Por Thiago Santos Lima
Vamos ser sinceros, Dilma precisava
sair. Os órgãos do Poder Executivo desmoronavam a cada dia que ela governava o
País. Seus ministros atuais e de outrora e seus aliados no Congresso Nacional
eram levados todo santo dia pela Polícia Federal para depor ou, pior, para
ficarem presos temporária ou preventivamente. O cenário econômico era
desolador, o Brasil cotidianamente perdia a confiança de seus cidadãos (sem
contar a imagem no exterior) a cada pronunciamento desconexo ou nomeação
nefasta que ela fazia. A Presidenta – como ela preferia ser chamada – caiu por
sua própria incompetência, mais do que pela horda de maus caráteres com quem
convivia.
Seu governo foi responsável pela
pior recessão econômica desde 1948, quando esses dados começaram a ser
coletados pelo IBGE. A Petrobras foi saqueada até dizer basta, além de ter sido
usada por vários anos como instrumento de política econômica contra a inflação;
os Correios tiveram prejuízo de 2 bilhões de reais, a Caixa Econômica reduziu
seu lucro em 42% e o Orçamento Federal terminou 2016 com um módico rombo de
apenas 170 bilhões de reais! E, apesar desse quadro, o discurso da presidenta
se mantinha na mesma linha: “tudo foi necessário para preservar as conquistas
sociais dos brasileiros”. Em resumo, Dona Dilma Rousseff detonou a economia
nacional em prol das “conquistas sociais” ou, numa visão menos idílica, na
compra da dependência dos mais pobres.
Michel Temer assumiu o País. Sob
uivos de “golpista” ou de “salvador da pátria”, por disposição constitucional,
senta na cadeira do Palácio do Planalto e promete, de pé junto, não querer ser
reeleito, para ter a liberdade de fazer as reformas que a nação precisa,
naquela típica conversa de político “de raiz”. Propõe reforma previdenciária,
trabalhista, tributária, do ensino etc. Tem seus primeiros instantes de glória.
Promete, ainda, o que os brasileiros mais queriam ouvir: a não interferência na
Lava Jato. Porém, à semelhança de sua antecessora, vê que quase ninguém, nos
altos escalões da Capital Federal, está de fato interessado no bem do Brasil,
senão no seu próprio umbigo.
Aos poucos, a conta dos
congressistas começa a chegar. Quer dizer, deles e de quem os financia. Afinal,
o apoio para galgar a Presidência não sairia de graça, assim tão barato. E a
maior marca de que esse preço chegou foi a correria para aprovar a lei da
terceirização, a qual, por unanimidade das entidades trabalhistas, é um soco de
direita no trabalhador, eivada até de inconstitucionalidade.
Jogando a real, o fato é que Temer
quer sancioná-la, porque, como dizem alguns, pagaria duas faturas num ato só,
uma a Paulo Skaf, presidente da FIESP (a dona do patinho amarelo da Avenida
Paulista), e outra a Eunício Oliveira, presidente do Senado e dono duma das
maiores empresas de terceirização do País. No entanto, como nem tudo são
flores, o assunto caiu na boca do povo e, de forma geral, os cidadãos não estão
muito simpáticos a essa lei, pois, para além da bem possível precarização do
trabalho, tal norma pode servir de pano de fundo para toda sorte de nepotismo e
corrupção nas entranhas da República. Temer agora pode até vetá-la, antes de
mais um discurso cheio de mesóclise, mas não por sua íntima vontade, e sim pelo
“queima político” que ela pode causar.
Agora, peço uma atenção especial.
Entre Dilma e Temer temos duas faces da mesma moeda. Dilma esfrangalhou a
economia por conta das ditas conquistas sociais, ao passo que Temer rasga as
conquistas sociais em prol de avanços econômicos. Tanto um quanto o outro
incorporam o que a filosofia chama de falácia, que é um raciocínio em que temos
apenas uma de duas opções a ser feita, uma anulando a outra. É típico da
falácia esconder que existem mais de duas possibilidades, que o mundo não é só
preto e branco, algo que Dilma e Temer, por serem escravos de seus submundos,
preferem nem conhecer.
Enquanto embate de ideias, bons
argumentos podem sustentar qualquer visão de mundo dessas, tanto a de Temer
quanto a de Dilma. O problema é que abaixo dessa abstração conceitual existe um
mundo real, pouquíssimo conhecido pelos palacianos da Brasília, no qual se
encontram os milhões de Josés e Marias, os cidadãos comuns, que, no governo
Dilma, perderam seus empregos e agora, no governo Temer, perdem também seus
direitos.
É assim?! O que resta a um
Presidente é tomar decisões desgraçadas de tudo ou nada? Penso sinceramente que
não, sobretudo porque o problema principal do Brasil não é econômico nem
social, mas político, e esse, ainda que tenha de ser suportado pelos brasileiros
– porque somos nós afinal que elegemos essa malandragem toda – não pode ser
enfiado de goela abaixo travestido do discurso econômico ou do “mimimi” social.
Ah, no país da piada pronta, a
tragicomédia não poderia passar sem uma última observação: Dilma é economista e
quebrou a economia e Temer, que é jurista, está disposto, se preciso for, a
picotar a Constituição. Que decepção, doutores! Não foi para isso que Vossas
Excelências jogaram os capelos aos ares.
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