Por Zezinho de Caetés
Ontem, com sempre, acordei com o objetivo principal de
acompanhar, pela TV, o restinho da Comissão de Impeachment no Senado, no dia em
que falaria outra vez, para dizer as mesmas coisas o José Eduardo Cardoso
ministro da AGU que foi agora, permanentemente, contratado como advogado da
presidenta que se diz inocenta.
E o que vi lá? Um brilhante advogado com todos os trejeitos
próprios da profissão, e para os leigos, como eu, parecia até que a presidenta
inocenta seria mesmo inocente. Até que o relator começou a comentar as
perorações dele. Foi um arraso tal que até o Lindberg se escafedeu.
E hoje, já se tem como certo que a Comissão votará a favor
da admissibilidade do processo de impeachment, que quer dizer início do “bota fora” da presidenta, graças a Deus.
No entanto, houve outro fato que me tirou um pouco do constrangimento de ficar
ouvindo a voz da Gleisi Hoffman e vendo os trejeitos da Vanessa Graidiotin: O
Teori Zavascki, o ministro do STF, resolveu defenestrar o Eduardo Cunha.
Isto já era esperado por todos aqueles que viam no Cunha um
dos piores bandidos, e digo “um dos”
porque o Maluf ainda não morreu e o Lula ainda não sabe de nada, embora hoje,
quando ninguém está vendo, cochicham de sua importância para impichar a presidenta. Também, queriam o
que? Neste mundo até os piores podem, pelo menos por um dia, fazer algo de bom.
Por este caso específico, obrigado Eduardo Cunha. Pelo conjunto da obra, que vá
para Curitiba e tenha uma longa permanência por lá.
E vejam que, de tanto a tropa de choque da Dilma dizer que
há um “golpe parlamentar” em
andamento, ontem também surgiu a história de “golpe judiciário”, que foi evitado pela ação do Teori. Dizem os
adeptos das teorias conspiratórias que o Lewandowski e o Marco Aurélio, que só
querem o bem de Dilma, urdiam um golpe para acabar com o impeachment da
presidenta.
Explicando: Por um pedido da REDE de Marina, que balança,
balança e pode cair, o STF poderia tomar uma decisão de mandar o Cunha embora e
ainda mais anulando todos as suas ações. Eu não sei como isto seria feito,
porque é difícil imaginar o deputado botando para fora o que comeu, a não ser
pelas vias normais. Isto levaria à anulação do processo de impeachment,
deixando a presidenta livre, leve e solta. Seria um golpe e tanto.
O Teori, viu o perigo e disse: “Cunha fora, sem impeachment da Dilma, é golpe!”. E resolveu botar
ele para fora às 5 horas da manhã. E, como se viu, foi um sucesso. Mesmo com
alguns constrangidos, todos os ministros votaram a favor do trucidamento do
deputado. E hoje, amanhecemos com um deputado a menos na Câmara Federal.
Mas, não fiquem tão alegres. Quem assumirá a presidência da
Câmara é o Waldir Maranhão, cujo maior feito até agora foi se meter na Operação
Lava Jato. E, neste caso, o Temer, depois de assumir a presidência, não poderá
viajar. Já pensou o Waldir Maranhão na presidência?! Eu, neste caso, preferiria
o Renan. Vejam a que ponto chegamos.
No entanto, paro por aqui e vou outra vez para frente da TV,
para ver a votação final da Comissão do Senado, já esperando ouvir muitos votos
com o seguinte teor: “Pelo meu filho,
pela minha mãe, pela minha cadela Baleia, pelo meu periquito Flu-Flu, pelo Seu
Mané, o quitandeiro da esquina, pelo gato de minha filha, o Justin Bieber, SIM!,
senhor presidente!”.
Fiquem então com um texto do Ricardo Noblat (“O futuro sem Cunha”), que detalha para
onde vai o deputado. Eu só sei o “futuro
sem Dilma”, que, tenho certeza, será melhor do que com ela.
“Eduardo Cunha já vai tarde. Referendada pelo Supremo Tribunal Federal,
a decisão do ministro Teori Zavascki de suspender o mandato dele fez o que a
Câmara, por fraqueza e corporativismo, se arrastava para fazer, e tudo indicava
que não faria: extirpar um mal que envergonhava o país, embora não
envergonhasse a maioria dos deputados.
Dilma comemorou a decisão de Zavascki. Ela não servirá ao seu desejo de
escapar do impeachment, mas reforçará o discurso de que foi vítima de um golpe.
O PT comemorou — quando nada, a suspensão do mandato de Cunha servirá como um
prêmio de consolação diante do afastamento de Dilma do cargo de presidente.
O vice-presidente Michel Temer comemorou discretamente. Com tanto
apetite pelo poder, imagine o que Cunha não cobraria por ter ajudado Temer a
assumir a Presidência da República. Incomodava Temer a hipótese de, como
presidente da Câmara, Cunha vir a substituí-lo em suas eventuais ausências.
Cunha tem muitos aliados na Câmara como já demonstrou à farta. Mas tudo
se pode pedir a um político, tudo — menos que se suicide. Poucas horas depois
de conhecer a decisão de Zavascki, e apesar de surpreendida por ela, uma
parcela expressiva dos deputados já discutia nomes com chances de sucederem
Cunha na presidência da Câmara. Cunha já era.
O sucessor completará o mandato de Cunha, que se encerraria no início de
fevereiro do próximo ano. O segundo semestre de 2016 será tomado pela
realização das eleições municipais. A Câmara ficará esvaziada, como de resto o
Senado. Pouco importa, porém. Presidir a Câmara, mesmo que por pouco tempo,
enriquece a biografia de qualquer deputado.
O pragmatismo dos políticos acabará por apressar na Câmara o julgamento
de Cunha, acusado de quebra de decoro por ter mentido em CPI sobre dinheiro que
mantinha escondido na Suíça. A decisão de Zavascki não interromperá o processo
a que Cunha responde no Conselho de Ética. Parecer do Conselho será votado mais
adiante pelos 512 deputados.
Nem por isso deve-se subestimar a capacidade de resistência de Cunha, e
a liderança que exerce entre colegas. Uma coisa é certa: a escolha do novo
presidente da Câmara passará por Cunha, o maior eleitor que existe ali.”
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