Por Carlos Sena(*)
Acho a BELEZA uma tremenda
“pegadinha” que a vida faz conosco. Quando se juntam BELEZA FÍSICA e JUVENTUDE,
então essa pegadinha duplica. Diante disto, quem não é esteticamente bonito
logo encontra algumas “muletas” conceituais tipo: “beleza não é tudo”, “o mais
importante é invisível aos olhos”, “o tempo não acaba a beleza interior”, “beleza
não põe mesa”, etc. O nosso poeta Vinicius, em “RECEITA DE MULHER”, imortalizou
a estrofe: “As muito feias que me perdoem, mas, beleza é fundamental”... Para
os esteticamente feios, a teoria da relatividade funciona: “quem ama o feio,
bonito lhe parece”, ou: a beleza, com o passar do tempo, é invadida pela
fealdade. A feiura, também, mas em menor proporção.
Como se vê tudo caminha dentro
das conveniências naturais humanas em que a estética é, sobremaneira,
endeusada. O capitalismo em que vivemos estimula a cultura do corpo bonito,
sarado. As academias se multiplicam vertiginosamente e, de repente, o
patrulhamento estético está posto. Isto contribui de certa forma, para o
aumento de cirurgias plásticas que nos tem levado a ser um dos maiores países do
mundo em plástica estética, lipoaspiração, etc. O outro dado dessa moeda se
converte, também, em outra “pegadinha”: plásticas no rosto em pessoas bonitas
com o tempo saturam. O rosto fica sem caber mais nenhuma outra intervenção ao
ponto de poder deixar os rostos fora da fisionomia original. O sorriso de
“lagarto” é muito característico desse excesso de plásticas. Por outro lado, o
corpo sarado excessivamente, com o tempo não resistirá a “lei da gravidade”...
Haverá cirurgia plástica para retirar tanta pelanca causada pela musculatura
murcha?
Contudo, não imaginamos que não
se possam utilizar bem as academias e as cirurgias plásticas. Fato é que o feio
não fica bonito, mas os bonitos, dependendo da cirurgia e do cirurgião podem
ficar feios. Também podem os feios ficar horrorosos/as. Independente, beleza
física é uma tremenda “pegadinha” que a vida nos deu, mas que pode muito bem
ser administrada. Tudo dependerá de cada pessoa e da forma de utilização dessa beleza que natureza lhe deu. A
“pegadinha” se configura quando os “belos” não compreendem a vida e suas fases.
Normalmente na juventude as pessoas se deslumbram e isto, de certa maneira é
natural. Afinal, não se amadurece sem que se tenha sido verde. É nessa fase
verde da que todos nós sonhamos demais, nos achamos bonitos demais, poderosos
demais, inteligentes demais... Se com o passar do tempo não houver maturidade,
mas tão somente maturação, então o “caldo pode entornar”... As pessoas vão ser
pegas de “calças curtas e saias justas”, pois talvez não tenham dentro de si os
componentes que servem de base estrutural para suportar as alterações que o
tempo faz no corpo, principalmente na parte que mais se evidencia que é o
rosto. Há na literatura histórias de mulheres belas que se deslumbraram a vida
toda. Escolheram maridos demais, mas nunca se casaram. Namoraram demais, mas
nunca prosseguiram em relações afetivas sérias, estruturadas. Surpreendidas
pelo tempo, da noite para dia se sentiram sozinhas, inclusive sem o “espelho”.
Sentiram-se rejeitadas, pois, agora feias, sem estruturas interiores de
sustentação psicológica, SUICIDARAM-SE! Há muitas delas que conseguem reverter
a situação através de filantropia, participação em centros espíritas, etc.
Como se vê, as mulheres são mais
alcançadas por essa “pegadinha” da beleza, por questões óbvias. Mas há homens
que também não têm estrutura para isto e, muitas vezes, desoneram, entram em
depressão. Por isto e por muito mais é que nós, humanos, temos que ter desde
moços, algum direcionamento que nos conduza para a compreensão da vida como ela
é. E sendo como é a vida tem seus verões, tem seus invernos, mas tem
inegavelmente seus OUTONOS. Poucos são preparados para o “cair das folhas”
existenciais. Só que essas “folhas” caem independentes dos nossos quereres. Curto
e grosso: a BELEZA E A FEALDADE, na velhice ficam niveladas. Mas é bom ser
bonito, melhor ainda ser também inteligente, super melhor se tiver dinheiro,
mas acorde, porque isto pode ser um sonho...
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(*) Publicado no Recanto de Letras em 07/07/2012
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