Por José Antonio Taveira Belo /
Zetinho
Encontro em pleno meio dia, o sol
a pino, no calor sufocante do Recife, Ataíde andando sob a sombra dos casarões
de Rua da Aurora. Ia como sempre fez, ao Bar Princesa Isabel, na rua do mesmo
nome. Ia devagarzinho, no seu terno branco, dizia ele: “é beca de boêmio
sambista”, bater papo com os amigos e companheiros que todos os dias ali
estavam, para “bater o ponto”, para ouvir e ao mesmo tempo dialogar com os
amigos os seus conflitos e suas fantasias. Aquele local era o ideal e mais
adequado para este tipo de conversa. Cada um contava como queria, ora
aumentando os seus devaneios, outros escondendo, ficando outros calados somente
ouvindo, com um olhar admirado, às vezes, concordando ou não.
Saudou-me colocando a mão no
chapéu branco que cobria a sua calvície e alguns fios de cabelo brancos, com
um:
Como vais?
Nunca mais te vi!
O que aconteceu?
Nada respondi de imediato.
O que aconteceu? Está surdo? Acorda!
Retrucou.
Apontando para um pequeno barco solitário
que deslizava pelo Rio Capibaribe com o dedo riste para o Rio Capibaribe, - falou
parado na frente do Edifício São Cristovão - É um rio semimorto. Poluído. Não
existe mais nada de pesca até os siris desapareceram. Ninguém ver mais um
pescador jogando a sua tarrafa de cima das pontes. É horrível este estado que
presenciamos e sem que ninguém dê um jeito. Não tem governo que concerte esta
situação, prometem, mas não cumpre. Quantas e quantas vezes ouvimos falar o ler
na imprensa que este rio vai se tornar navegável e ser mais um meio de
transporte fluvial, para a população. Bulhufas! Bulhufas! É conversa fiada de
políticos. Quem sabe agora com a exigência da FIFA para a Copa do mundo não dê
jeito, nem que seja durante o torneio? Estão gastando “mundo” e “fundos” na
construção de viadutos, estradas, estádio e outros e depois será que vão manter
este investimento.
Disse, começando andar
devagarzinho entrando na Galeria,
O burburinho das pessoas nos “comes em pé” das
lanchonetes, nas barracas nas calçadas e dos ônibus trafegando com seus ruídos
ensurdecedores, chegamos finalmente ao nosso destino passando pela Rua da União
contemplando o busto do poeta Manuel Bandeira. Sentamo-nos a mesa, já conhecida
aonde o garçom João, dono do Bar veio ao nosso encontro com um sorriso aberto
ajeitando os óculos e com um pano de mesa no pescoço. Passou sobre a mesa o pano encardido e úmido,
cumprimentando com um Bom Dia. Não! Não! É boa tarde, riu, olhando para o
relógio feio e descascada a pulseira pelo tempo.
Traga uma cerveja bem geladinha e
aquele pratinho de sarapatel com limão, enquanto aguardamos os demais
companheiros que por certo virão. Ajeitou-se na cadeira. Tirou o chapéu e
enxugou a testa com um lenço desbotado, enquanto o João já de imediato servia a
cerveja em copos americanos, saindo. O sarapatel logo chegou.
Olhando para mim, disse estamos ficando velho,
não é? Quantos aniversários tens? Olhando para mim através dos óculos de grau
na ponta do nariz. Eu, 68! Respondi. Eu
tenho 72, fiz no mês passado, comemorado pelos meus meninos. Alguns amigos de
outrora e da agora foram me cumprimentar, mas não tive meio para te avisar.
Fica para o próximo ano.
Deixa pra lá! Disse. O importante
é que estás inteiro, não é?
É, com apenas alguns senões da idade. Mas
estou novo e de amor novo!. Olha vou te contar este segredo que ninguém sabe,
pois aconteceu há pouco tempo e eu não falei com nenhuma pessoa sobre este
assunto. Pois é meu amigo depois de velho arranjei um “encosto”. Nisto chegou
Gonçalves. Sentou-se e disse logo ali perto houve um acidente. Um motoqueiro
tinha sido atropelado. A aglomeração de pessoas chamava a atenção pelo corpo
estendido no meio da pista, coberto com um pano preto. Mas deixemos de
tragédia, isto sempre vai acontecer. Como vão vocês dois? O Taveira sumiu, mais
tem um ditado que diz “quem é vivo aparece” E tu Ataíde estais com uma cara de
quem “comeu e não gostou”, riu. Por uns instantes, ficamos calados. Queria prosseguir
em relatar o seu segredo, mas ficou pensando. Depois de alguns minutos, após
sorver um gole da “branquinha” que tinha pedido para desentupir a goela, disse -
vou revelar o segredo, mas de agora em diante não será mais segredo, apenas um
fato. Ataíde, depois de beber a sua dose da Aguardente 51, olhou para nós,
pois, tinha tinham chegado o Américo, o Tomaz e o Aurélio. Éramos seis no momento.
Olhou para nós e com os cotovelos apoiados na mesa e num sussurro falou – Estou
tendo um caso com uma linda moca, de 26 anos de idade. Fitou todos nós
esperando uma reação. Leleco! Leleco! Disse o Gonçalves rindo alto, e
exclamando Bravo! Bravo! Já te olhaste no espelho? Dois pontos estão surgindo
na cabeça, apontando para a careca do Ataíde ainda sob o efeito da noticia. Nós
ficamos olhando uns para o outro diante daquela confissão. Alguns minutos
calados ainda sob o efeito da noticia dada naquele momento de descontração. Um homem, ou melhor, dizendo, um velho com os
seus 72 anos se metendo com uma mulher de 26, quer levar é chifre. Ataíde, disse, o Américo, tu não tens
dinheiro, já estas alquebrado para o sexo e, como tu vais satisfazer esta
“aproveitadora” quando estiver no cio. Como Leleco! Como Leleco! Depois de
velho sair por ai com chifre é de lascar, mas o problema é teu, não é verdade?
Ele ficou pensativo e chateado com as brincadeiras que sempre acontece em bar.
Lá pelas 15 horas levantou-se e disse: Vocês
estão é com inveja. Vou indo que eu tenho um compromisso agora no final da
tarde. Pagou a sua parte na despesa. Ao sair disse até amanhã. Aurélio falou
alto, já com o Ataíde na calçada “Cuidado”! Cuidado! Quando chegar encontrar o
“urso”.
Vão se lascar!!!
Saiu rindo em direção a Avenida
Guararapes. Começamos a rir, também.
Lá vai o Leleco! Leleco!
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