Por Zezinho de Caetés
Até a hora que escrevo, não sei
se o Lula irá depor em Curitiba no dia 3 de maio. Parece que pediram ao juiz
Sérgio Moro para que adiasse sua ouvida, devido à proximidade do feriadão do
Dia do Trabalho.
Além disso, há o planejamento de
uma “greve geral”, por aqueles mesmos
que se aproveitaram das benesses do PT no poder e, principalmente, pelas
corporações do funcionalismo público, cujos sindicatos estão ameaçados de
perder a “bocona” do imposto
sindical.
No fundo, no fundo, o que move os
pelegos para a greve é a possibilidade de não trabalharem nem na sexta-feira
nem na segunda-feira, e terem um feriadão maior do que o da semana passada.
Num país onde o desemprego chegou
ao nível que chegou, fazer greve é um contrassenso digno de nota ou de pena. No
nosso caso é de pena, e por isso, a Reforma Trabalhista é tão importante, e
principalmente, o que vem junto, que é a abolição do imposto sindical.
Os nossos trabalhadores vão enfim
aprender a negociar com os patrões sem a proteção viesada da Justiça do
Trabalho, cuja justiça hoje é defender trabalhador, mesmo que ele não trabalhe.
Mas, voltando ao ponto da
audiência de Lula, espero que o Sérgio Moro se comporte como vem se
comportando, não importando muito o dia em que ele vai ouvir meu conterrâneo.
Eu não espero sua prisão, a não ser que, com os nervos à flor da pele como ele
está, parta para o desacato.
Mas, para verem as possíveis
teorias a respeito do adiamento, ou não, do depoimento, vejam o texto do
imortal Merval Pereira, abaixo transcrito, que ele, ele intitulou muito bem de “Mistérios de Curitiba”, e notem, que
semana complicada será a próxima.
De qualquer forma, este encontro,
de tão esperado e importante, lembra até filme do Glauber Rocha, pelo menos em
seu título: “O dragão da maldade contra o
santo guerreiro”. Que vença o santo.
“O possível adiamento do
depoimento de Lula ao Juiz Sérgio Moro decorre do receio de manifestações
populares em Curitiba ou sinaliza que Lula pode ser preso a qualquer momento? A
Polícia Federal pediu esse adiamento por que, como alega oficialmente, quer
mais tempo para organizar o esquema de segurança na cidade, ou está juntando
mais provas contra o ex-presidente? Foi uma vitória de Lula? Foi uma
demonstração de medo de Moro?
Nenhuma explicação oficial faz sentido. Desde
março a data está marcada, e os organismos de segurança tiveram tempo
suficiente para organizar seus esquemas preventivos. Se foram surpreendidos com
uma movimentação acima do normal dos militantes petistas, serviços de
informação e segurança não são.
Difícil entender a comemoração dos
petistas e aliados, pois a situação de Lula fica cada vez mais fragilizada a
cada depoimento, como os de João Santana e Monica Moura dados ontem no processo
do Tribunal Superior Eleitoral, ou do próprio ex-presidente da OAS Léo
Pinheiro, que demonstrou uma intimidade com Lula e sua família que não pode ser
negada, pois quando foi levado coercitivamente para depor, o próprio
ex-presidente admitiu que era amigo de Léo Pinheiro.
Evidentemente são ex-amigos agora, mas Lula
procura atenuantes para as acusações, alegando que o ex-presidente da OAS as
fazia por que está negociando uma delação premiada. Claro que com isso procura
também deslegitimar as palavras de Léo Pinheiro, mas as evidências são muitas.
A possibilidade de Lula vir a ser
preso nos próximos dias existe, diante da denúncia de que ele orientou seu
amigo a destruir qualquer prova que ligasse o pagamento de propinas ao triplex
do Guarujá. Aconteceu assim com o ex-senador Delcídio do Amaral, diante de uma
gravação explosiva em que relatava as manobras para impedir que Nestor Cerveró
denunciasse Lula.
O fator surpresa, naquela
ocasião, foi fundamental para que o Senado aprovasse sua prisão. Já no
depoimento de Léo Pinheiro, a divulgação do vídeo tirou o impacto da revelação,
feita diante de advogados diversos e procuradores do Ministério Público. Creio
que só se surgirem novas provas – será isso que a Polícia Federal busca? – se
justificaria a prisão de Lula neste momento.
Assim como não acredito que o Juiz Sérgio Moro
esteja preparando a prisão do ex-presidente para o dia do depoimento, a não ser
que Lula perca o controle e afronte sua autoridade, no que também não acredito.
Seria uma atitude irresponsável que não o ajudaria em nada, ao contrário.
O comportamento da defesa do
ex-presidente é muito próximo, em diversas ocasiões, de uma afronta à
autoridade do Juiz Sérgio Moro, que tem conseguido se manter frio diante das
provocações. Fazer a mesma pergunta diversas vezes, de maneira diferente, é
costumeira forma de a defesa tentar protelar a decisão final.
Arrolar 87 testemunhas de defesa
é claramente um desafio e outra tentativa de ganhar tempo, e Moro caiu na
esparrela ao exigir a presença de Lula em cada um dos interrogatórios. Nada
indica que tenha poder para tal, e a única coisa que conseguiu foi mostrar a
motivação protelatória da defesa, mas deu margem a que fosse acusado mais uma
vez de perseguidor de Lula.
Para o ex-presidente, o melhor
cenário é ser condenado em segunda instância a tempo de ser impedido de
concorrer às eleições de 2018. Posaria de vítima e não correria o risco de ser
derrotado. Ninguém leva a sério a pesquisa da CUT/Vox Populi que indica Lula
como vencedor do primeiro turno. É só uma pressão política contra sua prisão.
Mesmo que fosse correta, é
preciso ser muito ingênuo para acreditar que Lula, com todas essas acusações,
especialmente depois das delações dos executivos da Odebrecht, conseguirá
manter essa pretensa popularidade numa campanha presidencial acirrada como a
que se aproxima.
O que é grave é esse ambiente de confronto que
está sendo armado para o dia do interrogatório. Afinal, Lula é intocável? Está
acima das leis?”
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