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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ivan Crespo


(Foto do Blog O Argonauta)


Por Zé Carlos

Hoje, por volta das 10 horas da manhã alguém me liga e me avisa que Ivan Crespo morreu. Isto foi passado, a quem me avisou, pelas redes sociais. É a modernidade.

Na época em que convivi com Ivan, um dos melhores amigos que tive em minha infância e adolescência, mesmo sendo ele mais velho, esta notícia era dada pelo autofalante de matriz, tocando uma música fúnebre, geralmente a Ave Maria, e que despertava nossos ouvidos, e ficávamos atentos, porque minha mãe sempre perguntava:

- Quem morreu?!

Hoje sabemos pela internet. E descobri que isto não diminui o sentimento que tive ao saber da morte de Ivan.

Se eu fosse contar todos os episódios envolvendo o nosso eterno farmacêutico, escreveria um livro. Não o farei. Apenas relembrarei de alguns casos desta amizade, que normalmente começou na dor, e depois continuava na cura. Quando lá em casa se precisava de tomar injeção e não podia se deslocar até a Farmácia Crespo, era o Ivan que vinha aplicar, era a dor, mas, depois vinha a cura.

Minha amizade se estreitou muito com o Ivan devido à amizade que tinha com o Ives, seu irmão mais novo e colega de Ginásio São Geraldo. Quis Deus que eu, na última vez que fui a Bom Conselho, encontrasse os dois. O Ives com quem conversei no meio da rua e com o Ivan em sua posição quase fixa na farmácia durante mais de 50 anos. Sempre era uma alegria revê-los.

Ele estava bem disposto e alegre, mas não tanto como era liderando a Turma do Funil, durante o carnaval, todo melado de roxo rei, com um menino sentado no funil. Mas, alegre. E isto, penso eu, foi sua vida toda, de dedicação ao trabalho e à cidade. Foi vereador e era um político atuante, embora eu não tenha acompanhado, por ter saído de lá, toda sua trajetória política.

Apenas citarei alguns casos que o envolvem e que me vêm à memória neste momento de tristeza, mas, para que ele não seja lembrado por ela, sim por sua alegria de viver.

Lembro, na Copa de 1962, Ivan e uma turma, assistindo ao jogo, se não me engano Chile x Brasil, lá naquele local que se chamava Rodoviária, pela alegria da vitória, todas as mesas e cadeiras do bar foram quebradas. E não foi por causa de brigas e sim da alegria. E ele avisava ao dono: Não se incomode que a gente cobre o prejuízo.

Ainda lembro que um prefeito da cidade colocou arame farpado para proteger os jardins da Praça Pedro II, e por ter este arame rasgado a roupa de um seu amigo, ele simplesmente cortou os arames. Penso que foi uma solução para incoerência do jardim com arame farpado, feito cercado.

Um episódio que nos marcou a ambos foi o suicídio de Milton, filho de seu Marçal, porque eu estava na farmácia quando ele chegou da casa do nosso amigo comum, o Milton, e começou a contar o que acontecera e como foi o caso. Sempre o Ivan era chamado nestas horas para ajudar, e vi em seus olhos as lágrimas descerem, e os meus marejarem.

Por ser tímido, coisa que nunca deixei de ser, ele era habituado a me arranjar namoradas, e me deixar com vergonha dizendo que eu estava gostando de alguma garota, quando ela entrava na farmácia. Como eu normalmente corria, ele me chamava de “brocha”, o que não me ofendia porque sabia do seu espírito brincalhão.

E foi relembrando fatos como este que o encontrei pela última vez, e quando falamos de Ives, ele disse que agora o que ele estava fazendo era colecionar miniaturas de carros. Ambos rimos do fato, e talvez ele tenha relembrado de nossa infância, quando, eu e Ives colocávamos uma barraca de frente à farmácia, nas festas de final de ano, para tomar o dinheiro dos festeiros, ao tentar derrubar umas latas, que cada vez colocávamos mais longe.

Neste ano, as festas de Natal e Ano Novo não serão tão alegres, pelo menos para mim, pois, se for a Bom Conselho, como pretendo, não encontrarei mais o Ivan na Farmácia Crespo, de que tanto lembro.


Que descanse em paz, grande amigo!

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