“Medo e indignação
Por William Waack
Está bem claro que nesta eleição
vai se decidir contra alguma coisa, e não por alguma coisa. A maioria do
eleitorado é a cara do fenômeno dos dispostos a romper “com o que está aí”.
Provavelmente, encerra-se o período histórico iniciado com a saída do regime
autoritário e a promulgação da Constituição de 1988. As grandes forças e o
sentido político que se sobressaem nesta reta final da eleição claramente
consideram obsoletos os sistemas político e boa parte das instituições que ali
se consolidaram.
Alguns elementos que indicam o
futuro próximo são bastante óbvios. A tendência do eleitorado em direção a
figuras autoritárias é o mais notável desses elementos. O líder das pesquisas,
Jair Bolsonaro, diz que resolve tudo praticamente no tapa, enquanto a
agremiação política que parece, no momento, a que vai disputar o segundo turno
com ele, o PT da corrupção, é o símbolo perfeito para a constatação de que
enorme número de brasileiros não entende quais ideias erradas, entre elas a de
que vontade política tudo resolve, levaram o País ao desastre. Estamos
presenciando o enterro do “sonho” social-democrata tipo punho de renda do
tucanato. O que havia de social-democracia no PT já havia sido sepultado pela
avalanche de corrupção, cinismo e mentira.
Não existe neste momento um
“centro”. O eleitorado raivoso clama por uma solução rápida – que a magnitude
dos problemas enfrentados sugere ser impossível, mas não importa. Esse mesmo
espírito do “vamos chutar o pau da barraca” prefere sonhar com passos para
conter a crise que venham de fora da política, ou que sejam anunciados como
soluções vindas de “fora do sistema”. Em outras palavras, e isso é bastante
preocupante, há uma enorme aceitação da promessa de se resolver questões (como
o déficit fiscal, que criaria perdedores por toda parte) sem considerar a
necessidade de compromissos e de articulação política muito mais abrangentes do
que conseguir 308 votos para maiorias na Câmara dos Deputados.
Há uma imensa desconfiança em
relação às instituições e uma das mais recentes a serem devastadoramente
atingidas é a da imprensa em geral, e dos grandes grupos de comunicação
televisiva em especial. É assombroso como o jogo se inverteu, e em que
velocidade: atacar esses colossos que antes eram capazes de determinar o futuro
de políticos é o que hoje confere estatura a políticos, e vários se dedicam com
êxito a lucrar em prestígio e simpatia no eleitorado fazendo uso em causa
própria dessa espantosa perda de credibilidade (em boa medida, por cegueira
política e covardia de dirigentes).
Numa sociedade com índices
espantosos de violência, e alguns sinais graves de anomia (como na greve dos
caminhoneiros), não deveria causar espanto algum a força com que medo e
indignação empurram a candidatura de Jair Bolsonaro – e um atentado ter
influenciado tanto a disputa.
Não me parece que o ex-capitão
seja o criador da onda que está surfando – até agora com boa vantagem sobre os
rivais. Talvez ele seja a expressão acabada de que o bom mocismo, o
politicamente correto tivessem sido apenas delírios de elites dedicadas a si
mesmas e vivendo em bolhas confortáveis em meio a um país pobre, desigual,
ignorante e atrasado (basicamente as mesmas mazelas enfrentadas pela geração
que escreveu a Constituição de 88).
O atraso, o retrocesso, o
desastre e os malefícios trazidos durante os 13 anos de populismo irresponsável
do lulopetismo já conhecemos bastante bem. Para onde vamos agora é uma completa
incógnita. O que sairá do que acredito ser a destruição da política brasileira
tal como a conhecemos por mais de 30 anos ninguém sabe.”
--------------
AGD comenta:
Sem comentários
Nenhum comentário:
Postar um comentário