A Reforma da Previdência e os
milagres da Constituição
Por Zé Carlos
Eu não sou e nunca fui um
especialista em Previdência Social. No começo da vida profissional, num
trabalho escolar aqui outro ali, tentei estudá-lo, o que, penso, fez também o
Ministro da Economia, Paulo Guedes, que foi meu colega de classe (não, não sou
íntimo dele; deve fazer uns 40 anos que não nos vemos), e hoje tem a chance de
salvar o Brasil propondo uma Reforma para este setor, que foi esculhambado pela
nossa Constituição Cidadã, sendo a única no mundo que promete a felicidade para
todos, com trabalho ou sem trabalho.
Veio a calhar, o texto que
reproduzo abaixo, do Fernão Lara Mesquita, que detalha alguns aspectos do que
vivemos atualmente, com o início de um novo governo, que, para ou bem ou para o
mal (espero que para o bem) descobriu que sem uma mexida na Previdência Social,
não iremos muito longe.
No entanto, muitos (o PT não
conta porque nunca prestou atenção e nem fez nada para resolver o problema),
acham ainda que o importante é cumprir nossa Constituição, mesmo que isto nos
leve à insolvência fiscal e consequentemente ao desastre econômico e social. O
que tenho medo, neste governo, é que o Bolsonaro tome ao pé da letra o seu dito
“... e Deus acima de todos!”, e fique esperando um milagre do João de Deus,
quando o Paulo Guedes já demonstrou que “almoço
grátis” Deus só oferecia no Paraíso. O lema nesta terra cruel está mais para “Quem
não trabalha não come!”, que nossa Constituição revogou.
Eu diria que, sempre na “mediocridade”
dos ditos populares que “vão-se os anéis e ficam os dedos”. E os dedos ainda
podem ser salvos, mas, os anéis o PT levou, enganando o povo, ao dizer que os
estava trocando por outros mais bonitos, como se fosse milagre. Infelizmente, o
Padre Quevedo morreu e não pôde acompanhar a descoberta das mutretas atrás
destes pseudos-milagres. Esta é a tarefa do Capitão, que tem a chance de
mostrar a fraude desta “justiça social” de fancaria. E, como diz o articulista
abaixo, sem a ajuda do Guedes e uma reforma da previdência que puna os
privilégios das corporações, estaremos fritos.
Fiquem então com o Fernão e
meditem sobre se é possível a vida fora do Paraíso criado pela nossa
Constituição Cidadã:
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“O que falta para salvar a pátria
Por Fernão Lara Mesquita
Não há quem no serviço público
brasileiro não tenha sido tocado ao menos pela corrupção institucionalizada,
aquela que oficialmente não é tida como o que é porque a lei é o seu
instrumento de ação. Nem mesmo os militares passaram incólumes por essas três
décadas de elevação da cultura do privilégio à força em torno da qual tudo o
mais gravita no País oficial desde a Constituição de 88. Mas se havia qualquer
dúvida sobre o valor da reserva moral que lhes restou, ela acabou com os fatos
que se seguiram ao primeiro embate de 2019 entre Brasília e o Brasil.
Como acontece sempre na formação
de qualquer governo, a “área econômica” é a única que chega ao dia da posse com
todas as suas referências fincadas exclusivamente no País real. Brasília, de
onde, com as regras eleitorais vigentes, obrigatoriamente sai o núcleo dos
grupos que se substituem no poder, não sente o Brasil. Lá os salários sobem e
as carreiras progridem por decurso de prazo tão certo quanto que o sol nascerá
amanhã. Nunca aconteceu com seus familiares, nunca aconteceu com seus amigos,
nunca aconteceu com seus colegas de trabalho, nunca aconteceu com eles
próprios: a figura do “andar para trás” simplesmente não existe no modelo
cognitivo do típico cortesão de Brasília nem como exercício abstrato de
antecipação de uma possibilidade, simplesmente porque essa possibilidade não
existe.
Não é de surpreender, portanto,
que para todos quantos a cada nova conta a ser paga corresponde um novo
“auxílio” arrancado ao favelão nacional o “modelo de capitalização” na
Previdência – que em português plebeu quer dizer pagar por aquilo que se vai
consumir – pareça uma inominável maldade. Essa relação, para eles, nunca foi
obrigatória.
Mas agora a realidade está aí nua
e crua. Financiar os 30-40 anos de ócio que o brasiliense aposentado típico vem
colhendo sem nunca ter plantado custou ao Brasil passar da economia que mais
crescia para a economia que mais decresce no mundo hoje, mas Brasília nem
percebeu. Brasília “cresce” sempre, chova ou faça sol, por “pétrea”
determinação constitucional. E, na dúvida, lá vem o cala-boca: “A Constituição
não se discute, a Constituição cumpre-se”.
Só que não.
Agora, à beira do precipício, até
Brasília já sente a vertigem. O inchaço do funcionalismo nos 13 anos de PT
transbordando em progressão geométrica para as aposentadorias na flor da idade
que congelam os salários públicos no tope de cada carreira por quase meio
século mergulhou essa previdência sem poupança num processo de metástase. Com
quase 40% do PIB entrando, já não sobra sequer para pagar aos aposentados mais
os seus substitutos com o salário de entrada. E como quando falta dinheiro para
pagar a funcionário no Brasil é porque já faltou antes para tudo o mais –
hospitais, escolas, segurança pública, infraestrutura –, não há mais como não
agir.
Velhos hábitos demoram para
morrer, mas os embates da primeira semana de governo deram indicações animadoras
da força da humildade de Jair Bolsonaro. Ele vacilou quando se calou diante do
sindicalista Lewandowski infiltrado no STF. Ele vacilou quando recusou vetar o
aumento dos incentivos para a Sudam e a Sudene. Ele tem vacilado diante dos
“quiéquiéisso companheiro” dos amigos da vida inteira das corporações militar e
política, de que faz parte. Ele vacilou, até, diante do “fogo amigo” contra
Paulo Guedes. Mas Paulo Guedes é um homem de contas. A transição e os primeiros
dias de governo têm sido uma avalanche de números. E com números não se
discute. Assim que Guedes se decidiu a dar o limite dos “bailes” que estava
disposto a levar de Brasília parece ter caído a ficha e o presidente teve a
nobreza de rever sua posição. Realinhou o governo inteiro à Prioridade Zero de
deter a hemorragia previdenciária e o Brasil entrou em festa para deixar bem
clara a fundamental importância que essa atitude teve.
Brasília pode reagir a Onix
Lorenzoni, mas o Brasil reage a Paulo Guedes. E se confundir essas prioridades
o governo comete suicídio e nos leva junto. Não haverá segunda chance. Não há
tempo. Privatizações e descomplicações liberalizantes da vida produtiva poderão
acelerar o processo. Mas o que dirá se haverá ou não processo a ser acelerado é
o desenho da reforma da Previdência. E o lucro ou o prejuízo serão colhidos
inteiros a partir do momento em que esse desenho for conhecido.
Tudo isso parece ter-se tornado
subitamente claro para o governo. Tocados nos brios, os militares, que estão
longe de desfrutar os maiores entre os privilégios do Brasil com privilégios,
embora vivam no que para o País real não entra nem em sonho, declaram-se
dispostos a puxar a fila dos sacrifícios para dar o exemplo. É um gesto inédito
na História do Brasil e absolutamente decisivo. Se confirmado, cala para todo o
sempre a boca dos detratores da instituição. Já o campo do Legislativo reflete,
para bem e para mal, a diversidade do País. Mas quando chamado ao sacrifício
com o devido empenho, no governo Temer, prontificou-se a responder
majoritariamente a favor do Brasil. Foi detido pelo golpe Janot-Joesley que
abortou a votação decisiva na véspera de acontecer. Desde então, sentindo espaço,
suas piores figuras voltaram a dominar a cena. Mas um novo Congresso vem aí e,
no extremo, Poder eleito que é, ele sempre faz o que o Brasil diz que quer que
ele faça.
Falta, agora, o movimento da
inefável Versailles da privilegiatura que tem sido o Poder Judiciário. Não
haverá avanço na segurança pública se não houver avanço na economia. E não
haverá avanço na economia se não houver avanço na Previdência. Sem ambos, não
haverá pacote de leis nem articulação de forças de repressão capaz de deter a quase
guerra civil contra o crime organizado que vivemos. Mas se o ministro Sergio
Moro e seus fiéis escudeiros do Ministério Público, seguindo o exemplo dos
militares, liderassem o movimento de devolução de privilégios que suas
corporações há muito devem ao Brasil, a pátria com toda a certeza estaria
salva.”
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