Por Zezinho de Caetés
Li o texto abaixo no Blog
do Augusto Nunes na última segunda-feira, dia 23, tendo um extenso título: “Depois de pousar no TCU pendurada em duas
certidões de nascimento, a ministra Ana Arraes virou babá de mensaleiro”.
Eu achei o título tão grande que me alegrei imaginando comentar só sobre ele
num texto para esta semana. Afinal de contas eu já havia falado aqui, não sei
onde e não me lembro bem o que sobre a indicação da Ana Arraes para o TCU,
processo em que o Eduardo Campos mostrou todo seu amor filial (ou de neto?)
para nomeá-la.
Naquela ocasião, eu já temia
não pela reputação do Eduardo, mas, pela reputação do Estado de Pernambuco, quando
seu governador se imiscui tão abertamente em assuntos como este. Isto apenas
prova onde o nosso coronelismo foi maior e mais contundente. A enxada e o voto
ainda permanecem vivos mesmo que hoje sejam só virtuais, ou em forma de Bolsa
Família.
Chego a me perguntar se
realmente o Brasil é um república ou uma monarquia disfarçada, onde os membros
da corte se revezam no poder e os príncipes, princesas e rainhas mães nunca
deixaram seus postos. O ciclo anterior de nossa história se dizia pautar pela
evolução: “Avô nobre, filho rico, neto
pobre”. Aqui em Pernambuco a evolução agora é: “Avô socialista, filha no TCU, neto capitalista”. Será um avanço?
O que digo, e o texto
abaixo o faz com mais eficiência informativa, é que a mãe do governador, e até
ele próprio podem ficar marcados para sempre com o estigma de deturpadores do
julgamento do mensalão, que começará no próximo mês, fazendo subir a
temperatura política no país.
Leiam o texto abaixo e eu
não voltarei, pois estou saindo agora mesmo para providenciar comida e bebida
para acompanhar este grande julgamento, onde, talvez, o Delúbio seja imolado
para salvar os verdadeiros imperadores das falcatruas. Deixo apenas a pergunta
que colocarei como título deste texto, relembrando o grande Chico Anísio, com o
seu Pantaleão Pereira Peixoto: “É
mentira, Terta!”
“O currículo de Ana
Arraes, essencialmente, restringe-se a um par de certidões de nascimento. A
primeira informa que seu pai é Miguel Arraes, três vezes governador de
Pernambuco. A segunda atesta que um de seus filhos é Eduardo Campos, dono há
mais de cinco anos do cargo que foi do avô. Pendurada nos dois documentos, Ana
Arrais escapou do anonimato imposto a figuras desprovidas de brilho próprio.
Virou dirigente do PSB, deputada federal e ministra do Tribunal de Contas da
União. Acaba de virar manchete com a decisão de transformar em negócio legal
uma negociata milionária, descoberta em 2005, que envolveu os mensaleiros Marcos
Valério e Henrique Pizzolato.
Se Ana não fosse “a filha de
Miguel Arraes”, os companheiros do PSB se dispensariam de tratar com tanta
reverência a mulher que, filiada ao partido desde 1990 por determinação do pai,
seria reprovada no Enem caso a prova de redação pedisse um texto de cinco
linhas sobre o socialismo à brasileira. Se não fosse “a mãe de Eduardo Campos”,
herdeiro do patrimônio eleitoral do patriarca morto em 2005, a advogada que se
diplomou aos 41 anos provavelmente estaria, aos 65, cuidando dos netos no Recife. Graças ao
governador que a criou e ao que pariu, foi eleita deputada em 2006, reeleita em
2010 e, em outubro do ano seguinte, ganhou o emprego no TCU.
Como cabia ao Congresso preencher
a vaga no tribunal, Eduardo Campos acampou em Brasília até garantir a indicação
também pleiteada por Aldo Rebelo. Primeiro conseguiu o apoio de Lula,
interessado em infiltrar no TCU gente de confiança. (Dele, naturalmente).
Depois se entendeu com Dilma Rousseff, acertou-se com o PT, alugou meia dúzia
de bancadas, atraiu tucanos subordinados ao senador Aécio Neves ─ e venceu.
Os parlamentares que votaram na
mãe de Eduardo Campos instalaram no TCU uma deputada medíocre e oradora
tatibitate, incapaz de apresentar um único projeto relevante em quase cinco
anos de mandato. Mas capaz de qualquer coisa para servir aos interesses do
governo ─ e às vontades de Lula, principal cabo eleitoral da campanha vitoriosa
no Congresso.
Em 22 de setembro de 2011, meu
amigo e vizinho Reinaldo Azevedo, amparado numa entrevista concedida por Ana
Arraes a Heraldo Pereira, mostrou a que vinha a futura ministra. Depois de
lembrar que é preciso evitar a paralisação das obras do governo, e para tanto
deveriam ser removidos entraves legais que atrapalham a vida do PAC, a filha e
mãe de governadores espancou a honestidade e a gramática para fazer o resumo da
ópera: “O TCU é um lugar político. Política não é só a partidária. Vou ao TCU
servir ao meu país, servir ao povo do Brasil, zelando pelos recursos públicos,
mas também com o olhar da política”.
O “olhar da política” fez com que
Ana Arraes enxergasse dois sóbrios homens de negócios na dupla de vigaristas
formada por Marcos Valério, gerente-geral da quadrilha do mensalão, e Henrique
Pizzolato, vice-presidente da área de marketing do Banco do Brasil. Relatora do
processo que se arrastava desde 2005, ela invocou uma pilantragem jurídica costurada em 2009 pelo então
deputado José Eduardo Cardozo, agora ministro da Justiça, para proclamar a
inocência dos mensaleiros juramentados a poucos dias do início do julgamento no
Supremo Tribunal Federal.
Basta ouvir duas ou três
declarações de Ana Arraes para constatar que o papelório foi redigido por
doutores em trucagens de tribunal. A ministra só assinou a decisão que, ditada
pelo olhar político, colidiu frontalmente com o olhar técnico dos pareceres de
três unidades do TCU que escancaram a transação criminosa. E vai morrer de
ilegalidade aguda assim que for recitada no Supremo pelos advogados de Valério
e Pizzolato.
Como informa o texto do
comentarista Otavio na seção Feira Livre, o contrato de publicidade firmado
entre o Banco do Brasil e uma das agências de Marcos Valério exige
explicitamente a devolução do dinheiro desviado para as malas de dinheiro da
quadrilha. A manobra concluída por Ana Arraes não vai mudar o curso do julgamento
no STF. Mas incluiu mais um tópico seu currículo indigente.
Dez meses depois de pousar no TCU
carregando apenas duas certidões de nascimento, a filha de Miguel Arraes e mãe
de Eduardo Campos também virou babá de mensaleiro.”
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