Em manutenção!!!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

OUSADIA DE VELHO





Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Encontro em pleno meio dia, o sol a pino, no calor sufocante do Recife, Ataíde andando sob a sombra dos casarões de Rua da Aurora. Ia como sempre fez, ao Bar Princesa Isabel, na rua do mesmo nome. Ia devagarzinho, no seu terno branco, dizia ele: “é beca de boêmio sambista”, bater papo com os amigos e companheiros que todos os dias ali estavam, para “bater o ponto”, para ouvir e ao mesmo tempo dialogar com os amigos os seus conflitos e suas fantasias. Aquele local era o ideal e mais adequado para este tipo de conversa. Cada um contava como queria, ora aumentando os seus devaneios, outros escondendo, ficando outros calados somente ouvindo, com um olhar admirado, às vezes, concordando ou não.

Saudou-me colocando a mão no chapéu branco que cobria a sua calvície e alguns fios de cabelo brancos, com um:

 Como vais?

 Nunca mais te vi!

O que aconteceu?

Nada respondi de imediato.

O que aconteceu? Está surdo? Acorda! Retrucou. 

Apontando para um pequeno barco solitário que deslizava pelo Rio Capibaribe com o dedo riste para o Rio Capibaribe, - falou parado na frente do Edifício São Cristovão - É um rio semimorto. Poluído. Não existe mais nada de pesca até os siris desapareceram. Ninguém ver mais um pescador jogando a sua tarrafa de cima das pontes. É horrível este estado que presenciamos e sem que ninguém dê um jeito. Não tem governo que concerte esta situação, prometem, mas não cumpre. Quantas e quantas vezes ouvimos falar o ler na imprensa que este rio vai se tornar navegável e ser mais um meio de transporte fluvial, para a população. Bulhufas! Bulhufas! É conversa fiada de políticos. Quem sabe agora com a exigência da FIFA para a Copa do mundo não dê jeito, nem que seja durante o torneio? Estão gastando “mundo” e “fundos” na construção de viadutos, estradas, estádio e outros e depois será que vão manter este investimento.

Disse, começando andar devagarzinho entrando na Galeria,

 O burburinho das pessoas nos “comes em pé” das lanchonetes, nas barracas nas calçadas e dos ônibus trafegando com seus ruídos ensurdecedores, chegamos finalmente ao nosso destino passando pela Rua da União contemplando o busto do poeta Manuel Bandeira. Sentamo-nos a mesa, já conhecida aonde o garçom João, dono do Bar veio ao nosso encontro com um sorriso aberto ajeitando os óculos e com um pano de mesa no pescoço.  Passou sobre a mesa o pano encardido e úmido, cumprimentando com um Bom Dia. Não! Não! É boa tarde, riu, olhando para o relógio feio e descascada a pulseira pelo tempo.

Traga uma cerveja bem geladinha e aquele pratinho de sarapatel com limão, enquanto aguardamos os demais companheiros que por certo virão. Ajeitou-se na cadeira. Tirou o chapéu e enxugou a testa com um lenço desbotado, enquanto o João já de imediato servia a cerveja em copos americanos, saindo. O sarapatel logo chegou.

 Olhando para mim, disse estamos ficando velho, não é? Quantos aniversários tens? Olhando para mim através dos óculos de grau na ponta do nariz.  Eu, 68! Respondi. Eu tenho 72, fiz no mês passado, comemorado pelos meus meninos. Alguns amigos de outrora e da agora foram me cumprimentar, mas não tive meio para te avisar. Fica para o próximo ano.

Deixa pra lá! Disse. O importante é que estás inteiro, não é?

 É, com apenas alguns senões da idade. Mas estou novo e de amor novo!. Olha vou te contar este segredo que ninguém sabe, pois aconteceu há pouco tempo e eu não falei com nenhuma pessoa sobre este assunto. Pois é meu amigo depois de velho arranjei um “encosto”. Nisto chegou Gonçalves. Sentou-se e disse logo ali perto houve um acidente. Um motoqueiro tinha sido atropelado. A aglomeração de pessoas chamava a atenção pelo corpo estendido no meio da pista, coberto com um pano preto. Mas deixemos de tragédia, isto sempre vai acontecer. Como vão vocês dois? O Taveira sumiu, mais tem um ditado que diz “quem é vivo aparece” E tu Ataíde estais com uma cara de quem “comeu e não gostou”, riu. Por uns instantes, ficamos calados. Queria prosseguir em relatar o seu segredo, mas ficou pensando. Depois de alguns minutos, após sorver um gole da “branquinha” que tinha pedido para desentupir a goela, disse - vou revelar o segredo, mas de agora em diante não será mais segredo, apenas um fato. Ataíde, depois de beber a sua dose da Aguardente 51, olhou para nós, pois, tinha tinham chegado o Américo, o Tomaz e o Aurélio. Éramos seis no momento. Olhou para nós e com os cotovelos apoiados na mesa e num sussurro falou – Estou tendo um caso com uma linda moca, de 26 anos de idade. Fitou todos nós esperando uma reação. Leleco! Leleco! Disse o Gonçalves rindo alto, e exclamando Bravo! Bravo! Já te olhaste no espelho? Dois pontos estão surgindo na cabeça, apontando para a careca do Ataíde ainda sob o efeito da noticia. Nós ficamos olhando uns para o outro diante daquela confissão. Alguns minutos calados ainda sob o efeito da noticia dada naquele momento de descontração.  Um homem, ou melhor, dizendo, um velho com os seus 72 anos se metendo com uma mulher de 26, quer levar é chifre.  Ataíde, disse, o Américo, tu não tens dinheiro, já estas alquebrado para o sexo e, como tu vais satisfazer esta “aproveitadora” quando estiver no cio. Como Leleco! Como Leleco! Depois de velho sair por ai com chifre é de lascar, mas o problema é teu, não é verdade? Ele ficou pensativo e chateado com as brincadeiras que sempre acontece em bar.

 Lá pelas 15 horas levantou-se e disse: Vocês estão é com inveja. Vou indo que eu tenho um compromisso agora no final da tarde. Pagou a sua parte na despesa. Ao sair disse até amanhã. Aurélio falou alto, já com o Ataíde na calçada “Cuidado”! Cuidado! Quando chegar encontrar o “urso”.

Vão se lascar!!!

 Saiu rindo em direção a Avenida Guararapes.  Começamos a rir, também.

 Lá vai o Leleco! Leleco!

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