“A globalização
da emoção
POR MERVAL
PEREIRA
Sobraram poucas
estrelas na Copa do Mundo a esta altura, e Neymar parece estar reencontrando
seu jogo, depois da cirurgia. Pode reafirmar sua condição de especial, e
comandar a renovação dos líderes do futebol, ao lado de Mbappé. Aliás, o ataque
do Paris Saint Germain marcou cinco gols até agora nas oitavas, dois de Mbappé,
dois de Cavani e um de Neymar, o que mostra que está a caminho de tornar-se um
dos grandes clubes do futebol globalizado.
Seria injusto
dizer que nessa Copa todo mundo “é japonês”, como se costumava, no tempo em que
o politicamente correto não cerceava o pensamento, para igualar situações ou
personagens, colocando-os no mesmo nível. Significava dizer que todos pareciam
iguais, o que incomoda hoje os asiáticos de maneira geral, e os japoneses em
particular.
Além do mais, a
seleção do Japão disputou uma partida espetacular contra a da Bélgica, que, por
sua vez, justificou a fama de ser uma das novidades do futebol mundial. Formada
por um grupo milionário de craques, como Lukaku (Manchester United), Hazard
(Chelsea) e De Bruyne (Manchester City), a seleção belga virou o jogo quando
perdia por 2 a 0, e não precisou da prorrogação ou dos penaltis para vencer,
mas o Japão mostrou que o futebol globalizado está chegando a um nível de
competição que iguala as seleções, capazes de juntar os seus melhores
espalhados pelo mundo.
A própria
seleção do Japão tem jogadores espalhados pelo mundo, embora nenhum em times de
ponta, e apenas 6 dos selecionados atuam no Japão. A partida de sexta-feira
entre Brasil e Bélgica certamente tem tudo para ser das melhores dessa edição
da Copa do Mundo, que está revelando uma competitividade há muito não vista,
especialmente porque os grandes times europeus, com dinheiro para comprar
diversos jogadores onde quer que apareçam, e cada vez mais cedo, ficaram muito
além de seus competidores locais.
Por isso Real
Madri e Barcelona dominam o campeonato espanhol, o Paris Saint Germain o
francês, o Bayern e o Borússia e assim por diante. A convivência entre
jogadores e a facilidade de transmissão dos mais importantes campeonatos do
mundo fazem circular as informações sobre esquemas de jogo, preparação física e
até psicológica, o que iguala por cima as competições internacionais.
Outra
característica do futebol internacional é a tatuagem. Mas não apenas dos
jogadores de futebol, mas de basquete e outros esportes coletivos. E também os
cortes de cabelo, uma especificidade do futebol. Não foi Neymar quem inventou
esses cabelos diferentes, até mesmo Ronaldo Fenômeno se destacou na Copa de
2002 com um corte a la Cebolinha, o personagem de Mauricio de Souza. E nesta
Copa, Messi e Cristiano Ronaldo apareceram com cortes de cabelo mudado de uma
partida para outra.
Há uma
explicação psicológica para esse tipo de procura de destaque, especialmente nos
esportes coletivos. Os jogadores querem se destacar do grupo não apenas por
suas qualidades técnicas, mas pelas características pessoais. Este é um
fenômeno recente, que combina com a era da tecnologia que levou para o mundo
comportamentos e manias que se transformam em símbolos, como modos de se
vestir, ambientes frequentados, amizades entre grandes ídolos de diversos
segmentos da indústria do entretenimento, namoros entre estrelas desse mundo,
como no Brasil o casal Brumar (Bruna Marquezine e Neymar). Ou o casamento do
jogador da seleção espanhola e do Barcelona Piqué com a cantora Shakira.
Com a saída de
seleções famosas e já campeãs do mundo, como a Argentina e a Alemanha, e de
ídolos como Messi e Cristiano Ronaldo, que parecem estar encerrando um ciclo de
dominação do mundo da bola que fez com que dividissem nos últimos dez anos o
título de melhores, o futebol globalizado parece estar entrando em uma nova
fase, com o surgimento de novos ídolos mesmo enquanto os antigos continuam em
atuação.
Fala-se na
saída de Cristiano Ronaldo e da chegada de Neymar no Real Madri. Mbappé surge
como uma promessa que pode até tirar a vez de Neymar como melhor do mundo - o
que não vai ser fácil, pois Neymar está recuperando o tempo de bola, o que é
essencial para sua maneira de jogar.
E a Copa do
Mundo está cada vez mais com um sabor político inesperado, com a surpreendente
seleção russa, que recupera a auto-estima a cada jogo, e colabora para o uso
ufanista da organização do governo Putin. Se levarmos em conta o passado da
FIFA, cujo presente ainda nada desmente, e o histórico do governo Putin, não é
desprezível a possibilidade de que a Seleção da Rússia chegue mais longe. E
quanto mais longe for, pode pegar a do Brasil.”
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AGD
comenta:
Bem,
como vocês viram, a escrita do imortal Merval Pereira não é de hoje. É do
início da semana, depois que o Brasil venceu a Sérvia, pois antes daquilo
ninguém poderia falar de Neymar em campo, quando ele passou todos os jogos caídos
no chão. Agora está caindo menos,
melhorando.
De
qualquer forma, eu faço este pequeno comentário, para colocar minhas dúvidas de
como certas inovações nesta cópia serão adaptadas no Brasil. Já pensaram como
funcionará o “árbitro de vídeo”, ou VAR, aqui no Brasil depois da Copa?
Será
que ele será implantado nos campos de Bom Conselho e do interior do país? Eu
não vejo como, exceto em algumas poucas cidades grandes. Eu não tenho ideia! Alguém
tem?
Enquanto meditamos sobre isto esperamos que este "árbitro" estranho não nos prejudique hoje, contra a Bélgica. Prá frente, Brasil!
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