Por William Waack
O governo Bolsonaro está sendo obrigado a pensar em gastar –
além dos limites legais, obviamente. A equipe econômica acredita, acompanhada
por importantes segmentos da economia, que a agenda de concessões,
desburocratização, melhoria do ambiente de negócios e desregulamentação trará
crescimento num horizonte de médio prazo. O problema é o que fazer até lá, pois
economia andando devagar, renda familiar comprimida e desemprego persistente
nunca trouxeram dividendos políticos a governo algum.
Esse é o pano de fundo das conversas já em tom alto de voz
para levar ao Legislativo propostas que flexibilizem de alguma forma as
restrições impostas pelo teto dos gastos públicos, aprovado sob Temer. “Pela
primeira vez estou escutando com insistência amigos dizendo que a PEC do teto
dos gastos é muito dura, está inviabilizando o setor público”, admitiu o
competente secretário do Tesouro, Mansueto Almeida. E fuzilou: “A realidade dos
fatos é que a gente tem um país que tributa muito, gasta muito, não tem capacidade
de investimento e ainda tem ajuste fiscal a ser feito”.
O muro com o qual Paulo Guedes e sua equipe se chocaram é
formidável e impõe consequências políticas. Por causa da limitação do teto, os
gastos obrigatórios (saúde, educação, aposentadorias) corrigidos pela inflação
aumentam todo ano, enquanto os discricionários (“livres”) diminuem todo ano. É
a tal da “matemática” à qual se referiu o presidente. Ministérios já estão
parando, sufocados por contingenciamento de verbas, o mesmo acontecendo com
programas que vão do Minha Casa Minha Vida ao combate a queimadas na Amazônia.
Esse é o pano de fundo também da insistente conversa sobre
um novo pacto federativo, que Guedes tem oferecido aos governadores nos seguintes
termos (simplificados): vocês nos ajudam a desindexar no Legislativo despesas e
a desengessar o Orçamento, nós ajudamos vocês a melhorar a situação fiscal já
no curto prazo com divisão mais favorável da arrecadação obtida com leilões do
pré-sal, além de repasses diversos como fundos para educação, entre outros. A
aprovação da cessão onerosa no Senado (com a qual o governo espera arrecadar
mais de R$ 100 bilhões, dos quais R$ 21 bilhões vão para Estados e municípios)
foi parte relevante dessa negociação.
O tal “pacto” tem sido visto por algumas agências de
classificação de risco e por economistas com certo ceticismo. Por um motivo
principal: o tamanho da bomba fiscal que paira sobre os Estados e, por
consequência, sobre a própria União. De fato, os governadores não poderão
gastar o dinheiro do megaleilão do pré-sal com itens como pagamento de pessoal
ou custeio da máquina administrativa. Mas eles têm recebido poucos “incentivos”
para proceder os ajustes fiscais.
Ao tal “novo pacto federativo” está ligada a reforma
tributária, à qual alguns governadores associaram a falsa esperança de melhoria
de arrecadação (enquanto o público em geral está confundindo simplificação
tributária com redução de carga tributária, perigoso engano). Ao contrário, vai
piorar para alguns, e não dá para reduzir impostos diante do tamanho dos gastos
sociais no País – simples assim.
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