(Foto do Blog O Argonauta) |
Por Zé Carlos
Hoje, por volta das 10 horas da manhã alguém me liga e me
avisa que Ivan Crespo morreu. Isto foi passado, a quem me avisou, pelas redes
sociais. É a modernidade.
Na época em que convivi com Ivan, um dos melhores amigos que
tive em minha infância e adolescência, mesmo sendo ele mais velho, esta notícia
era dada pelo autofalante de matriz, tocando uma música fúnebre, geralmente a
Ave Maria, e que despertava nossos ouvidos, e ficávamos atentos, porque minha
mãe sempre perguntava:
- Quem morreu?!
Hoje sabemos pela internet. E descobri que isto não diminui
o sentimento que tive ao saber da morte de Ivan.
Se eu fosse contar todos os episódios envolvendo o nosso
eterno farmacêutico, escreveria um livro. Não o farei. Apenas relembrarei de
alguns casos desta amizade, que normalmente começou na dor, e depois continuava
na cura. Quando lá em casa se precisava de tomar injeção e não podia se
deslocar até a Farmácia Crespo, era o Ivan que vinha aplicar, era a dor, mas,
depois vinha a cura.
Minha amizade se estreitou muito com o Ivan devido à amizade
que tinha com o Ives, seu irmão mais novo e colega de Ginásio São Geraldo. Quis
Deus que eu, na última vez que fui a Bom Conselho, encontrasse os dois. O Ives
com quem conversei no meio da rua e com o Ivan em sua posição quase fixa na
farmácia durante mais de 50 anos. Sempre era uma alegria revê-los.
Ele estava bem disposto e alegre, mas não tanto como era
liderando a Turma do Funil, durante o carnaval, todo melado de roxo rei, com um
menino sentado no funil. Mas, alegre. E isto, penso eu, foi sua vida toda, de
dedicação ao trabalho e à cidade. Foi vereador e era um político atuante,
embora eu não tenha acompanhado, por ter saído de lá, toda sua trajetória
política.
Apenas citarei alguns casos que o envolvem e que me vêm à
memória neste momento de tristeza, mas, para que ele não seja lembrado por ela,
sim por sua alegria de viver.
Lembro, na Copa de 1962, Ivan e uma turma, assistindo ao
jogo, se não me engano Chile x Brasil, lá naquele local que se chamava
Rodoviária, pela alegria da vitória, todas as mesas e cadeiras do bar foram
quebradas. E não foi por causa de brigas e sim da alegria. E ele avisava ao
dono: Não se incomode que a gente cobre o prejuízo.
Ainda lembro que um prefeito da cidade colocou arame farpado
para proteger os jardins da Praça Pedro II, e por ter este arame rasgado a
roupa de um seu amigo, ele simplesmente cortou os arames. Penso que foi uma
solução para incoerência do jardim com arame farpado, feito cercado.
Um episódio que nos marcou a ambos foi o suicídio de Milton,
filho de seu Marçal, porque eu estava na farmácia quando ele chegou da casa do
nosso amigo comum, o Milton, e começou a contar o que acontecera e como foi o
caso. Sempre o Ivan era chamado nestas horas para ajudar, e vi em seus olhos as
lágrimas descerem, e os meus marejarem.
Por ser tímido, coisa que nunca deixei de ser, ele era
habituado a me arranjar namoradas, e me deixar com vergonha dizendo que eu estava
gostando de alguma garota, quando ela entrava na farmácia. Como eu normalmente
corria, ele me chamava de “brocha”, o
que não me ofendia porque sabia do seu espírito brincalhão.
E foi relembrando fatos como este que o encontrei pela
última vez, e quando falamos de Ives, ele disse que agora o que ele estava
fazendo era colecionar miniaturas de carros. Ambos rimos do fato, e talvez ele
tenha relembrado de nossa infância, quando, eu e Ives colocávamos uma barraca
de frente à farmácia, nas festas de final de ano, para tomar o dinheiro dos
festeiros, ao tentar derrubar umas latas, que cada vez colocávamos mais longe.
Neste ano, as festas de Natal e Ano Novo não serão tão
alegres, pelo menos para mim, pois, se for a Bom Conselho, como pretendo, não
encontrarei mais o Ivan na Farmácia Crespo, de que tanto lembro.
Que descanse em paz, grande amigo!
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