é saber que os nossos filhos (as) e netos (as) se orgulham da gente. - É muito bom saber que, se somos pobres de coisas materiais, de outra parte somos direitinhos no âmbito das coisas morais. - Saber que os nossos familiares nos veem assim, é uma honraria que nos orgulha muito. - Mas nos orgulha com orgulho sadio, digno, elevado. - Não é o orgulho de pessoas que empinam o nariz pensando ser o dono do pedaço. E que, muitas vezes, o pedaço que eles possuem é podre. - Assim, meu Prezado Zé Carlos: continue teclando e bendizendo os seus netos e netas, quando houver estas. - Porque tudo isso nos engrandece e faz com que tenhamos gosto por essa vida. - E que, com isso, temos motivos para nos orgulhar da nossa decência e da nossa autoridade moral! - Aceite meu abraço e que Deus nos abençoe. - Até breve./.
ResponderExcluirAgradeço ao José Fernandes o belo texto e as sábias palavras. Que tenham, nossos netos e nós todos, um Feliz Natal e Prósperos Anos Novos. Um abraço.
ResponderExcluirZé Carlos: - Eu também lhe agradeço pela publicação desse minitexto. Posto que ele (o minitexto) deixou de ser um comentário, passando quase ao um artigo. - Ficam meus agradecimentos, também, por suas palavras com referências a mim. - Não são sábias palavras. São palavras simples, que dizem algumas coisas interessantes e, quem sabe, de proveitos. - Aproveito e faço uma ERRATA no minitexto: - Quando eu disse que o outro avô do meu neto João é filho alemão com estadunidense, grafei alemão com inicial maiúscula. - Mas, alemão, francês, italiano etc. são grafados com inicial MINÚSCULA, tal como eu escrevi logo em seguida: "... com uma estadunidense". - Feitas essas considerações, despeço-me com abraço. - Desfrute de bom Natal e de um ano-novo (31.12 / 1º.1) ótimo. - E que o ano novo que ora vem, seja-lhe bem melhor do que o que logo estará passando./.
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