Por Zezinho de Caetés
Hoje acordei um pouco filosófico e veio a calhar um texto
que encontrei do Ricardo Bordin (que não conhecia), publicado no Blog do
Augusto Nunes com o título: “O que a
Esquerda, He-Man e Dançar na Rua têm em comum?” Fiquei curioso e fui lê-lo.
Afinal de contas, em minha juventude fui um fã do He-Man, tanto qualquer
criança da época que via TV.
E encontrei uma joia rara de didatismo para mostrar que o
embate Esquerda x Direita, contempla até desenho animado. Ou vocês pensam que
Esqueleto existiu mesmo? Já Dançar na rua pode até existir mas, nestes tempos
bicudos de impeachment, ninguém nem, pelo menos, tem vontade de dançar. Ou se
vai as ruas para dizer Fica Temer ou Fora Dilma. Quem não grita assim é da
esquerda. Por que?
Basta ler o artigo abaixo para notar que esquerda é sempre
relacionada à mudança e direita é relacionada ao conservadorismo. E ele tenta
responder à pergunta: Do que precisamos mais? Penso que de ambas as visões,
pois, ao contrário, com a direita viveríamos ainda na idade da pedra lascada, ou com a esquerda nem com isso,
porque todos quereriam lascar a pedra para ver o quem tem dentro.
Eu não diria aqui, para não cair no lugar comum de que “a virtude está no meio”, como se a linha que tracemos para mostrar as
ações sociais fosse tão bem definida que soubéssemos onde é seu meio. O
problema é que ela não é tão bem definida. Pelo contrário, é tão difícil
encontrar o seu meio, exatamente por que Deus escreve certo por linhas tortas,
e só Ele saberia onde é o ponto central, e não revelou ao homem, apesar de toda
grita dos religiosos de ele contou através dos livros sagrados. Como eles são
muitos, voltamos à estaca zero.
O melhor para mim é procurar o meio de nossa linha
individual e vivermos, o máximo possível de acordo com ele. Quando outro alguém
nos impõe a linha em que devemos estar, já é um retrocesso. E uma das minhas
ações básicas é defender a liberdade de cada um defender a sua linha e lutar
pelo lugar que você sabe ser o seu meio.
Isto, para os mais espertos, soa como liberalismo e defesa
daquilo que pensamos numa pluralidade de “centros”
que pertencem a outros. E eu acrescentaria, do ponto de vista político e da
necessidade da sobrevivência humana, transferirmos para outrem a escolha de
onde deveria ser nosso lugar na linha, que, deveríamos evitar ao máximo que
nossas decisões fossem, para esta esfera, que se chama modernamente da versão
do Estado, a intervenção em sua linha conduta.
E quando pensamos assim, como eu, estamos sabendo que
estamos longe do centro, mas também longe dos extremos, na direita ou na
esquerda. Para mim, a melhor opção de localização, não é o centro, e sim, um
tanto à direita, onde preservamos nossas tradições sem embotar nosso pensamento
com o progresso, e permitindo que a linha seja um lugar para todos, e sem que
alguns se arvorem de dizer onde devemos ficar.
Isto não é algo que possa ser definido de forma universal e
para todos os homens. Temos um tempo histórico que deve ser obedecido, e que
deve ser levado em consideração. Para resumir e deixá-los com o bom texto
abaixo, penso que, no Brasil de hoje, depois do PT, um bom lugar na linha é
lutar para que consigamos aprimorar nosso jovem sistema democrático,
aprofundando o capitalismo e dando relevo ao nosso individualismo.
Será que estou sendo revolucionário demais e vão me chamar
de esquerdista ou estaria sendo conservador de mais e serei chamado de
direitista? Sei lá, nem eu mesmo ousaria me definir com uma palavra.
“O que poderia levar um internauta a abrir um tópico de discussão como
esse da figura? Convencer um determinado grupo de pessoas, por meio de
argumentação, que esquerdistas são “melhores” do que conservadores (incluindo,
neste caso, simpatizantes de qualquer corrente de pensamento da direita) ou
convencer apenas a si mesmo? Eis a única dúvida que repousa neste caso, a meu
ver. Mas não pense que estamos diante de um caso isolado de baixa autoestima:
oferecer a possibilidade de sentir-se como um verdadeiro “cavaleiro das boas
intenções” costuma ser o principal método da esquerda para cooptar novos
adeptos. E o pior é que funciona. Pior ainda é que costuma funcionar melhor com
pessoas jovens!
Convenhamos que a proposta é tentadora: quem não quer sentir que está
jogando no time que “defende os pobres”? Que está ao lado das “minorias” ou
luta por um mundo “mais justo”? Todos querem estar do “lado do bem”.
Desenvolvemos esse sentimento desde a mais tenra infância, quando torcemos para
que o He-Man mate o Esqueleto, e levamos tal preceito no inconsciente para toda
a vida. Quem não gostaria de estar na pele de Davi quando ele derruba o gigante
Golias – personificados, respectivamente, nos “oprimidos pelo capitalismo
desenfreado” e nas grandes corporações do mercado? Oferecer às pessoas a
sensação de estar jogando no time dos mocinhos é quase irresistível. Como diria
Chapolin Colorado, “sigam-me os bons”. Mas quem define quem são os bons? Só
lamento ter de informar que o que a esquerda oferece não passa de uma sensação.
Quer oferecer algo que jamais será recusado? Ofereça aos jovens a
possibilidade de lutar contra o establishment, de desafiar o status quo, de
fazer uma revolução. A adolescência é a época da rebeldia contra as regras
impostas pelos pais e pela sociedade ─ agravada pela dificuldade recorrente de
muitos em sentir-se parte de um grupo ─, e canalizar essa energia para a
política “transformadora” costuma render partidários fiéis e obedientes. Por
outro lado, nada pode ser mais monótono e careta para os púberes do que o
trabalho repetitivo diário, a família tradicional, a “monotonia” gerada pelos
inegáveis avanços da civilização. Ponto para os partidos de esquerda, que
costumam oferecer essa chance de aloprar, de jogar para o alto as “imposições
do mercado”, de resetar tudo e começar do zero.
A tradição, então, passa a ser vista por esses jovens como um arcabouço
moral que visa manter os privilégios da burguesia dominante e não mais como a
consagração de valores e costumes que, em maior ou menor grau, contribuíram e
contribuem para a estabilização da humanidade, para amansar o selvagem do
homem. A partir daí, o clássico estudar/trabalhar/seguir regras/respeitar
limites passa a ser visto como subserviência, e, portanto, a ser contestado e
recusado por essa turma. Mais preocupante ainda é que muitos desses jovens não
abandonam essa visão com o avançar da idade, e em diversos casos ainda
aprofundam esse comportamento, invariavelmente apontando sua bazuca intelectual
na direção do liberalismo econômico – o mesmo que, vez por outra, é convocado
pela própria esquerda para pôr ordem nas contas públicas.
Edmund Burke, em seu clássico ensaio “Reflexões sobre a Revolução
na França”, já criticava a radicalização dos revolucionários franceses por seu
rompimento brusco e violento com os antigos costumes e com a tradição – com o
uso indiscriminado da guilhotina. Transcrevo trecho célebre de sua obra: “É
impossível estimar a perda que resulta da supressão dos antigos costumes e
regras de vida. A partir desse momento, não há bússola que nos guie, nem temos
meios de saber a qual porto nos dirigimos. A Europa, considerada em seu
conjunto, estava sem dúvida em uma situação florescente quando a Revolução
Francesa foi consumada. Quanto daquela prosperidade não se deveu ao espírito de
nossos costumes e opiniões antigas não é fácil dizer; mas, como tais causas não
podem ter sido indiferentes a seus efeitos, deve-se presumir que, no todo,
tiveram uma ação benfazeja”. Em outras
palavras, a humanidade chegou ao atual estágio civilizatório não porque ignorou
todos os aprendizados transmitidos pelas gerações anteriores e, sim, porque
cada sucessor partiu de onde o sucedido havia parado.
E o que nos ensinaram as experiências de diversas nações no campo
econômico? Que quanto mais livre o sistema, melhores serão as condições de
vidas de todos os cidadãos, especialmente dos mais pobres – acreditem: os
alemães pobres não pulavam o muro de Berlim do lado ocidental para o oriental.
Deveríamos, então, em nome da filosofia de manter a “mente aberta”, ignorar
tais lições e partir de uma tábula rasa? Eu considero que mais de 100 milhões
de mortes não podem ter sido em vão!
Por falar em mortes, é digno de nota que, uma vez que pessoas são
convencidas de que estão lutando o “bom combate”, elas passam a acreditar que
quaisquer métodos serão toleráveis em prol de seu ideal. Vale absolutamente
tudo no jogo do Bem contra o Mal, inclusive virar a mesa e cuspir no adversário
reacionário. Todas as atrocidades do comunismo foram “justificadas” partindo
desse princípio: tudo é permitido na busca de uma sociedade igualitária – menos
estudar, trabalhar e produzir, claro. Se o monopólio das boas intenções está comigo,
do outro lado só pode haver um fascista. Porrada nele!
Contestar a busca pela estabilidade é remar contra a natureza humana,
que busca incessantemente reduzir o caos em seu cotidiano. Evidência disso é
que turistas de países desenvolvidos gostam de visitar países como o Brasil,
mas dificilmente cogitam fincar raízes em um lugar tão instável. E todos somos
assim: gostamos de aventuras na desordem, mas no final do dia queremos voltar
para casa. Até mesmo o mais mulherengo dos homens, eventualmente, vai acabar
casando – não estou rogando praga, viu: casar é bom pra caramba! Conheço
pessoas que moram em Curitiba, a capital MENOS bagunçada do Brasil, e que
costumam criticar o povo Curitibano e seus hábitos MENOS brasileiros, como
evitar jogar lixo no chão e manter um círculo de amigos mais restrito. Todavia,
esse pessoal não quer se mudar para outra cidade, e alguns que se mudaram
acabaram voltando. Normal: é da natureza humana, como explicado.
Papel essencial na formação desta dicotomia desempenham os estúdios de
Hollywood e os dramaturgos nacionais, que disseminam a cultura de ódio aos
“capitalistas”, como se nós, que fazemos trocas voluntárias todos os dias, não
fossemos capitalistas também. É explícito que os protagonistas das tramas quase
sempre são pessoas que não valorizam os bens materiais, ao passo que os
antagonistas, indefectivelmente, são gananciosos que desprezam qualquer coisa
que não possa ser comprada. O mantra “trabalhe menos, viva mais” é difundido à
exaustão (há de se notar que o carpe diem de Horácio pregava “colher o dia” no
sentido de evitar gastar o tempo com coisas inúteis, e não da vagabundagem).
Todavia, é fato que os melhores IDH no mundo são observados em sociedades
capitalistas que adotaram medidas de cunho liberal em sua economia –
possivelmente a Nova Zelândia seja o exemplo atual mais emblemático. Mas isso
talvez não renda audiência para o filme ou para a novela.
Já que a tônica é “problematizar” (passatempo favorito da esquerda),
não seria de bom tom que os esquerdistas, antes de virarem “inocentes úteis”
(versão menos ofensiva da expressão cunhada por Lenin), checassem se as medidas
que propõem, são, de fato, benéficas à população? Será que lutar por ajuda
estatal (ou seja, com o dinheiro dos pagadores de impostos – inclusive dos
ajudados) para todos os cidadãos (experimente somar todas as minorias do Brasil
e ver o resultado) é melhor do que reivindicar privilégios para quem realmente
está em desvantagem competitiva, como portadores de necessidade especiais e
idosos? Será que desejar que a renda seja distribuída, em detrimento de enxugar
o Estado para que circule mais dinheiro nas mãos da iniciativa privada é mesmo
o melhor para as pessoas baixa renda, ou vai apenas fazer com que quase todos
virem pessoas de baixa renda? Será que aumentar tributos para subsidiar o
não-trabalho vai fazer nossa sociedade evoluir mesmo? E será que já cogitaram a
hipótese de que muitos pobres só são pobres em decorrência do tamanho do
Estado, e não apesar dele? Vou deixar Milton Friedman encerrar este parágrafo:
“Geralmente a solução do governo para um problema é tão ruim quanto o próprio
problema”. Para não mencionar que costumam custar muito caro!
Eis o “X” da questão: essa sensação de altruísmo que as pessoas buscam
na esquerda é uma falácia. Apoiar partidos com aspirações socialistas para se
sentir bem consigo mesmo – nem que para isso seja necessário desviar o olhar
dos fatos, estes eternos adversários da esquerda – pode ser confortável (dá
para fazer até do sofá de casa), mas não repercute positivamente na vida de
ninguém. Por isso, deixo sugestões de ordem prática para aqueles que querem
“melhorar o mundo”: doe dinheiro para um orfanato; use seu domingo para prestar
serviços gratuitos para um asilo; desenvolva ações filantrópicas diversas. Enfim,
não queira financiar o Estado para que ele preste auxílio: faça você mesmo.
Aliás, essa menor intervenção estatal é fundamental pelo simples motivo
de que há pessoas desonestas tanto entre os políticos de esquerda quanto entre
os de direita – e justamente por isso é salutar que essas pessoas não possuam
poder de causar muito impacto em nossas vidas com suas atitudes. Vamos de
Milton Friedman uma vez mais: “O poder para fazer coisas certas é também poder
para fazer coisas erradas; os que controlam o poder hoje podem não ser os
mesmos de amanhã”.
Ainda nesse sentido, menos governo e mais iniciativa privada significam
mais “boas ações”. Ou você não é grato ao padeiro que acorda cedo todo dia para
fazer pão para as pessoas do seu bairro, ou ao açougueiro que prepara a carne
para seu churrasco com seus amigos? Ah, mas eles não pretendiam ajudar ninguém,
queriam apenas lucro, os gananciosos. Pois é…
E se você achou estranho um fórum nos Estados Unidos com esse tipo de
tópico, provavelmente também ficaria surpreso em saber que a esquerda avança a
passos muito largos naquele país. Bernie Sanders, quase um Che Guevara de
cabelos brancos e sem boina, é que não deve ter ficado surpreso com tanto apoio
recebido nas prévias do partido Democrata. Não tem jeito: uma população com
tanta “elite culpada” é um prato cheio para os “progressistas” (palavra que não
me conformo ter sido colada pela esquerda).
Um dia desses, no seriado Mom, vi uma cena muito elucidativa. A mãe
fala para a filha, fingindo muita emoção: “Vá e dance como se ninguém estivesse
olhando; viva como se não houvesse amanhã; ame sem limites; e na volta,
traga-me um balde de frango frito, extra crocante”. É por aí mesmo: é bacana se
deixar levar pelos instintos às vezes, mas bom mesmo é poder viver nossas vidinhas,
assistir TV com a família e dar comida para o cachorro.
Reze agradecendo a Deus todo dia o fato de que a maioria das pessoas
possui rotinas chatas e enfadonhas: são elas que garantem boa parte da
estabilidade do mundo moderno, além dos serviços e produtos que estão a nosso
alcance. Que bom que os caixas do supermercado hoje não saíram dançando na rua
como se não houvesse amanhã, senão eu teria ficado sem leite. Pode ser coisa da
minha cabeça, mas eu me sinto grato apenas por acordar vivo todo dia. Não
precisa muito mais, não. E se eu quiser mais, vou correr atrás.”
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