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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Recordar é Viver - O Paraíso, as calcinhas de Eva e os economistas (14/01/2015)




Por Zezinho de Caetés

Transcrevo um texto, logo abaixo, que me lembrou muito de minhas aulas de Economia, quando tentei complementar minha formação, mexendo em algo de que falavam mais neste país do que da minha formação anterior em línguas neolatinas. O português é uma delas, mas, é tão desprezado, o coitadinho.

Eu pensei, ao entrar no curso, que estudando economia eu iria aprender como ganhar dinheiro ou, pelo menos, lidar com ele. Vi-me como um investidor nas bolsas de valores gritando com a animação que via por lá. Hoje, é claro, não desejaria ser comprador de ações da Petrobrás, por motivos óbvios. Embora quando o valore delas chegar a zero, e forem doadas, eu pego algumas para colocar no meu colchão que está duro “prá chuchu”.

Depois, aprendi que a Economia é a mais indigesta ciência que existe porque ela trata do que é “escasso”. Lembrei do Paraíso bíblico de que fala o texto abaixo (Publicado no Opinião e Notícias de 12/01/2015, com o título de “Adão, Eva e o primeiro economista”, por Paulo Gurgel Valente), no qual não havia falta de nada. Se Adão queria comida, a comida aparecia. Se Eva queria um vestido novo, o vestido aparecia, e assim sucessivamente. É óbvio que eles não precisariam de alguém que entendesse de “escassez”. Mas, existiam as escolhas livres e com custo zero. Se Eva gostasse de biquines fio dental e não de algo mais composto, só tinha mesmo que dar satisfação a Adão e a mais ninguém. Eles simplesmente apareciam, depois da escolha feita. Afinal de contas o lugar era um Paraíso.

Quando Deus criou o mundo disse às suas primeiras criaturas, Adão e Eva, que eles tinham direito a tudo, tudo mesmo, com exceção de comer um determinado fruto, para o qual Moisés, quando escreveu o Gênese, disse que era uma Maçã. Este seria o fruto proibido. E por que ele era proibido, se eles podiam comê-lo quando quisessem? Por um motivo muito simples. Deus criou um custo para que eles comessem a Maçã. Então eles não poderiam  mais a escolher livremente para lanchar. E este custo, como se viu, era enorme. Custaria o Paraíso inteiro. Foi aí que surgiu o primeiro economista, que em forma de serpente, aconselhava tanto Adão quanto Eva e seus filhos, que também viviam de tripa forra.

Certo dia, indagado por Adão, por que o fruto proibido não poderia ser comido, o economista lhe disse:

- Olha Adão, não há nada proibido aqui, desde que você pague o que custa.

Adão disse:

- Como assim?

E aí o economista, que mesmo naquela época, tal qual o Mantega, hoje, já era matreiro e queria era não perder o emprego, respondeu:

- Adão, deixa de ser besta, o que vale um paraíso sem amor?! A maçã é tão gostosa, tão gostosa, que vale qualquer custo. Vai lá rapaz, tira uma e come!

O Adão caiu na conversa da serpente, digo do economista, e comeu do fruto proibido. E, pior, chamou a Eva e disse, eu não disse Eva que não havia nada demais?! E Eva também gostou daquilo. No mesmo momento, mesmo antes de descansar da atividade em comer o fruto, a Eva alegre que só pinto em cocô, que nem existia naquela época, porque no Paraíso não tinha cocô, disse logo que queria uma calcinha nova. E foi aí onde ela sentiu o custo da farra.

Foi Deus que apareceu e disse:

- Eva, uma calcinha custa R$ 30,00. Você tem?

E foi além dizendo:

- Agora vocês não terão mais o paraíso e terão que ganhar o pão com o suor dos seus rostos. Vocês foram na onda do economista, digo, da serpente, e quebraram a cara.

E o restante da história todos sabemos. A escassez começou a ser uma realidade e todos tinham que trabalhar para sobreviver ou mesmo comprar calcinhas. E é neste mundo de escassez onde atuam as serpentes, digo, economistas, que se multiplicaram como coelhos, e hoje habitam toda a face da terra. E os homens e mulheres não podem passar sem eles. Os governantes, então....

Voltando ao nosso presente, o Lula encontrou o Brasil em ordem, ao ponto de querer transformá-lo num paraíso. Durante os primeiros anos de governo, ao manter a serpente Palloci, sua meta era que todos os pobres comessem pelo menos três vezes por dia. E quase conseguiu, embora tenha esquecido de que tínhamos sido expulsos do paraíso muito tempo atrás e que havia “escassez”. Mas, ele queria ganhar as eleições a todo custo e tentou burlar a grande regra de que todos temos que ganhar o pão com o suor do nosso rosto. Foi aí que começou o problema.

E hoje, tendo como resultado inflação e baixo crescimento, que nada mais é do que o salário do Adão não dando mais para comprar calcinhas para Eva e mesmo nem cuecas para ele, só restou à sua sucessora, que dizia estar ainda no paraíso para ganhar as eleições, tendo-as ganho, voltar à realidade. Sobrou agora para a serpente, digo economista, Levy, o Risonho, tentar restaurar o paraíso perdido pela desobediência de Lula e Dilma às leis de Deus, digo, Mercado.

Depois disto, continuem lendo mais uma lenda sobre os primeiros economistas, esperando não ter usado o nome de Deus em vão.

“Alguns filósofos estabeleceram um princípio simples para entender a diferença entre o Bem e o Mal. “Fazer o bem” poderia ser definido pelos atos do indivíduo em ocupar-se com o outro, seu semelhante, e a coletividade, em sentido amplo. Já o Mal seria caracterizado por voltar-se exclusivamente a si próprio, desprezando o desejo do outro.

Desta forma, poderíamos apressadamente discriminar como diagrama paralelo as duas grandes divisões de pensamento político e econômico, aquela ligada ao Socialismo, que implicaria em fazer o Bem aos outros pela distribuição uniforme de riquezas, mas geralmente associado a um regime totalitário, sem liberdades individuais, e a Democracia combinada com a livre iniciativa pessoal e empresarial e de pensamento (ou regime capitalista, designação que já denota um juízo de valor). A definição quanto ao direito de propriedade dos bens de produção (terra, tecnologia, trabalho e capital) seria coletiva, no primeiro caso ou individual, na segunda opção.

O que têm a ver esses conceitos com a conjuntura política e econômica do Brasil? No momento em que o economista que assume o Ministério da Fazenda vem sendo parcialmente rejeitado pela opinião pública por ser ortodoxo, retorna-se à pergunta se a Aritmética pode ou não ter uma conotação ideológica. Os temas atuais são tão dramáticos, pela enorme desordem econômica e alvoroço pela corrupção sistêmica nas empresas estatais, que nos remetem a algumas imagens bíblicas.

Digamos que, logo depois de instalar Adão e Eva no Paraíso, Deus teria criado o Primeiro Economista. Este olhou em torno e viu que estava tudo por fazer, de modo que abrindo uma planilha Excel no seu notebook, começou a simular um sistema econômico que ordenasse a presente e futura administração dos bens e serviços públicos. Assim, tentou equacionar o que seriam as receitas e despesas da administração pública, e como observou que as necessidades de investimento e custeio eram maiores do que as receitas resolveu endividar-se, pensando que no futuro um acréscimo de receitas poderia pagar este endividamento.

Fazendo um fast forward para os princípios do sistema bancário inglês, os banqueiros denominam os financiamentos como adiantamentos (advances); “Mas adiantamentos de quê?” perguntaria o leitor que ainda está acordado. Seriam adiantamentos de receitas futuras, não há outra forma de imaginar a solução para o pagamento de um empréstimo.

Voltando ao tema bíblico, imaginem o que seria se este Economista chegasse ao cenário de Sodoma e Gomorra, terras arrasadas por incêndios, destruição, peste e outros tantos dramas, tal como se observa nos escombros que o governo passado (?) nos deixou. Este Economista, ao contrário da organização do Paraíso, teria que lidar com todos estes desequilíbrios que recebeu como herança, como déficit público, endividamento crescente, déficit na balança comercial, inflação elevada, taxas de câmbio desalinhadas e grande corrupção que está ligada aos problemas descritos, e não organizar do início uma economia ideal a partir do Paraíso.

Entender a tarefa do atual Ministro da Fazenda como ideológica é ignorar que: (1) não é possível gerar um déficit fiscal (receitas menores que despesas) crescente e com isso aumentar indefinidamente o endividamento; (2) a inflação precisa ser controlada, pois ninguém poupa e investe na incerteza e investimento é imprescindível para gerar renda e emprego; (3) o excesso de importações sobre as exportações pode estrangular nosso saldo de divisas e comprometer os pagamentos ao exterior que são necessários.

“Por que não?”, poderia perguntar um economista ingênuo, lembrando das lições da UNICAMP que o melhor é “ir para cima e depois as coisas se acertam sozinhas, o crescimento cuida de tudo”. Ocorre que todo devedor, por definição, precisa de um credor, como o governo endividado na moeda nacional ou em divisas, de modo que os dois não conseguem conviver se o credor duvidar da capacidade ou intenção de pagamento do devedor. Isso tudo infelizmente não é teoria, porém a mais comum experiência de tantos países que ficaram insolventes, como no presente a Argentina, Venezuela e Grécia e, no passado, tantos outros que não caberia citar no limite do presente artigo, inclusive nosso próprio país.


O Ministro da Fazenda, tal como o manobrista de carro, orienta nossa Motorista Maior com a expressão “vai bater” (omitindo a longa explicação de que “vai bater se a Motorista continuar sem mudança de curso”). Imaginar, portanto, que o novo Ministro da Fazenda teria alguma alternativa que não fosse respeitar a Aritmética é pensar que seja possível esperar por um novo milagre da multiplicação dos pães e peixes.”

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