Por Zezinho de Caetés
Ontem, como me preparava para ir aos festejos religiosos de
Corpus Christi, publiquei o texto genérico sobre “esquerda” e “direita”,
que foge um pouco do tema atual da política brasileira que é usar um aparato
tecnológico, que eu só via nos filmes, para fazer gravações de políticos.
Ontem estava lendo na mídia que as gravações feitas e já
publicadas exigem um alto grau de tecnologia e a ajuda dos agentes (a não ser
que o Sérgio Machado, que estavam chamando de Sérgio Juruna porque tinha usado
um gravador, tenha obtido os equipamentos no câmbio negro) policiais, pois
necessitam de uma van, aqueles carros
que parecem uma Kombi, com um aparato enorme de aparelhos sofisticados para gravação.
Para mim, isto é uma novidade. Então os políticos que se
cuidem. Ao invés de verificarem se os interlocutores estão com celular, usando
um detector de metais ou colocando-os num bizaco, é melhor deixar o cabra nu,
em pelo, para verificar se tem microfones, ou, pelo menos, olhar a rua para ver
se há kombis por perto.
De qualquer forma o Sérgio Machado conseguiu, além do Jucá e
do Renan, gravar o Sarney. Este deve ter sido o mais fácil, porque eu não
acredito que ele, com sua idade, esteja por dentro de toda esta parafernália
tecnológica. Num dos trechos da gravação (que reproduzimos abaixo) publicada
pela Folha de São Paulo, ele, o Sarney cita o Amaral Peixoto que dizia: “dois já formavam uma reunião, e três era
comício”. Ele não sabia que hoje, uma conversa a dois pode se tornar num
país inteiro reunido, ouvindo as conspirações contra a Lava Jato.
E o pior de tudo é que o Sérgio Juruna sabia o que estava
fazendo em todas as três gravações: Querendo se livrar do Sérgio Moro. Aliás,
como todos os políticos que tem o rabo preso. E jogava cascas e mais cascas de
bananas para os caras caírem. Ou seja, quanto mais sujeira aparecesse menor
seria sua pena, e ontem soubemos que o Teori Zavascky, ministro do STF
homologou a delação do Juruna o que significa que elas agora são oficiais nos
inquéritos. Se isto continuar assim, vai haver choro e ranger de dentes, mais
do que o Lula, segundo o Sarney, está chorando. Por via das dúvidas, eu até vou
verificar agora se tem alguma Kombi aqui por perto, pois de vez em quando eu
converso com meu gato, o Lulinha.
Um exemplo das “cascas
de banana” é quando o Sérgio Machado diz que “A presidente é bunda mole”. Já pensou se o Sarney escorrega e diz
que isto é verdade de forma direta? Seria um escândalo sexual, ao invés de
político. Embora que, ele diz isto indiretamente, e também os outros gravados,
porque se há alguma coisa em que há concordância geral entre eles é que a
presidenta (naquela época) “já era!”.
Eu poderia continuar analisando o papo entre os dois, mas,
acho melhor que os leitores concluam por si mesmos, se há algum bunda mole
nesta história. Aliás, devo dizer que isto é apenas a ponto do iceberg, e pelo que estou lendo agora o Titanic é o Renan, que segundo o Juruna, era o grande beneficiário do esquema. Ainda tem muito de que falar.
PRIMEIRA
CONVERSA
SARNEY - Olha, o homem está no exterior. Então a
família dele ficou de me dizer quando é que ele voltava. E não falei ontem
porque não me falou de novo. Não voltou. Tá com dona Magda. E eu falei com o
secretário.
MACHADO - Eu vou tentar falar, que o meu irmão é
muito amigo da Magda, para saber se ele sabe quando é que ela volta. Se ele me
dá uma saída.
MACHADO- Presidente, então tem três saídas para a presidente
Dilma, a mais inteligente...
SARNEY - Não tem nenhuma saída para ela.
MACHADO -...ela pedir licença.
SARNEY - Nenhuma saída para ela. Eles não aceitam
nem parlamentarismo com ela.
MACHADO - Tem que ser muito rápido.
SARNEY - E vai, está marchando para ser muito
rápido.
MACHADO - Que as delações são as que vem, vem às
pencas, não é?
SARNEY - Odebrecht vem com uma metralhadora de ponto
100.
MACHADO - Olha, acabei de sair da casa do nosso
amigo. Expliquei tudo a ele [Renan Calheiros], em todos os detalhes, ele acha
que é urgente, tem que marcar uma conversa entre o senhor, o Romero e ele. E
pode ser aqui... Só não pode ser na casa dele, porque entra muita gente. Onde o
senhor acha melhor?
SARNEY - Aqui.
MACHADO - É. O senhor diz a hora, que qualquer hora ele
está disponível, quando puder avisar o Romero, eu venho também. Ele [Renan]
ficou muito preocupado. O sr. viu o que o [blog do] Camarotti botou ontem?
SARNEY - Não.
MACHADO - Alguém que vazou, provavelmente grande
aliado dele, diz que na reunião com o PSDB ele teria dito que está com medo de
ser preso, podia ser preso a qualquer momento.
SARNEY - Ele?
MACHADO - Ele, Renan. E o Camarotti botou. Na semana
passada, não sei se o senhor viu, numa quinta ou sexta, um jornalista aí, que
tem certa repercussão na área política, colocou que o Renan tinha saído às
pressas daqui com medo dessa condição, delações, e que estavam sendo montadas
quatro operações da Polícia Federal, duas no Nordeste e duas aqui. E que o
Teori estava de plantão... Desculpe, presidente, não foi quinta não. Foi sábado
ou domingo. E que o Teori estava de plantão com toda sua equipe lá no
Ministério e que isso significaria uma operação... Isso foi uma... operação que
iria acontecer em dois Estados do Nordeste e dois no sul. Presidente, ou bota um
basta nisso... O Moro falando besteira, o outro falando isso. [inaudível]
'Renan, tu tem trinta dias que a bola está perto de você, está quase no seu
colo'. Vamos fazer uma estratégia de aproveitar porque acabou. A gente pode
tentar, como o Brasil sempre conseguiu, uma solução não sangrenta. Mas se
passar do tempo ela vai ser sangrenta. Porque o Lula, por mais fraco que
esteja, ele ainda tem... E um longo processo de impeachment é uma loucura. E
ela perdeu toda... [...] Como é que a presidente, numa crise desse tamanho, a
presidente está sem um ministro da Justiça? E não tem um plano B, uma
alternativa. Esse governo acabou, acabou, acabou. Agora, se a gente não agir...
Outra coisa que é importante para a gente, e eu tenho a informação, é que para
o PSDB a água bateu aqui também. Eles sabem que são a próxima bola da vez.
SARNEY - Eles sabem que eles não vão se safar.
MACHADO - E não tinham essa consciência. Eles achavam
que iam botar tudo mundo de bandeja... Então é o momento dela para se tentar
conseguir uma solução a la Brasil, como a gente sempre conseguiu, das crises. E
o senhor é um mestre pra isso. Desses aí o senhor é o que tem a melhor cabeça.
Tem que construir uma solução. Michel tem que ir para um governo grande, de
salvação nacional, de integração e etc etc etc.
SARNEY - Nem Michel eles queriam, eles querem, a oposição.
Aceitam o parlamentarismo. Nem Michel eles queriam. Depois de uma conversa do
Renan muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas condições.
MACHADO - Não tem outa alternativa. Eles vão ser os
próximos. Presidente: não há quem resista a Odebrecht.
SARNEY - Mas para ver como é que o pessoal...
MACHADO - Tá todo mundo se cagando, presidente. Todo
mundo se cagando. Então ou a gente age rápido. O erro da presidente foi deixar
essa coisa andar. Essa coisa andou muito. Aí vai toda a classe política para o
saco. Não pode ter eleição agora.
SARNEY - Mas não se movimente nada, de fazer, nada,
para não se lembrarem...
MACHADO - É, eu preciso ter uma garantia
SARNEY - Não pensar com aquela coisa apress... O
tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente.
Não deixar você voltar para lá [Curitiba]
MACHADO - Só isso que eu quero, não quero outra
coisa.
SARNEY - Agora, não fala isso.
MACHADO - Vou dizer pro senhor uma coisa. Esse cara, esse
Janot que é mau caráter, ele disse, está tentando seduzir meus advogados, de eu
falar. Ou se não falar, vai botar para baixo. Essa é a ameaça, presidente.
Então tem que encontrar uma... Esse cara é muito mau caráter. E a crise, o
tempo é a nosso favor.
SARNEY - O tempo é a nosso favor.
MACHADO - Por causa da crise, se a gente souber
administrar. Nosso amigo, soube ontem, teve reunião com 50 pessoas, não é assim
que vai resolver crise política. Hoje, presidente, se estivéssemos só nos três
com ele, dizia as coisas a ele. Porque não é se reunindo 50 pessoas, chamar
ministros.. Porque a saída que tem, presidente, é essa que o senhor falou é
isso, só tem essa, parlamentarismo. Assegurando a ela e o Lula que não vão
ser... Ninguém vai fazer caça a nada. Fazer um grande acordo com o Supremo,
etc, e fazer, a bala de Caxias, para o país não explodir. E todo mundo fazer
acordo porque está todo mundo se fodendo, não sobra ninguém. Agora, isso tem
que ser feito rápido. Porque senão esse pessoal toma o poder... Essa cagada do
Ministério Público de São Paulo nos ajudou muito.
SARNEY - Muito.
MACHADO - Muito, muito, muito. Porque bota mais
gente, que começa a entender... O Janio de Freitas já está na oposição,
radicalmente, já está falando até em Operação Bandeirante. A coisa começou... O
Moro começou a levar umas porradas, não sei o quê. A gente tem que aproveitar
ess... Aquele negócio do crime do político [de inação]: nós temos 30 dias,
presidente, para nós administrarmos. Depois de 30 dias, alguém vai administrar,
mas não será mais nós. O nosso amigo tem 30 dias. Ele tem sorte. Com o medo do
PSDB, acabou com ele, no colo dele, uma chance de poder ser ator desse
processo. E o senhor, presidente, o senhor tem que entrar com a inteligência
que não tem. E experiência que não tem. Como é que você faz reunião com o Lula
com 50 pessoas, como é que vai querer resolver crise, que vaza tudo...
SARNEY - Eu ontem disse a um deles que veio aqui. Eu
disse: 'Olhe, esqueçam qualquer solução convencional. Esqueçam!'.
MACHADO - Não existe, presidente.
SARNEY - 'Esqueçam, esqueçam!'
MACHADO - Eu soube que o senhor teve uma conversa com
o Michel.
SARNEY - Eu tive. Ele está consciente disso. Pelo menos
não é ele que...
MACHADO - Temos que fazer um governo, presidente, de
união nacional.
SARNEY - Sim, tudo isso está na cabeça dele, tudo
isso ele já sabe, tudo isso ele já sabe. Agora, nós temos é que fazer o nosso
negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com ele em
delação premiada.
MACHADO - Não estão falando.
SARNEY - Até falando isso para saber até onde ele
vai, onde é mentira e onde é valorização dele.
MACHADO - Não é valoriz... Essa história é
verdadeira, e não é o advogado querendo, e não é diretamente. É [a PGR] dizendo
como uma oportunidade, porque 'como não encontrou nada...' É nessa.
SARNEY - Sim, mas nós temos é que conseguir isso. Sem
meter advogado no meio.
MACHADO - Não, advogado não pode participar disso, eu
nem quero conversa com advogado. Eu não quero advogado nesse momento, não quero
advogado nessa conversa.
SARNEY - Sem meter advogado, sem meter advogado, sem
meter advogado.
MACHADO - De jeito nenhum. Advogado é perigoso.
SARNEY - É, ele quer ganhar...
MACHADO - Ele quer ganhar e é perigoso. Presidente,
não são confiáveis, presidente, você tá doido? Eu acho que o senhor podia
convidar, marcar a hora que o senhor quer, e o senhor convidava o Renan e
Romero e me diz a hora que eu venho. Qual a hora que o senhor acha melhor para
o senhor?
SARNEY - Eu vou falar, já liguei para o Renan, ele
estava deitado.
MACHADO - Não, ele estava acordado, acabei de sair de
lá agora.
SARNEY - Ele ligou para mim de lá, depois que tinha
acordado, e disse que ele vinha aqui. Disse que vinha aqui.
MACHADO - Ele disse para o senhor marcar a hora que
quiser. Então como faz, o senhor combina e me avisa?
SARNEY - Eu combino e aviso.
[...]
MACHADO - O Moreira [Franco] está achando o quê?
SARNEY - O Moreira também tá achando que está tudo perdido,
agora, não tem gente com densidade para... [inaudível]
MACHADO - Presidente, só tem o senhor, presidente.
Que já viveu muito. Que tem inteligência. Não pode ser mais oba-oba, não pode
ser mais conversa de bar. Tem que ser conversa de Estado-Maior. Estado-Maior
analisando. E não pode ser um [...] que não resolve. Você tem que criar o
núcleo duro, resolver no núcleo duro e depois ir espalhando e ter a soluç...
Agora, foi nos dada a chave, que é o medo da oposição.
SARNEY - É, nós estamos... Duas coisas estão
correndo paralelo. Uma é essa que nos interessa. E outra é essa outra que nós
não temos a chave de dirigir. Essa outra é muito maior. Então eu quero ver se
eu... Se essa chave... A gente tendo...
MACHADO - Eu vou tentar saber, falar com meu irmão se
ele sabe quando é que ela volta.
SARNEY - E veja com o advogado a situação. A
situação onde é que eles estão mexendo para baixar o processo.
MACHADO - Baixar o processo, são duas coisas
[suspeitas]: como essas duas coisas, Ricardo, que não tem nada a ver com Renan,
e os 500, que não tem nada a ver com o Renan, eles querem me apartar do
Renan...
SARNEY - Eles quem?
MACHADO - O Janot e a sua turma. E aí me botar pro
Moro, que tem pouco sentido ficar aqui. Com outro objetivo.
SARNEY - Aí é mais difícil, porque se eles não
encontraram nada, nem no Renan nem no negócio, não há motivo para lhe mandar
para o Paraná.
MACHADO - Ele acha que essas duas coisas são motivo
para me investigar no Paraná. Esse é o argumento. Na verdade o que eles querem
é outra coisa, o pretexto é esse. Você pede ao [inaudível] para me ligar então?
SARNEY - Peço. Na hora que o Renan marcar, eu
peço... Vai ser de noite.
MACHADO - Tá. E o Romero também está aguardando, se o
senhor achar conveniente.
SARNEY - [sussurrando] Não acho conveniente.
MACHADO - Não? O senhor que dá o tom.
SARNEY - Não acho conveniente. A gente não põe muita
gente.
MACHADO - O senhor é o meu guia.
SARNEY - O Amaral Peixoto dizia isso: 'duas pessoas
já é reunião. Três é comício'.
MACHADO - [rindo]
SARNEY - Então três pessoas já é comício.
[...]
*
SEGUNDA
CONVERSA
SARNEY - Agora é coisa séria, acho que o negócio é
sério.
MACHADO - Presidente, o cara [Sérgio Moro] agora
seguiu aquela estratégia, de 'deslegitimizar' as coisas, agora não tem ninguém
mais legítimo para falar mais nada. Pegou Renan, pegou o Eduardo, desmoralizou
o Lula. Agora a Dilma. E o Supremo fez essa suprema... rasgou a Constituição.
SARNEY - Foi. Fez aquele negócio com o Delcídio. E
pior foi o Senado se acovardar de uma maneira... [autorizou prisão do então
senador].
MACHADO - O Senado não podia ter aceito aquilo, não.
SARNEY - Não podia, a partir dali ele acabou. Aquilo
é uma página negra do Senado.
MACHADO - Porque não foi flagrante delito. Você tem
que obedecer a lei.
SARNEY - Não tinha nem inquérito!
MACHADO - Não tem nada. Ali foi um fígado dos
ministros. Lascaram com o André Esteves.. Agora pergunta, quem é que vai
reagir?
[...]
MACHADO - O Senado deixar o Delcídio preso por um
artista.
SARNEY - Uma cilada.
MACHADO - Cilada.
SARNEY - Que botaram eles. Uma coisa que o Senado se
desmoralizou. E agora o Teori acabou de desmoralizar o Senado porque mostrou
que tem mais coragem que o Senado, manda soltar.
MACHADO - Presidente, ficou muito mal. A classe
política está acabada. É um salve-se quem puder. Nessa coisa de navio que todo
mundo quer fugir, morre todo mundo.
[...]
SARNEY - Eu soube que o Lula disse, outro dia, ele
tem chorado muito. [...] Ele está com os olhos inchados.
[...]
SARNEY - Nesse caso, ao que eu sei, o único em que
ela está envolvida diretamente é que ela falou com o pessoal da Odebrecht para
dar para campanha do... E responsabilizar aquele [inaudível]
MACHADO - Isso é muito estranho [problemas de
governo]. Presidente, você pegar um marqueteiro, dos três do Brasil. [...]
Deixa aquele ministério da Justiça que é banana, só diz besteira. Nunca vi um
governo tão fraco, tão frágil e tão omisso. Tem que alguém dizer assim 'A
presidente é bunda mole'. Não tem um fato positivo.
[...]
SARNEY - E o Renan cometeu uma ingenuidade. No dia
que ele chegou, quem deu isso pela primeira vez foi a Délis Ortiz. Eu cheguei
lá era umas 4 horas, era um sábado, ele disse 'já entreguei todos os documentos
para a Delis Ortiz, provando que eu... que foi dinheiro meu'. Eu disse: 'Renan,
para jornalista você não dá documento nunca. Você fazer um negócio desse. O que
isso vai te trazer de dor de cabeça'. Não deu outra.
MACHADO - Renan erra muito no varejo. Ele é bom.
[...] Presidente, não pode ser assim, varejista desse jeito.
[...]
SARNEY - Tudo isso é o governo, meu Deus. Esse
negócio da Petrobras só os empresários que vão pagar, os políticos? E o governo
que fez isso tudo, hein?
MACHADO - Acabou o Lula, presidente.
SARNEY - O Lula acabou, o Lula coitado deve estar
numa depressão.
MACHADO - Não houve nenhuma solidariedade da parte
dela.
SARNEY - Nenhuma, nenhuma. E com esse Moro
perseguindo por besteira.
MACHADO - Tomou conta do Brasil. O Supremo fez a
pedido dele.
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