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quarta-feira, 19 de abril de 2017

O BARBEIRO!




Por José Antônio Taveira Belo / Zetinho 


Seu Joaozinho era um ótimo barbeiro na cidade de Lagoinha. O seu salão na Rua Nova, principal da cidadezinha, era visitado por todos que necessitavam do seu serviço, cortar o cabelo, fazer a barba e bigode no mais capricho, atendendo as pessoas pobres e afortunadas. O salão era muito bem tratado, limpo e asseado. As paredes pintada de amarelo claro, uma cadeira de madeira acolchoado de uma verde cana, um espelho grande na parede e numa mezinha, tesoura, pentes, pincel de barbear, loção para refrescar o rosto dos clientes. Não se descuidava da limpeza, varria a cada momento e espanava os aventais que servia para aparar os cabelos dos clientes. Seu Joaozinho era bem querido na cidade. Ali naquele local se reunia muitos dos seus amigos para conversar principalmente à tarde na calçada. Ao meio dia, se dirigia sempre a bodega de seu Mané, amigo de infância, no final da rua. Ali ia fazer sua fé no jogo de bicho, que era sorteado no final da tarde, colocando os números em uma tabuleta na porta da bodega, onde os apostadores iam conferir o seu pule, uns sorrindo, pois tinha acertado no grupo, ou na dezena, centena ou milhar este pulavam de alegria. Outros saiam desconsolados esperando a sorte no dia seguinte. Tinha vontade de comprar um carrinho para passear pelas redondezas com a sua mulher dona Quitéria. Jogava a milhar 1476, fazia parte do bicho que ele achava bonito e não podia criar no seu quintal, o pavão. Dizia sempre – Deus tarda, mas não falha, essa expressão era dita toda à tarde que ia conferir o sorteio. Dona Quitéria muito bonita exalava o perfume de alfazema, quando passava pelos clientes no salão par ir ao comércio. Os homens olhavam uns para os outros sorrindo, pois sabia muito bem que ela era uma pessoa que flertava com muitos, e dizia as más línguas que ela botava ponta no Joaozinho, com o açougueiro Zeca. O barbeiro ignorava estas falas, confiava na mulher que tinha casado há mais de vinte anos. De tanto jogar, certo dia ao conferir na tabuleta na bodega, pulou de alegria, pois tinha ganhado a milhar. Correu para casa para contar a novidade, Com o dinheiro no bolso, correu logo para satisfazer o seu desejo criado há anos, a compra de um carro. Seu Belinho tinha um carro novinho, quase não saia de casa, pois estava já velho e desejava vender para comprar umas vacas para o seu sitio, Lago do Mato. Joaozinho se interessou e comprou o carro e saiu dirigindo precariamente pelas ruas sossegadas de Lagoinha. Resolveu dar folga a si, e foi a capital comprar material para sua barbearia que agora ia ser o chamariz e a mais frequentado, inclusive gente da alta. Às cinco horas da manhã partiu sozinho para Recife oitenta e nove quilômetros de distancia. A estrada ruim de barro dava solavancos a cada momento, o que o barbeiro reclamava que estava esculhambando o seu carro novinho, com a poeira e as pedras que eram atiradas no assoalho. Durante quatro horas correu pela estrada e finalmente ganhou a rua principal da capital num meio de carros passando de um lado para outro ficando atordoado com o movimento. No centro da cidade começou a andar pela rua se mostrando, não parava em nenhum sinal, pois não conhecia as cores verdes, amarela e vermelha que regulava o transito, ignorava passava em qualquer sinal fazendo os outros motoristas reclamarem com freadas bruscas, exclamando: Barbeiro! Barbeiro! Barbeiro! A cada grito se orgulhava, ele não conhecia ninguém e todos o conheciam. Voltou para casa entusiasmado. Todos na capital o conheciam. Foi logo dizendo: mulher tu sabes duma coisa? Todos na capital me conheciam. Ao passar pelas ruas dirigindo somente ouvia o nome: Barbeiro! Barbeiro! Barbeiro! Isto me deixou orgulhoso. Na próxima semana eu vou de novo e tu vais comigo para tu ver o que eu digo é verdade. Passado oito dias Joãozinho voltou a capital. Dona Quitéria se enfeitou toda botou roupa e sandália novas, penteou o cabelo colocando laquê para não assanhar, brincos e pulseira e sorridente sentou-se ao lado do marido e partiu às cinco horas da manhã numa terça feira. O sol quente agoniava Dona Quitéria e seu Joãozinho na buraqueira da estrada e a poeira invadindo o seu automóvel. Chegou finalmente na capital, sorridente Seu Joãozinho disse para mulher ao seu lado: tu vais ver agora se todos não me conhecem! Na primeira rua passou o sinal estava vermelho e ele ignorou quando houve uma freada brusca pelo outro motorista e gritou: Corno! Corno! Corno! Seu Joãozinho ficou encabulado e Dona Quitéria disse; Vamos embora!  Eles souberam por quem?  

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