Por José Antônio Taveira Belo /
Zetinho
Seu Joaozinho era um ótimo
barbeiro na cidade de Lagoinha. O seu salão na Rua Nova, principal da
cidadezinha, era visitado por todos que necessitavam do seu serviço, cortar o
cabelo, fazer a barba e bigode no mais capricho, atendendo as pessoas pobres e
afortunadas. O salão era muito bem tratado, limpo e asseado. As paredes pintada
de amarelo claro, uma cadeira de madeira acolchoado de uma verde cana, um
espelho grande na parede e numa mezinha, tesoura, pentes, pincel de barbear,
loção para refrescar o rosto dos clientes. Não se descuidava da limpeza, varria
a cada momento e espanava os aventais que servia para aparar os cabelos dos
clientes. Seu Joaozinho era bem querido na cidade. Ali naquele local se reunia
muitos dos seus amigos para conversar principalmente à tarde na calçada. Ao
meio dia, se dirigia sempre a bodega de seu Mané, amigo de infância, no final
da rua. Ali ia fazer sua fé no jogo de bicho, que era sorteado no final da
tarde, colocando os números em uma tabuleta na porta da bodega, onde os
apostadores iam conferir o seu pule, uns sorrindo, pois tinha acertado no
grupo, ou na dezena, centena ou milhar este pulavam de alegria. Outros saiam
desconsolados esperando a sorte no dia seguinte. Tinha vontade de comprar um
carrinho para passear pelas redondezas com a sua mulher dona Quitéria. Jogava a
milhar 1476, fazia parte do bicho que ele achava bonito e não podia criar no
seu quintal, o pavão. Dizia sempre – Deus tarda, mas não falha, essa expressão
era dita toda à tarde que ia conferir o sorteio. Dona Quitéria muito bonita
exalava o perfume de alfazema, quando passava pelos clientes no salão par ir ao
comércio. Os homens olhavam uns para os outros sorrindo, pois sabia muito bem
que ela era uma pessoa que flertava com muitos, e dizia as más línguas que ela
botava ponta no Joaozinho, com o açougueiro Zeca. O barbeiro ignorava estas
falas, confiava na mulher que tinha casado há mais de vinte anos. De tanto
jogar, certo dia ao conferir na tabuleta na bodega, pulou de alegria, pois
tinha ganhado a milhar. Correu para casa para contar a novidade, Com o dinheiro
no bolso, correu logo para satisfazer o seu desejo criado há anos, a compra de
um carro. Seu Belinho tinha um carro novinho, quase não saia de casa, pois
estava já velho e desejava vender para comprar umas vacas para o seu sitio,
Lago do Mato. Joaozinho se interessou e comprou o carro e saiu dirigindo
precariamente pelas ruas sossegadas de Lagoinha. Resolveu dar folga a si, e foi
a capital comprar material para sua barbearia que agora ia ser o chamariz e a
mais frequentado, inclusive gente da alta. Às cinco horas da manhã partiu
sozinho para Recife oitenta e nove quilômetros de distancia. A estrada ruim de
barro dava solavancos a cada momento, o que o barbeiro reclamava que estava esculhambando
o seu carro novinho, com a poeira e as pedras que eram atiradas no assoalho.
Durante quatro horas correu pela estrada e finalmente ganhou a rua principal da
capital num meio de carros passando de um lado para outro ficando atordoado com
o movimento. No centro da cidade começou a andar pela rua se mostrando, não
parava em nenhum sinal, pois não conhecia as cores verdes, amarela e vermelha
que regulava o transito, ignorava passava em qualquer sinal fazendo os outros
motoristas reclamarem com freadas bruscas, exclamando: Barbeiro! Barbeiro!
Barbeiro! A cada grito se orgulhava, ele não conhecia ninguém e todos o
conheciam. Voltou para casa entusiasmado. Todos na capital o conheciam. Foi
logo dizendo: mulher tu sabes duma coisa? Todos na capital me conheciam. Ao
passar pelas ruas dirigindo somente ouvia o nome: Barbeiro! Barbeiro! Barbeiro!
Isto me deixou orgulhoso. Na próxima semana eu vou de novo e tu vais comigo
para tu ver o que eu digo é verdade. Passado oito dias Joãozinho voltou a
capital. Dona Quitéria se enfeitou toda botou roupa e sandália novas, penteou o
cabelo colocando laquê para não assanhar, brincos e pulseira e sorridente
sentou-se ao lado do marido e partiu às cinco horas da manhã numa terça feira.
O sol quente agoniava Dona Quitéria e seu Joãozinho na buraqueira da estrada e
a poeira invadindo o seu automóvel. Chegou finalmente na capital, sorridente
Seu Joãozinho disse para mulher ao seu lado: tu vais ver agora se todos não me
conhecem! Na primeira rua passou o sinal estava vermelho e ele ignorou quando
houve uma freada brusca pelo outro motorista e gritou: Corno! Corno! Corno! Seu
Joãozinho ficou encabulado e Dona Quitéria disse; Vamos embora! Eles souberam por quem?
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