Por Carlos Sena (*)
Todo mundo teve um professor ou
professora marcantes. Eu tive, no primário, mais de uma: dona Darci, Dona
Rosália, Dona Laura. Dona Darci morava perto da casa de Zé Abílio e teria se
casado e tido filhos. Se mais não soube é porque a vida separa as pessoas, mas
não consegue apagar nossas mais legítima lembranças. Lembro que ela era doce,
sabida, e vocacionada para o ensino. Todo dia olhava, inclusive se nossas unhas
estavam limpas e cortadinhas . Dona Rosália era tão sabida quanto Dona Darci.
Só que era mais durona e de pouca graça conosco, embora seu coração por dentro
só tivesse amor e dedicação em tudo que fazia com seus pivetes. Vez por outra
ela mandava um bilhetinho por nós e para os nossos pais. E recomendava:
"ai de quem lê esse bilhete antes dos pais"... Dona Rosália era
esposa de seu Afranio e mãe de Concinha e de Fátima. Morávamos na mesma rua - a Siqueira Campos,
mas nada de frege com ela, porque ela era a nossa PROFESSORA, não nossa
"tia" com se dizem hoje. Finalmente Dona Laura. Minha mãe nos colocou
com ela para "desarnar" pois era assim que se chamava na época um
certo tipo de REFORÇO. Ela era linha dura. Tinha palmatória e tinha caroço de
milho, mas tinha aprendizado no seu método hoje condenado. Tabuada? Tinha que
estar na ponta da língua. Soletrar? Era Na ponta da língua e no fim do quengo.
De dona Laura lembro pouco, mas sei que morava na rua de Águas Belas, nas
imediações da Praça da Bandeira. Hoje, certamente, seria condenada pelo seu
método, mas eu só sei que aprendi soletrar e contar com ela. Das palmatórias eu
também me lembro, mas não tenho frescura de trauma por conta delas. Dona Laura
morreu faz tempo. Dona Rosália, faz pouco. Dona Darci, não sei por onde anda,
mas, certamente deve estar aposentada criando netos.
Pois é. O tempo passa. A gente
cresce. Os professores seguem seus destinos de nos encaminhar pra vida sem,
sequer, saberem se demos pra gente, como nossos pais costumavam dizer. Hoje, no
dia dos Professores eu lhes digo mesmo sem saber direito onde devam estar. Pelo
sim pelo não, em que dimensão espiritual estiveram, lhes digo que "dei pra
gente", até me chamam de dotô. Ensinei na Federal, na Católica, no Esuda,
até na UNB de Brasília já palestrei. Tão vendo fressoras? Tudo começou no grupo
escolar Mestre Laurindo Seabra que continua de pé do mesmo jeitinho quando
criança lá eu estudava.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 15/10/2013
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