“Em Brasília,
shows de irresponsabilidade fiscal
POR ROBERTO MACEDO
Estão em
péssima situação as contas do governo central (GC). Ele abrange o governo
federal, o INSS e o Banco Central, e só este escapa dessa avaliação. Mais uma
vez mostrarei e realçarei números que mostram essa triste realidade, na
esperança de medidas em contrário.
Em 2017 as
despesas primárias do GC, que excluem os juros da dívida pública, superaram sua
receita em R$ 118.442.000.000,00 (!), ou 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB),
resultado conhecido como déficit primário. A conta dos juros foi de R$
340.907.000.000,00 (!!), ou 5,2% do PIB. Somando esses dois buracos, o
resultado, final ou nominal, foi um déficit de R$ 459.349.000.000,00 (!!!), ou
7% do PIB, que se acresceu à enorme e rapidamente crescente dívida pública
federal. A continuar, este rumo acabará levando a consequências nefastas, como
dificuldades para rolá-la ou seu pagamento ou serviço por emissão de moeda,
gerando inflação e socializando um imenso prejuízo.
“Exames de
laboratórios financeiros”, baseados em parâmetros de boa saúde de contas
públicas, internacionalmente tidos como desejáveis, indicam que o resultado
primário deve ser positivo, para pagar ao menos uma parte dos juros da dívida,
e que um déficit nominal ou final não passa pelo exame se exceder 3% do PIB.
Portanto,
conclui-se que o GC brasileiro não só é mau gestor, como devedor de alto risco.
Os municípios e os Estados também enfrentam dificuldades orçamentárias
seriíssimas, que não abordarei aqui por falta de espaço. Mas eles têm limites
para seu endividamento, o que segura o tamanho do desastre, no seu conjunto
menor que o do GC – este, além de ser maior, não tem um limite dessa natureza.
E mais: o GC é
uma instituição conduzida por pessoas, com destaque para os membros da classe
política que chegam ao poder. Houve várias outras crises orçamentárias no
passado, mas a atual, iniciada no final de 2014 e que se destaca por sua imensa
gravidade, veio de desastrosa condução pela ex-presidente Dilma. E ela continua
por aí, ameaçando se candidatar em Minas Gerais nas próximas eleições. Sou
mineiro e, se ela for eleita, para enfrentar eventuais provocações portarei
comigo a prova de que votei em São Paulo.
Não bastasse a
péssima situação financeira até aqui descrita, a imprensa vem noticiando que em
Brasília estão em exame ou já foram aprovadas várias medidas conhecidas como
pauta-bomba, de danos adicionais às contas do GC.
Assim, na
quinta-feira este jornal publicou lista de dez projetos já aprovados ou em
andamento no Congresso, oito dos quais totalizando R$ 102,3 bilhões de gastos
adicionais, o que quase dobraria o valor do já referido e inadequado déficit
primário e ampliaria também o nominal e o endividamento. Dois projetos ainda
não tinham disponíveis estimativas de seu custo.
Citarei dois de
maior valor entre os aprovados e dois entre os ainda em andamento. No primeiro
grupo, o refinanciamento de dívidas tributárias de empresas do Simples (R$ 7,8
bilhões) e de dívidas do Funrural (R$ 13 bilhões). No segundo, uma compensação
aos Estados pela desoneração do ICMS em exportações (R$ 39 bilhões) e
benefícios fiscais para transportadoras (R$ 27 bilhões).
Isso não
bastasse, a discussão do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para
2019, enviado pelo Executivo ao Congresso Nacional e nele aprovado na noite do
dia 12, acabou desvirtuando a proposta original ao ser examinada por
parlamentares sabotadores. Em particular, o Executivo havia proposto que não
haveria reajuste salarial para servidores públicos federais no próximo ano, o
que foi excluído da versão aprovada. Isso por pressões de funcionários em
manifestações fora do Congresso ou atuantes nos gabinetes dos próprios
parlamentares, pondo-os a seu serviço.
Conforme o
jornal Valor de sexta-feira (13/7), até a presidente do Supremo Tribunal
Federal, ministra Cármen Lúcia, pressionou nesse sentido. Ela enviou ao
Legislativo uma nota técnica contrária a dois aspectos do projeto da LDO, o que
proibia os reajustes salariais em 2019 e outro, que estabelecia redução do
custeio administrativo, como ao vedar o provimento de cargos vagos.
Mas o que fazia
o Executivo na votação da LDO? A equipe econômica estava evidentemente a favor
da proposta enviada ao Congresso, mas o próprio líder do governo no Senado,
Romero Jucá, segundo notícia no site deste jornal no dia 11, tentou derrubar a
vedação ao reajuste salarial ainda na comissão que examinava o assunto. Segundo
a citada matéria do jornal Valor, o Executivo nem sequer tentou mobilizar sua
base aliada e deixou o Congresso livre para “(...) aprovar o que quisesse às
vésperas da eleição”. Como força política capaz de atuar pelo ajuste fiscal, o
governo Temer sumiu do mapa.
O governo
certamente tentará desarmar pelo menos algumas dessas bombas. Uma estratégia,
segundo a secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, em
entrevista à Folha de S.Paulo de 16/7, será recorrer a um dispositivo da Lei de
Responsabilidade Fiscal que determina que a cada projeto que gere perda de
arrecadação da União seja criada medida compensatória.
Não há como
realizar um efetivo ajuste de contas do GC com um presidente politicamente
fraco e um Congresso mais voltado para ampliar gastos e reduzir impostos do que
fazer o contrário. Um novo presidente será eleito e pode vir alguém com perfil
adequado. Mas tudo indica que a renovação do Congresso será pequena – e lá
predomina a vocação para pautas-bomba.
Penso que um
agravamento agudo da crise fiscal, a ponto de gerar péssimas consequências,
como as inicialmente citadas, poderia trazer soluções efetivas. Ou seja, uma
“crise aguda e terapêutica” que, de tão forte, levasse a ajuste fiscal
adequado.”
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AGD
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