Por Zezinho de Caetés
Eu já estava me preparando para ir a Boa Viagem ver a queima
de fogos do réveillon, e já havia desejado um feliz ano novo aos meus poucos
leitores, quando vi passar sobre mim, um avião, levando um careca, gastando meu
dinheirinho suado, e poluindo mais nosso planeta, para implantar 10.000 fios de
cabelos, aqui em Recife. Nada demais se este careca fosse Magalhães Pinto (que
Deus o tenha) e o avião fosse fretado por ele. Mas, tinha que ser logo o Renan,
para me tirar de meu ócio de festas de final de ano.
Não, vocês não estão sonhando, o Renan Calheiros, presidente
do Congresso Nacional, quarto na linha de sucessão ao “trono”, usou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para vir
aqui, e executar um procedimento capilar, talvez, com a desculpa de embelezar o
Senado, enquanto ele se senta na cadeira suprema. E logo em seguida eu vi um
vídeo institucional do Senado, na TV, ele, o Renan, ainda careca, mostrava as
realizações do Senado, e entre elas colocava a “transparência das ações”
daquela casa. E tem gente que acredita.
Eu, transcrevo abaixo um texto do Sandro Vaia, publicado no
Blog do Noblat, que tem um título enorme: “Sonhos
de uma noite de inverno” (27/12/2013). Quem o ler talvez pergunte, o que
tem a ver o implante do Renan com este texto, que fala sobre a situação da
China? E eu já respondo: Tudo.
Tudo, porque ele fala sobre a maneira que a imprensa chinesa
se comporta que o “sonho de uma noite de
verão” do PT, e de todos aqueles que querem cometer maracutaias com a “coisa pública”, e esperar que a imprensa
não veja. O que seria o Brasil hoje sem a imprensa livre?
Haveria o mensalão? O Demóstenes teria sido cassado? O Renan
teria renunciado uma vez? O Lula estaria brigado com a Rosemary? E tantos
outros casos que vieram à tona, pela simples existência de uma imprensa livre.
O Zé Dirceu, o Lula e o PT deve sonhar com o modelo chinês, todos as noites, e
quando acordam logo propõem o “controle
social da mídia”. Como seria bom para o PT!
No caso do Renan, eu nunca vi tanta desfaçatez, de uma vez
só. Imagine se fosse o Marcos Valério. E olhando bem, este precisa de mais de
10.000 fios de cabelo. Por que ele não usa um avião da FAB? Afinal, todos são
iguais perante a Lei. Isto pelo menos seria o que o presidente do Congresso,
deveria ter como norma de conduta, e como exemplo.
Fiquem com o texto do Vaia, e vejam porque o modelo chinês
seria o paraíso petista e de aliados. E esperem, como eu o faço, que no próximo
ano, a imprensa livre nos ajude a ficar livre de vez da ameaça do “controle social da mídia”, para que meus
votos de feliz ano novo não sejam em vão.
“Sonho de uma noite de inverno: os jornalistas chineses terão que ler
700 páginas de um manual que ensina como devem comportar-se perante o governo e
o partido. Ocioso dizer que lá partido e governo são a mesma coisa.
Deverão dedicar-se pelo menos 18 horas ao estudo do calhamaço para
poder prestar o seu exame em janeiro e fevereiro. É como o exame da ordem para
os advogados brasileiros: não passou, não tem licença para ser jornalista.
A notícia, segundo o enviado especial da Folha de S.Paulo a Shaoshan,
Marcelo Ninio, foi publicada pelo jornal estatal “Global Times”(e há algum que
não seja estatal lá?), diz que pelo menos 250 mil jornalistas deverão
submeter-se ao exame.
As 700 páginas não contém muitas sutilezas confucianas e vão direto ao
assunto: ‘É absolutamente proibido publicar reportagens ou comentários que vão
contra a linha do partido”. Ou ainda: “A relação entre o partido e a mídia é a
de líder e liderado".
Bem como ensinava Deng Xiaoping: pouco importa a cor do gato desde que
ele cace ratos.
Segundo o jornalista, o manual ainda inclui temas como “socialismo com
características chinesas” e “perspectiva marxista do jornalismo”.
Os potenciais controladores da imprensa aqui no Brasil, aqueles que não
se cansam de sugerir, propor e defender formas de estabelecer diretrizes para
impor suas formas de ver o mundo e de como as notícias devem ser publicadas,
esfregaram as mãos de alegria. Todo “controlador social” sonha com um manual
desses.
Por uma feliz - ou para eles
infeliz - coincidência, no mesmo dia em que essa noticia foi divulgada, o
Estadão publicava na sua página de opinião um artigo do professor Eugenio
Bucci, que foi presidente da Radiobrás num dos governos Lula, falando “dos que
tanto amam odiar a imprensa”.
Insuspeito de reacionarismo ou fascismo, o professor Bucci provocou
celeuma na ala petista que sobrepõe os interesses da militância à informação
independente. Um desses jornalistas militantes confessou “certo desconforto” ao
ler um texto “com essa alteridade impossível” de “alguém que, como ele, foi
militante do PT a vida toda e alto funcionário do governo Lula”, como se isso
dispensasse alguém de exercer o senso crítico com a honestidade intelectual que
Bucci achou que cabia no caso.
Ele escreveu que a acusação de que a imprensa é “um partido de
oposição” incomodou pouca gente. “A acusação era tão absurda que não poderia
colar. Numa sociedade democrática, relativamente estável e minimamente livre,
os jornais vão bem quando são capazes de fiscalizar, vigiar e criticar o poder.
O protocolo é esse. Logo, o bom jornalismo pende mais para a oposição do que
para a situação”.
O protocolo é esse, mas convenhamos: as 700 páginas do manual chinês
resumem o modelo ideal de imprensa de muitos petistas e suas regras povoarão os
sonhos de suas noites de inverno.”
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