Por Zezinho de Caetés
Ontem li na mídia que o
presidente Temer se irritou e disse que tinha chegado ao máximo de
flexibilidade em relação a Reforma da Previdência. Ou seja, não mais vai ceder
aos caprichos da base aliada que só quer o “toma
lá” e não está entregando o “dá cá”.
Segundo ele, agora, ou vai ou racha.
Não é de hoje que a chamada base
aliada, depois de votar a PEC do Gasto, de forma brilhante, agora recua, diante
de outras reformas que são importantíssimas para o Brasil, porque são
impopulares. E todos sabemos o que medidas populares e irresponsáveis tomadas
pelo governo do PT, afetou o Brasil.
Lembram da queda dos juros e do
rebaixamento das contas de luz? Aquilo sim, o PMDB velho de guerra, não
hesitava em apoiar. Agora tem que apoiar as medidas para sairmos deste buraco
em que estas ações nos meteram. E não querem fazê-lo.
Eu, não tenho muita simpatia pelo
Temer, não porque ele é ilegítimo, porque não o é, mas sim porque ele passou
tanto tempo junto com o Lula e com a Dilma, que não pode ser boa bisca. Porém,
de uma forma ou de outra agora ele é o presidente e está no caminho certo das
reformas.
Dizem que a Reforma Trabalhista
virá primeiro do que a da Previdência, o que não seria a ordem natural das
coisas, todavia, o que pode ser chamado de natural, num país em que, o
candidato que está na frente nas pesquisas para presidência, responde a mais de
10 processos, e está com o pé na cadeia, como o meu conterrâneo, o Lula?
Mas, que venha a reforma
trabalhista, o que já é um grande passo para modernização do Brasil, junto com
a terceirização, já aprovada, e que venha finalmente a Reforma da Previdência,
a Tributária, e a mãe de todas as reformas, a Reforma Política.
Como não vou muito aos detalhes,
sempre encontro um texto que o faça para o deleite dos meus leitores. Desta
vez, o texto da vez, é do Fernão Lara Mesquita, que saiu no Estadão, e que ele
intitulou como: “Feche os ouvidos! Abra os olhos!” tendo como subtítulo: “Sem reformas que alterem o ‘sistema’ na
essência não existe hipótese de salvação”, onde ele mostra, ponto por ponto,
como estaremos numa canoa furada se as reformas não vierem.
Fiquem com o Fernão que eu vou
ficar ligado no Senado, para ver se os senadores vão ter coragem de se declarem
culpados, aprovando a Lei do Abuso de Autoridade.
“É meio como a coisa dos
assassinatos depois que passaram a ser filmados nas ruas. A gente sabe como as
pessoas se matam desde Caim e Abel. Mas ver isso ao vivo é sempre muito
chocante. Assistir às autópsias, então, faz a maioria das pessoas passarem a
“raciocinar” com o estômago.
É o ponto em que estamos. Às
vezes revolta, às vezes abre um oco na alma ir à minúcia de cada queda
delatada, mas novidade mesmo não há. Sempre foi essa a regra do jogo e ela
sempre foi clara. A coisa chegou aonde chegou porque nos últimos 30 anos
ninguém, eleitor ou, principalmente, autoridade judiciária, jamais cobrou sua
aplicação. É perfeitamente possível, hoje como antes, apurar quem, com “caixa
1” ou “caixa 2”, arrecadou para financiar eleições, quem aproveitou para se
locupletar e quem, junto com isso, vendeu leis, vendeu a pátria, vendeu a alma
ao diabo pelos faustos do poder. Pode-se traçar de onde saiu e aonde foi parar
cada tostão movimentado. As “contrapartidas” viraram leis, MPs, contratos e
contas na Suíça. Nada que se possa ocultar. Estão nos anais do BNDES, bilhão de
dólar por bilhão de dólar, as operações de cooptação de um “baixo clero da ONU”
que estenderia para além das fronteiras da América Latina bolivariana os sonhos
de poder e os métodos para conquistá-lo desenhados no Foro de São Paulo e
ensaiados no “mensalão”.
Há, portanto, enormes diferenças
na motivação e na extensão da ação e dos danos produzidos por cada ator da
novela da destruição do Brasil. Isso de condenar a regra que não se aplicou, em
vez do desleixo de não tê-la aplicado, é o padrão que deságua sempre nas
insidiosas “jabuticabas” que nos têm mantido fora do mundo e na miséria.
A continuação da parte dessa
história que tem como horizonte o “excesso de democracia” praticado na
Venezuela depende de se conseguir apagar essas diferenças. É nessa confluência
que a força reacionária da “privilegiatura”, pela primeira vez ameaçada de
recuo pelas reformas de Temer, se veio somar à correnteza do “lulismo”. Mas o
pior foi mesmo ter o acaso conspirado mais uma vez contra o Brasil ao fazer
coincidir tudo isso com o auge da Operação Lava Jato. É nesse cruzamento
infeliz de forças que, uns arrastando, outros sendo arrastados pelos vazamentos
sucessivos, se viram os guardiões da justiça forçados a abrir o pacote da
Odebrecht “em bruto”, o que aplainou as diferenças e de novo “zerou” o placar
eleitoral.
A situação do Brasil, entretanto,
não tem mais conserto com paliativos. O acerto de contas entre os dois Brasis
não é mais uma questão de opção. É uma impossibilidade matemática não fazê-lo.
Só falta saber em quantas etapas sucessivas e com que dose adicional de
desperdício e morticínio ele se dará.
O Estado toma 36% do PIB em
impostos e mais 10% do PIB na forma de déficits. São 2 trilhões e 500 bilhões
de reais. Na União, 54% dos gastos são com aposentadorias e outros benefícios
para inativos, 41% são com salários de funcionários ativos. Só 5% são
investidos em qualquer coisa que não seja pessoal. A média das aposentadorias
pagas no “nosso” Brasil é de R$ 1.600. No “deles”, de R$ 9 mil no Poder
Executivo, que propõe a reforma, e de R$ 25 mil no Legislativo, R$ 28 mil no
Judiciário e R$ 30 mil no Ministério Público, que, em voz alta ou em voz baixa,
resistem a ela. Dentro de cada um desses Poderes, o abismo entre os salários
básicos e os balúrdios acumulados por dentro e por fora da lei, com fraude em
cima de fraude, pelos respectivos “marajás” é ainda mais fundo que o que existe
entre salários e aposentadorias dos brasileiros de 1.ª e 2.ª classe. Como
“eles” são, ao todo, 10 milhões e os “marajás”, muito menos ainda, tem-se que
perto de 40% do PIB fica nos bolsos de menos de 5% da população, um grupelho
que, em pé, não enche a Praça dos Três Poderes, com a maior parte dessa fatia
concentrada nos de uma ínfima minoria dentro dessa minoria. Se, portanto, a
reforma da previdência privada é um imperativo demográfico, a da pública é um
imperativo de salvação nacional. Ou nós acabamos com isso ou “eles” acabam
conosco.
O que a extensão das delações
está provando é que de PSOL a pastor, de Odebrecht a trabalhador braçal
aliciado por advogadozinho achacador, tudo o que ingressa no “sistema” ou
apodrece ou é expelido. Sem reformas que o alterem na essência não existe
hipótese de salvação.
Corrupção é, essencialmente,
déficit de democracia; impotência do representado diante da falcatrua do
representante. “Estatizar” o financiamento de campanhas não conserta isso e
implica a “lista fechada”, que agrava essa impotência. O atrelamento dos
sindicatos ao imposto sindical, por Getúlio Vargas, condenou à morte a
democracia no Brasil. O cerco foi fechado com uma “justiça do trabalho” que, ao
institucionalizar o achaque, passou a corromper a base da sociedade. O
“apelegamento” dos movimentos sociais e partidos políticos pela Constituição de
88 foi a pá de cal. É impossível pensar em “democracia representativa” num país
onde todas as fontes primárias de representação da sociedade são sustentadas
por impostos e independentes de seus representados. Contornar a indústria do
achaque pela “terceirização” é condição essencial para a ressurreição do
emprego no Brasil. Mas acabar com o imposto sindical é inverter o polo do mais
antigo e fundamental dos vetores de forças negativas que atuam sobre o
“sistema”. O financiamento de campanhas pelo Estado vai na direção contrária. O
que torna eleições baratas de modo orgânico e saudável é encurtar o raio do
território onde um político está autorizado a pedir votos. E isso se consegue
com eleições distritais, método que, de quebra, torna explícito o laço de
dependência entre eleitores e eleitos, sem o qual é impossível uns controlarem
os outros.
Sim, a Lava Jato é intocável. Mas
feche os ouvidos ao barulho e abra os olhos às evidências. Sem reformas não
vamos a lugar nenhum. E fazê-las aos pedaços vai custar mais do que podemos
pagar.”
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