Por Zezinho de Caetés
Hoje, como se diz, estou mais
apressado do que menino roubando manga, e, por isso, vou escrever pouco e
deixar muito para os meus auxiliares, que, desta feita é um Editorial do
Estadão (“Choque de capitalismo”),
desta semana, que trata da implantação do capitalismo no Brasil, e que
transcrevo lá em baixo.
Sim, alguém pensou que algum dia
vivemos num regime capitalista em nossa economia? Nunca, em tempo algum.
Talvez, o mais próximo que tenhamos chegado foi durante o regime das capitanias
hereditárias, onde o Estado patrão não existia, a não ser na forma de alguma
caravela parada no porto.
Mais recentemente, o que vimos
foi a implantação de um empedernido capitalismo de estado onde o patrimonialismo
reina. E mais recentemente ainda, na era PT, este patrimonialismo se tornou tão
agudo ao ponto de o Lula, meu conterrâneo, não saber seu próprio salário, pois
pensa que ainda pode tirar do erário todos os seus ganhos a base de
aposentadorias.
Estes vícios no sistema econômico
contagiam o sistema político ao ponto de que, um partido, quando no governo,
nunca pensa em sair, e sim permanecer por séculos e séculos. Quando isto se
choca com o pouco de Democracia que nos trouxe a constituição cidadã, burla-se
esta porque ninguém é de ferro.
E a farra continua altaneira, ao
ponto de chegarmos a um governo cujo presidente governa sob às vistas de um
tribunal que quer lhe tirar do poder, não, porque ele está governando mal, nem
porque é ilegítimo, como dizem, e sim, porque ele veio de uma chapa que foi
eleita com base em propinas.
E, ontem, dentro disto tudo vi um
espetáculo deprimente de um tribunal adiar um processo que poderia cassar a
chapa vitoriosa numa eleição realizada 2 anos e meio antes. E, pasmem, a
decisão sobre o caso foi adiada, para às calendas gregas. Segundo os experts em
juridiquês, entre os quais não me
incluo, o processo pode terminar quando a chapa (no caso Temer, porque a Dilma
já ficou pelo caminho) deixar o governo no seu tempo normal de governo. Parece
até brincadeira, mas não é.
Não posso comentar mais sobre
esta decisão mas o farei outro dia, pela minha pressa. Agora, fiquem com o
Estadão, que trata do capitalismo no Brasil, o que seria um início de solução,
para nossos problemas, pois teríamos que ganhar nosso pão com o suor do nosso
rosto.
“Por força de duras
circunstâncias, o Brasil está abandonando aos poucos o modelo de “capitalismo
companheiro” que vigorou soberano durante os governos petistas. A grande
generosidade do Estado em relação a várias empresas, concedendo-lhes benefícios
que, na prática, acabavam por reduzir ou até mesmo anular o risco inerente ao
sistema capitalista, hoje simplesmente não cabe mais no Orçamento.
É claro que esse choque de
realidade – afinal, certos setores produtivos, antes acomodados às relações
privilegiadas com o Estado, agora terão de reaprender a viver sem os
estimulantes fiscais que lhes eram oferecidos a título de vivificar a economia
– não será recebido sem choro e ranger de dentes. Mas o governo deve persistir
nas medidas capazes de restituir ao mercado seu caráter concorrencial e livre,
única maneira de encorajar nos brasileiros o espírito empreendedor, fundamental
para o desenvolvimento do País.
O mais recente movimento nesse
sentido foi a decisão de acabar com a desoneração da folha de pagamento para a
maioria dos setores da economia. O governo espera arrecadar R$ 4,8 bilhões com
a medida, que beneficiava 40 mil empresas em cerca de 50 setores e representou
espantosa renúncia fiscal de R$ 54 bilhões entre 2012 e 2015. O governo de
Dilma Rousseff esperava estimular a economia e gerar empregos, mas não foi o
que se viu – nem empregos foram gerados nem a economia reagiu.
Durante muito tempo, porém,
acreditou-se que cabia ao Estado estimular os agentes econômicos, como se a
mera vontade do governo bastasse. Essa política fez os incentivos fiscais
saltarem de R$ 209 bilhões em 2011, ano em que Dilma Rousseff assumiu a
Presidência, para R$ 408 bilhões em 2015, quando a crise já estava à vista de
todos e não podia mais ser maquiada pela contabilidade criativa. Essa bondade
estatal custou mais de 6% do PIB, três vezes a média verificada nos anos 1980 e
1990. Era obviamente insustentável.
Mais do que esses números
estratosféricos, que ajudam a explicar a extrema penúria atual, o resultado
perverso do voluntarismo petista foi a consolidação da mentalidade segundo a
qual todo empreendimento deve contar sempre com a participação do Estado. Felizmente,
em razão das imensas dificuldades que o País hoje enfrenta, esse edifício de
favores assentado sobre relações de camaradagem, que comprometem a livre
concorrência, começa a ruir. O BNDES, por exemplo, mudou drasticamente de
orientação. Em vez de privilegiar os “campeões nacionais” eleitos pelo
lulopetismo, voltou a apoiar empreendimentos de todos os tamanhos, com ênfase
em capital de giro, essencial para manter a economia funcionando.
Além disso, o governo mudou a
fórmula de cálculo da taxa de juros sobre os empréstimos do BNDES, para reduzir
o subsídio ali embutido. Isso faz parte da intenção do governo de enxugar o
crédito direcionado, nome que se dá aos financiamentos oficiais – e que o
presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, apelidou de “meia-entrada”, isto é,
um benefício que não se explica senão como benesse a certos setores, pago pelos
contribuintes.
Outro sinal de racionalidade foi
a decisão do governo, anunciada em fevereiro, de reduzir a exigência de
conteúdo local para o setor de petróleo e gás, política que, a título de
estimular a indústria brasileira, encarecia a produção e diminuía a
competitividade da Petrobrás. Os petistas, é claro, reagiram com a habitual
fúria. Na sexta-feira passada, a bancada do PT na Câmara chamou a decisão de
“crime de lesa-pátria”. Já a Petrobrás, que luta para se recuperar após ter
sido dilapidada e assaltada pelo PT e seus associados, disse que a medida do
governo é “bem-vinda”.
Em todos esses casos, algumas
associações empresariais manifestaram grande descontentamento. Chegaram a falar
em “desastre”. Trata-se de um exagero. É evidente que ninguém gosta de perder
privilégios. Mas está mais do que na hora de aceitar o fato de que a
recuperação do País só será possível quando as relações de compadrio derem
lugar ao verdadeiro capitalismo.”
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