“O drama é
maior do que 2018
Por ALBERTO
AGGIO
O Brasil vive
um momento dramático. Os brasileiros vão às urnas em outubro esperando que o
País encontre saídas reais para a crise e um novo sentido de futuro. As últimas
escolhas e a composição dos últimos governos deixaram sequelas profundas que
comprometeram a credibilidade da política. Hoje a crise ética é uma fratura
aberta; a segurança pública, um descalabro, acossada pelo crime organizado.
Parcas melhoras na economia e no emprego não alteraram esse cenário de
desesperança.
Diante da
confirmação da condenação de Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região
(TRF-4), que deve ceifar sua candidatura presidencial, o País tem diante de si
o desafio de superar o lulismo. A corrupção sistemática que arrasou o País nos
anos do lulismo abalou todo o edifício político que havia sido montado nos anos
de democratização. O cenário pós-Lula deverá requisitar o concurso do conjunto
da sociedade, da opinião pública, dos intelectuais, dos partidos políticos e de
todos os que se possam mobilizar pela reconstrução do País.
Lula e o PT
nasceram no outono do autoritarismo como peças do “sindicalismo de resultados”,
com roupagem e retórica de esquerda. No governo, o lulopetismo foi uma
“esquerda de resultados”, nefasta para a sociedade brasileira, em especial para
os mais pobres pois os subalternizou, fixando-os em seus interesses individuais
e impedindo qualquer perspectiva de elevação cultural e política que os
convocasse a formular e compartilhar um projeto nacional e civilizatório. O
lulopetismo foi tóxico para a democracia e a esquerda. Como escreveu Demétrio
Magnoli em artigo recente, “a ‘esquerda’ lulista escolheu o capitalismo
selvagem do consumo privado, do crédito popular, do cartão magnético, das Casas
Bahia e do Magazine Luiza” como horizonte de satisfação hedonista das massas. A
pragmática petista contou, das origens até agora, com a anuência da “esquerda
maximalista” que soldava apoios ao “grande líder” quando julgava necessário e
conveniente. Papel desempenhado também pelos intelectuais das universidades
públicas. Foi assim que o lulopetismo condenou o Brasil a não ver realizada a
social-democracia ou o reformismo que poderiam instaurar um novo cenário
histórico no País. Em nome do mito e servindo-se dele, o PT bloqueou a afirmação
de uma esquerda democrática, defensora das reformas e aberta ao novo.
No Brasil de
hoje, as ruas, que foram essenciais em 2013 e no impeachment de Dilma Rousseff,
em 2016, esmoreceram, mas não se despreocuparam. Como se sabia, seria ilusão
esperar delas uma saída clara para a crise em que o País mergulhou. Sem
conseguir estancar a crise ética, o governo Temer não produziu a expectativa
positiva que se esperava, mesmo com uma oposição fraca e prisioneira do
lulismo. A política, que havia revivescido, acabou por não se consolidar.
Resultado: o drama se instalou, com uma sociedade órfã sem poder confiar no
governo ou na oposição.
A expectativa
voltou-se para as dimensões externas à política, notadamente para a Operação
Lava Jato, que cumpria exemplarmente seu papel republicano e constitucional.
Desorientada, a opinião pública passou a admitir saídas ilusórias e
despropositadas. Alguns continuaram a ver nas ruas, via democracia direta, a
alternativa a esse estado de desorientação. Outros concluíram que decisivo
seria “dar o poder” aos “homens de toga”, como substitutos da má política.
Embalados pela ânsia de poder, outros ainda viram nas eleições presidenciais de
2018 a salvação mediante apoio a algum outsider, uma sedução pelo transformismo
que não faria mais que prolongar nossa agonia; por sorte, parece que essa febre
está cedendo.
Mesmo nesse
cenário parece haver alguma oxigenação no protagonismo dos chamados “movimentos
cívicos” que clamam por renovação da política. Indiscutivelmente positivos, seu
exclusivismo e seu finalismo eleitoral merecem, contudo, preocupação, bem como
requerem uma checagem do seu real tamanho e sua incidência. Se é preciso evitar
o “populismo” como alternativa, também é justo preocupar-se com o que os
italianos chamam de qualunquismo, isto é, uma política sem organicidade, que se
esgota na identidade do homem comum e das coisas simples, pois sabemos que a
política é complexa e exige muito mais do que isso.
Fará bem ao
País uma coalizão de forças que se expresse em ideias claras, equipando a
sociedade e o Estado para enfrentarem os problemas que derivam da grande
transformação advinda da revolução tecnológica em curso. O Brasil tem todas as
credenciais para proporcionar a seus cidadãos uma vida digna no momento em que
vai completar 200 anos de existência como país independente.
É, certamente,
uma batalha dramática e exigente, considerando todos os desafios que temos pela
frente, cujo inimigo maior são as promessas, imprudentes e perigosas, que
comprometem os horizontes fiscais da República, além de escamotearem, com
políticas econômicas dignas de desenhos autárquicos do passado, os equívocos
trágicos que a História, mesmo a mais recente, nos tem ensinado.
Não há razão
para desejar partir do zero e tampouco há razão para descrer dos brasileiros de
bem que construíram, mesmo contraditoriamente, um País cheio de vitalidade e
que, transformado, será um excelente lugar para viver. É preciso extrair do
esforço democrático de luta dos brasileiros um amplo programa de reformas que
deverá, sem as falsas promessas e ilusões da demagogia e da antipolítica, pôr o
País para andar. Não surgirá nada de novo nesta quadra se nossos propósitos não
visarem uma atualização verdadeira e realista. As ideias-chave para tanto são a
valorização do trabalho, da ética e da República, estímulo à inovação e ao
crescimento econômico, visão social consonante com o mundo em transformação,
democracia e novo reformismo. Com as pessoas no centro das nossas preocupações
e dos nossos horizontes.”
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AGD
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