“Os erros de Lula na crise de
2008
POR MÍRIAM LEITÃO
Na economia, 2008 é o ano que não
terminou. E talvez tenha começado antes do seu princípio. Entender a sucessão
de eventos que nos infelicita é fundamental neste período eleitoral em que
estão sendo feitas as escolhas. A crise internacional iniciada com a quebra do
Lehman Brothers no dia 15 de setembro assustou o mundo e bateu na nossa praia. “Uma
marolinha”, gabou-se Lula. Mas os erros cometidos antes e depois daquele dia
explicam o buraco fiscal no qual estamos. A onda ainda nos derrota.
A crise não havia começado, o
mundo crescia mais do que o Brasil, em 2007, quando foram tomadas decisões que
abririam um rombo nas contas públicas. Lula editou o PAC I, com a meta de
crescer 5% ao ano, e para isso ampliou muito os gastos públicos. Daí nascem as
milhares de obras hoje paradas. O governo tomou várias decisões na mesma
direção. Iniciou a construção de quatro refinarias, começou as transferências
do Tesouro para o BNDES, ampliou o conceito de micro e pequena empresa para o
faturamento de R$ 2,4 milhões. Isso elevou a despesa tributária com o Simples.
Existe em outros países, mas o teto é muito menor do que no Brasil. É dessa
época também a criação do FI-FGTS, que pegou dinheiro do trabalhador para
entregar a empresários a juros baixos e, em algumas ocasiões, em negociatas
como a que se viu no caso JBS. O PAC deu também dinheiro à Caixa, R$ 5,2 bilhões.
A crise de 2008 foi um tsunami
que ameaçou engolir todas as economias do mundo. Os bancos centrais dos países
ricos adotaram medidas para expandir a oferta de crédito, de dinheiro na
economia e de gastos públicos. Foi feito aqui no Brasil também. Uma coisa é a
emergência que precisava de atenção imediata. Outra coisa foram os estímulos
excessivos que começaram antes da crise e continuaram após o pior já ter
passado no Brasil.
A ordem dos eventos foi assim: o
país crescia a 4% quando em janeiro de 2007 o ex-presidente Lula lançou o
programa para acelerar o crescimento. “Não vamos descer a Rua Augusta a 120 por
hora. O objetivo é acelerar o crescimento sem comprometer a estabilidade”,
disse. Mas ele apertou o acelerador em hora errada e em intensidade perigosa.
Chegou a 2008 crescendo a 6% quando estourou o tsunami no mundo, provocado
pelos empréstimos arriscados e sem lastro no mercado hipotecário americano e
europeu. Bancos ameaçavam quebrar nas maiores economias. Lehman Brothers, com
170 anos, não abriu as portas na manhã do dia 15. No Brasil, algumas empresas
haviam feito operações perigosas no mercado de derivativo cambial. Sadia e
Aracruz encabeçavam a lista de empresas que apostaram em queda constante do
dólar. Com a crise, o dólar disparou. O BNDES teve que entrar financiando a
fusão da Sadia com a Perdigão, da Aracruz com a Votorantim Celulose. O braço
financeiro da Votorantim foi vendido para o Banco do Brasil. O Unibanco uniu-se
ao Itaú. O Banco Central ampliou a oferta de dólar na economia usando recursos
das reservas cambiais.
Como resultado da crise, o
crescimento foi a zero em 2009. As medidas anticíclicas para enfrentar a
emergência da crise global foram acertadas. O problema é que haviam começado
antes e permaneceram depois. Em 2010, o país crescia 7,5%, e o governo em vez de
reduzir os estímulos os aumentou. Era ano eleitoral e a candidata Dilma
Rousseff fora uma escolha pessoal de Lula. Neófita em eleições e sem carisma,
precisava de um ambiente de euforia econômica e de toda a maquiagem que João
Santana e Monica Moura sabem fazer, quando são bem pagos.
O governo manteve os estímulos
usados antes, durante e depois da crise. Reduziu impostos para setores
escolhidos, turbinou bancos públicos, aumentou o subsídio do BNDES e estimulou
o endividamento das famílias. Com isso, houve o período da euforia de 2010, que
está na mente dos eleitores como boa lembrança que o PT tenta avivar, e o rombo
fiscal que jogou o país na recessão, que o PT tenta apagar da história. São
filhos da mesma política, nascida no governo Lula e mantida enquanto foi
possível no governo Dilma.
O mundo saiu da crise, nós
estamos nela. Dilma poderia ter feito o ajuste, mas expandiu ainda mais os
estímulos. Foram os erros locais de Lula-Dilma que produziram a crise da qual
ainda não saímos.”
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