Por Zezinho de Caetés
Ainda não acordei do final de
semana prolongado pela quaresma e encurtado pelas delações da Lava Jato. Foram
dias de imersão espiritual e de meditação para não cairmos na tentação de
explodir todos os políticos, jogando a água fora, junto com os peixes dentro.
Ao invés disto, guardamos a água para comentar, e comemos os peixes.
Com as notícias que se
amontoaram, não há outra forma de começar tudo de novo, a não ser pensando em
se ver livre de tudo e de todos, começando tudo de novo. Até que um “anjo” , nos sopra no ouvido e pergunta:
“Começar de onde, cara pálida?”.
Caio em mim e vejo que a vida
continua e o governo Temer, apesar de fraco, é o que temos. E, espero que ele
continue no mesmo ritmo, melhorando, bem devagarzinho a Economia, e tratando a
política com tato, para ver se conseguimos emplacar algumas reformas necessárias.
E hoje, com a derrocada do PT,
não por ter sido o único a fazer mal feitos, mas aquele que mais nos mentiu e
enganou na Nova República, tudo parece mais fácil. Já vemos que “os de sempre”
como Paulo Henrique Amorim, e outros na mídia, já malham o Lula como eu vim
malhando há muito tempo. Ou seja, os ratos já estão abandonando o navio e temos
que cortar sua rota de fuga.
Se alguém perguntar por que, a
resposta será a mesma que se deu para o impeachment da Dilma: Pelo conjunto da
obra, que nos levou a este miserê em
que nos encontramos. Foi uma mentira só.
E, para começar a semana em
grande estilo, dentro da minha área de Letras, encontrei um poema antigo do
Affonso Romano de Sant’Anna, que foi escrito lá pelos idos de 1980, mas que,
cai com uma luva nos tempos de hoje. Eu até mudaria o seu título que originalmente
foi: “A implosão da mentira”, para
outro muito mais moderno, tal como: “Ode
ao PT”, ou mesmo, e por que não: “Uma
ode a Lula”.
Leiam o Affonso, e vejam se eu
não estou certo, em todos os Fragmentos:
“Fragmento 1
Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem
sinceramente.
Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão
nacional/mente
que acham que mentindo história
afora
vão enganar a morte
eterna/mente.
Mentem. Mentem e calam. Mas suas
frases
falam. E desfilam de tal modo
nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.
Fragmento 2
Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.
Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre.
Mentem
fabulosa/mente como o caçador
que quer passar
gato por lebre. E nessa trilha
de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.
E assim cada qual
mente industrial?mente,
mente partidária?mente,
mente incivil?mente,
mente tropical?mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.
E de tanto mentir tão brava/mente
constroem um país
de mentira
-
diária/mente.
Fragmento 3
Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no
futuro
mentem novamente.
Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.
Por isto, desta vez, não é
Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.
Mentem como se Colombo partindo
do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.
Mentem desde Cabral, em
calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a
corrente
em curso, transformando a
história do país
num acidente de percurso.
Fragmento 4
Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em
harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.
Penso nos animais que nunca
mentem.
mesmo se têm um caçador à sua
frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.
Penso nas flores
cuja verdade das cores escorre
no mel
silvestremente.
Penso no sol que morre
diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.
Fragmento 5
Página branca onde escrevo.
Único espaço
de verdade que me resta. Onde
transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde
tarde
ou cedo deposito meu espanto e
medo.
Para tanta mentira só mesmo um
poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não
mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.
E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva.”
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